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Dorothy Forstein e o comportamento atípico de sua família

Em 25 de janeiro de 1949, ocorreu um desaparecimento trágico e misterioso na cidade da Filadélfia. Como todos vocês sabem, foi o meu interesse em histórias estranhas e não resolvidas, principalmente desaparecimentos inexplicáveis, que me levou a criar esse blog. O caso de Dorothy Forstein está no meu top 10 de casos intrigantes, não só pela forma como tudo ocorreu, mas também pelo grande esforço e interesse da família de tirar o caso e o nome de Dorothy da mídia em menos de uma semana do desaparecimento. O que vai de encontro a todos os outros casos que eu já pesquisei, tanto os já publicados, como os que ainda virão pela frente. Todas as famílias de pessoas desaparecidas que eu já conheci e entrevistei se esforçam para manter o desaparecimento de seus entes queridos na mídia e imploram por pistas até hoje. Mesmo com esse bloqueio de informações por parte da família de Dorothy, existem detalhes que foram divulgados naquela primeira semana que são bem estranhos e tentadores o suficiente para me fazer entrar de cabeça nessa história.
Dorothy na juventude
Fonte: Pensnylvania Missing
Dorothy Forstein se casou em 1940 com seu crush de infância, Jules Forstein, que na época trabalhava como funcionário da Câmara Municipal da Filadélfia. Ela era uma jovem feliz e extrovertida e tornou-se uma mãe dedicada para as duas filhas do primeiro casamento de Jules, Marcy e Merna. A esposa de Jules morreu no parto de Marcy pouco antes de ele e Dorothy se reencontrarem. O casamento deles parecia feliz e a vida profissional de Jules começou a prosperar quando ele se tornou juiz em 1943. O filho do casal, Edward, nasceu pouco tempo depois.
Jules Forstein
Fonte: The Line Up
A vida calma, feliz e tranquila dos Forstein foi destruída em 25 de janeiro de 1944. Dorothy deixou as crianças com os vizinhos e saiu para fazer compras. Ela brincou com o açougueiro e conversou com amigos enquanto fazia suas compras e resolvia outras coisas. Mais tarde, sua vizinha a viu voltar para casa e pensou que alguém estava com ela, ou andando atrás dela, enquanto ela caminhava até a porta da frente. Estava escurecendo e a vizinha Maria Townley admitiu que não olhou atentamente para o homem que estava atrás dela. Era um bairro seguro e ela nunca imaginou que Dorothy pudesse ter algum problema.
A casa dos Forstein
Fonte: Good Housekeeping
No momento em que Dorothy estava entrando em sua casa, o estranho – ou quem quer que fosse que a sra. Townley viu – saltou da escuridão para ataca-la. Ele começou a bater nela com os punhos e com algum objeto maciço. Dorothy caiu no chão e apanhou até ficar inconsciente. A sorte dela foi que enquanto ela apanhou foi sendo empurrada para dentro de casa e seu braço bateu no telefone que ficava no hall de entrada e o tirou do gancho. Naquela época os telefones ainda precisavam de operadores para fazer as ligações, e o operador outro lado da linha ouviu a comoção e rapidamente chamou a polícia. O atacante fugiu ao som de sirenes se aproximando.
Os policiais chegaram momentos depois e encontraram uma Dorothy surrada e desmaiada no chão do hall. Ela teve a mandíbula e o nariz quebrados, um ombro fraturado e uma concussão cerebral. Ela foi levada às pressas para o hospital e, quando acordou, só conseguiu explicar fracamente que “alguém pulou em cima de mim. Eu não conseguia ver quem era. Ele apenas me bateu e me bateu”.
Dorothy já mais velha, após sofres os ataques
Fonte: Good Housekeeping
Os investigadores classificaram o ataque como uma tentativa de assassinato e o capitão James A. Kelly, da Divisão de Homicídios da Filadélfia, começou a tentar juntar as peças. Ele chegou a essa conclusão de que só poderia se tratar de uma tentativa de homicídio porque nenhum dinheiro, joia ou qualquer outra coisa havia sido levada da casa. O próprio Jules Forstein foi investigado, mas tinha um álibi sólido e as crianças eram pequenas demais para terem algo a ver com o ataque. O caso se complicou um pouco pelo fato de Dorothy não ter inimigos declarados e por ser uma das moradoras mais queridas do bairro. A teoria que mais fazia sentido para os investigadores era que o atacante deveria ter sido alguém que compareceu no tribunal perante o juiz Jules e agrediu Dorothy por rancor ou vingança. Todas as pistas possíveis foram investigadas, mas nenhuma prisão foi feita.

 

Dorothy se recuperou dos ferimentos, mas ficou tão abalada com o incidente que nunca mais foi a mesma. Sua personalidade feliz e despreocupada se foi, sendo substituída por uma pessoa ansiosa, nervosa e abatida, pulando a cada barulho que ouvia na casa e verificando as fechaduras das portas e janelas o tempo todo. Ela tinha certeza de que alguém estava procurando ela – mas quem?

 

Jules Forstein ficou perplexo com o ataque. Ele tinha certeza de que ninguém com quem ele teve contato como juiz ficou com rancor o suficiente para ferir sua esposa ou sua família, e, no entanto, ele não conseguia explicar o ataque a Dorothy. Ele raramente deixava a esposa e os filhos sozinhos, mas na noite de 18 de outubro de 1949, ele fez planos para participar de um jantar político. Ao sair do escritório, ligou para a esposa para checar se ela estava bem e avisar que ele não planejava chegar muito tarde em casa.

 

Dorothy respondeu que estava tudo bem em casa e ela brincou com ele por um momento, se parecendo mais com seu antigo eu. “Prometa que vai sentir minha falta!”, ela disse no momento em que desligou. Tragicamente, suas palavras acabaram sendo proféticas.

 

Por volta das 23:30h, Jules chegou em casa e logo percebeu gemidos e choro vindo do quarto de seus dois filhos mais novos, Edward e Marcy. Eles estavam abraçados no chão no cantinho do quarto, chorando e gritando. A irmã deles, Merna, estava na casa de uma amiga e Dorothy não foi encontrada em lugar algum. Jules logo descobriu que as crianças estavam chorando porque a mãe havia sumido.

 

Embora surpreso por ela ter deixado as crianças em casa sozinhas, Jules supôs que Dorothy tivesse saído para visitar amigos ou vizinhos. Ele passou muito tempo telefonando para várias pessoas, mas ninguém a viu. Finalmente, ele ligou para o policial James Kelly novamente e o detetive logo determinou que seus homens começassem a verificar hospitais, necrotérios e hotéis em toda a Filadélfia. Eles trabalharam freneticamente, mas nenhuma pista foi descoberta. James foi de porta em porta na vizinhança, mas ninguém viu nada incomum. Onde quer que estivesse, Dorothy havia deixado sua bolsa, dinheiro e chaves em casa. A porta da frente da casa estava trancada.
Filadélfia nos anos 1940
Fonte: Pennsylvania State Archives via ExplorePAHistory.com
A única pista veio de Marcy Forstein, de nove anos, mas sua história era tão bizarra que os detetives a descartaram achando que era somente fruto da imaginação assustada e hiperativa de uma criança. Ela disse ao capitão James que tinha sido acordada por um barulho e resolveu levantar para ver o que estava acontecendo, e quando abriu a porta do quarto havia um homem subindo as escadas. Ele entrou no quarto da mãe dela. A porta estava aberta e Marcy afirmou que podia ver Dorothy deitada de bruços no tapete. “Ela parecia doente”, a menina afirmou.

 

Então, o homem, que ela descreveu usando um chapéu marrom e uma jaqueta marrom com algo saindo do bolso, pegou sua mãe e a colocou por cima do ombro. Dorothy usava pijama de seda vermelho e chinelos vermelhos. Marcy perguntou ao homem o que ele estava fazendo. Ele deu um tapinha na cabeça dela e respondeu: “Volte a dormir, pequena, sua mãe estava doente, mas ela vai ficar bem agora.”

 

O homem levou Dorothy escada abaixo e pela porta da frente. Ele trancou a porta atrás de si e desapareceu. Marcy acordou o irmão e eles esperaram juntos pelo pai, que chegou em casa cerca de quinze minutos depois. A garotinha disse aos detetives que nunca tinha visto o homem antes e não tinha ideia de quem ele era.
Marcy Forstein nos fim da década de 1950 e na década de 1990
Fonte: Germantown High School website
Por mais bizarra que parecesse a história, era a única explicação possível que a polícia tinha para o desaparecimento de Dorothy. Nada foi revirado ou levado da casa. Não havia sinal de luta nem indicação de que alguém tivesse estado lá. Não havia uma única impressão digital na casa que não pertencesse aos moradores e os investigadores se perguntaram como um homem poderia ter andado pela rua com uma mulher de pijama por cima do ombro sem que alguém notasse. E como ele entrou na casa trancada? Parecia impossível que a história da garota pudesse ser verdadeira e, no entanto, tinha que ser. Se ninguém levou Dorothy embora, para onde ela foi? Se ela saiu por conta própria, por que não levou a bolsa e as chaves? 

 

Dorothy Forstein nunca mais foi vista. Não havia pistas, suspeitos e explicações sobre quem a teria levado ou por quê. Jornais em todo o país, especialmente na Filadélfia, traziam histórias sobre seu desaparecimento e possível sequestro e, no final de outubro (cerca de uma semana após o desaparecimento), a história simplesmente desapareceu da mídia, como se tivesse sido varrida para debaixo do tapete. Dorothy se foi sem deixar vestígios.
Primeira matéria sobre o desaparecimento
Fonte: Newspapers.com
Durante décadas, nenhuma palavra a respeito de Dorothy Forstein apareceu na imprensa. Então, em 2003, um jornalista chamado Troy Taylor publicou sobre o caso do desaparecimento de Dorothy em seu site e logo depois recebeu uma carta de um advogado da família Forstein perguntando se a história poderia ser removida do site. A carta não era ameaçadora. Simplesmente fazia um apelo pela privacidade dos membros da família e perguntava se Troy consideraria remover seu artigo da Internet por consideração à tristeza deles. Ele concordou em fazê-lo e mais tarde soube que vários sites que reproduziram o artigo também haviam recebido uma carta semelhante.

 

Por que tanto segredo em torno de um desaparecimento que aconteceu há cinquenta anos? Ninguém além da própria família poderia responder, e até hoje ninguém fala sobre esse assunto. Na internet mesmo é difícil encontrar informações sobre esse caso. Depois de todos esses anos, a atenção e energia dispensadas em 2003 para tirar do ar um artigo escrito em um blog de um jornalista (tipo esse aqui) ao caso da dona-de-casa desaparecida são quase tão misteriosas quanto a desaparição original de Dorothy. Por que alguém iria querer suprimir essa história depois de tantas décadas? Existe algum tipo de encobrimento, e se sim, por quê? É difícil dizer, mas se este artigo desaparecer repentinamente, vocês já sabem o motivo.

 

Essa história por algum motivo me lembrou muito um filme do Alfred Hitchcok chamado “Disque M para matar”. Se você nunca viu, eu recomendo que assista. É um dos grandes clássicos do mestre do suspense com uma atuação excepcional da Grace Kelly. E se você já viu, aposto que também deve ter tido uma leve lembrança desse filme. Esse caso se parece em alguns aspectos com a história do filme, se na história o plano do Tony Wendice tivesse dado certo. O álibi incontestável, a ligação, a chave, o estranho… Seria Jules Forstein um Tony Wendice com um plano mais bem elaborado, e que deu certo? Acho que nunca saberemos…
Fonte: Adoro Cinema

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