Abby e Libby – as adolescentes corajosas que filmaram seu assassino

Em 13 de fevereiro de 2017, duas meninas da pequena cidade de Delphi, Indiana, decidiram dar um passeio por uma das trilhas históricas da região. Elas foram assassinadas, mas antes disso conseguiram capturar áudio e vídeo de seu provável algoz. No entanto, quatro anos depois, os homicídios permanecem sem solução e o homem permanece não identificado.

Delphi, Indiana

É bom começar te dando um panorama geral sobre a cidade e a região. Delphi é uma pequena cidade no estado de Indiana, que fica no meio do caminho entre Indianápolis e Chicago. Embora Delphi tenha uma população incrivelmente pequena (menos de 3.000 pessoas), cerca de 250 mil pessoas vivem na região definida como Área Metropolitana de Lafayette. Portanto, embora a própria Delphi tenha a reputação de ser uma cidadezinha onde todo mundo se conhece, ela é parte de uma rede maior, conectada a dezenas de outras cidades e vilas.

As vítimas

Liberty Rose German nasceu em 27 de dezembro de 2002, filha de Derrick e Carrie. Ela tinha quatro irmãs – Kelsi, Glenna, Alexis e Hayden – e era muito próxima de seus avós, Mike e Betty, que eram seus tutores. Libby era uma jovem incrivelmente inteligente que tirava boas notas e estava constantemente lutando para ser a melhor aluna em cada uma de suas aulas. Ela também amava o ar livre e o atletismo, e praticava vôlei, softball, futebol e natação.

Libby estudava na Delphi Community Middle School e estava na 8ª série. Ela havia recentemente comemorado seu 14º aniversário, antes de sua melhor amiga, Abby, de quem ela era inseparável.

Abigail Joyce Williams nasceu em 23 de junho de 2003, filha de Anna Williams. Quem quer que fosse seu pai, ele não teve um papel ativo em sua vida, e Abby não tinha outros irmãos. Além de ter um forte vínculo com sua mãe, ela era próxima de seus avós, Eric e Diane, assim como de suas tias, tios e primos.

Abby também frequentava a Delphi Community Middle School e estava na mesma série que Libby. Além de tocar saxofone na banda da escola, ela também jogava no time de vôlei.

O desaparecimento

13 de fevereiro de 2017 foi uma segunda-feira em que a escola estava fechada, porque havia sido programada uma manutenção de inverno, que costuma ser muito rigoroso na região. Mas como o tempo estava anormalmente quente naquele mês, o dia 13 tornou-se apenas um dia de folga para alunos e professores.

Abby e Libby aproveitaram para fazer uma festa do pijama no domingo e na segunda de manhã resolveram fazer uma caminhada em das trilhas históricas da região. Elas queriam aproveitar o dia ao máximo e passar algumas horas ao ar livre.

Por volta das 13h45 daquela tarde, Abby e Libby foram deixadas no início de uma trilha por Kelsi, a irmã mais velha de Libby. A trilha em questão segue ao longo de uma antiga ferrovia abandonada. O caminho leva a uma velha ponte ferroviária e a um riacho chamado Deer Creek. Esta ponte – chamada de Monon High Bridge – tem cerca de 18 metros de altura e é a segunda ponte mais alta do estado.

Aproximadamente meia hora depois de serem deixadas na trilha, as duas garotas postaram algumas fotos no Snapchat. Uma das fotos era em preto e branco da própria ponte, enquanto outra – que seria amplamente divulgada poucas horas depois – mostrava Abby cruzando a ponte. Esta seria a última localização conhecida das meninas.

Cerca de uma hora depois que as fotos foram postadas, pouco após as 15h, o pai de Libby, Derrick, chegou para busca-las no local que eles haviam combinado. Alguns minutos antes de chegar, ele tentou ligar para o celular de Libby para que ela soubesse que ele estava quase lá. Libby não atendeu ao telefone e as meninas não apareceram.

Derrick continuou ligando para o celular de Libby, mas não houve resposta. Ele saiu do carro e começou a percorrer a trilha. Ao fazer isso, ele passou por um senhor idoso e perguntou se ele tinha visto duas meninas, e o homem disse que não. Uma breve busca aconteceu, com Derrick e alguns outros membros das duas famílias procurando pelas meninas ao longo da trilha, mas por volta das 17h30 foi tomada a decisão de relatar o desaparecimento à polícia.

As buscas

As meninas foram declaradas oficialmente desaparecidas pelo Xerife de Delphi, que enviou funcionários para começar a procurá-las. A busca pelas duas meninas – que se iniciou no início da noite – foi realizada por policiais da cidadezinha, pela polícia da área metropolitana, pelo corpo de bombeiros e por membros do departamento de parques e recursos naturais da cidade.

A busca durou várias horas, expandindo-se a partir do último local conhecido onde as meninas estiveram: a Monon High Bridge. Mas a escuridão fez com que a busca fosse cancelada pouco depois da meia noite, porque o terreno era perigoso e difícil de atravessar.

Naquele dia a polícia ainda não suspeitava que algum crime pudesse ter ocorrido. O xerife de Delphi, Tobe Leazenby, não acreditava que as meninas estivessem em perigo imediato e não achava que mais esforços – como emitir um Amber Alert – seriam necessários. A maior ameaça, ele considerou, eram os elementos.

A busca por Abby e Libby recomeçou na manhã seguinte. As equipes de busca se reuniram perto da Moon High Bridge por volta das dez horas, na esperança de expandir-se em direções diferentes e cobrir boa parte do terreno durante o dia. Isso incluiu unidades K-9 e equipes de mergulho especializadas, que começaram a procurar as meninas próximo ao riacho.

Esta busca durou apenas algumas horas, no entanto, uma vez que a descoberta de dois corpos foi feita por um grupo de três voluntários pouco depois do meio-dia. O chefe dos bombeiros chegou ao local logo depois, relatou a descoberta à polícia e a área foi isolada para que a perícia pudesse trabalhar.

No fim da tarde, uma breve coletiva de imprensa foi realizada com oficiais do Departamento de Polícia de Delphi, Polícia Metropolitana e Polícia do Estado de Indiana. Eles confirmaram que os corpos eram de Liberty German e Abigail Williams, mas a única informação revelada além disso foi que os corpos foram encontrados em um terreno pertencente a um homem chamado Ronald Logan, que a polícia acredita não ter nada a ver com o crime.

O homem da ponte

As autópsias foram realizadas, mas os resultados foram imediatamente selados. Apesar de a imprensa anunciar que as meninas haviam sido assassinadas, os investigadores se recusaram a divulgar detalhes específicos, como a causa da morte. O Sargento Kim Riley, da Polícia Estadual de Indiana, disse posteriormente à imprensa: “Há alguém lá fora que cometeu este crime e nós vamos encontrá-lo.”

Mais tarde, naquela mesma noite, a polícia divulgou a foto de um homem com quem queriam falar. O homem era alguém que havia caminhado na mesma trilha que as vítimas estavam; na verdade, a foto divulgada o mostrava caminhando no mesmo trecho da ponte que as duas garotas haviam fotografado e postado no Snapchat pouco antes de suas mortes.

A imagem desse homem tem uma qualidade bem ruim, porque (como ficou explicado depois) foi retirada de um vídeo. No entanto, com base nessa imagem, podemos perceber alguns detalhes desse indivíduo. Ele é um homem um pouco corpulento, que usava jeans, uma jaqueta azul marinho, um moletom por baixo da jaqueta e talvez um chapéu. Ele estava andando com a cabeça baixa e as mãos nos bolsos.

A polícia não nomeou oficialmente esse homem como suspeito, apenas uma “pessoa de interesse” com quem eles gostariam de falar. No entanto, isso mudaria vários dias depois – em 19 de fevereiro – quando ele foi oficialmente nomeado o principal suspeito da investigação.

A bravura das meninas

Após a divulgação desta imagem, as autoridades elogiaram Libby German, uma das duas vítimas, que conseguiu capturar vídeo e áudio deste homem, que segundo a polícia, havia abordado as meninas na trilha. Libby parecia saber que elas estavam sendo seguidas, suspeitou que estavam em perigo, e conseguiu coletar evidências caso algo acontecesse com elas.

Não se sabe se a polícia recuperou o telefone de Libby na cena do crime – ou se os arquivos foram retirados diretamente do backup da nuvem ao qual seu telefone estava ligado – mas seu raciocínio rápido deu à polícia a primeira pista real no caso. Na verdade, se este caso for resolvido, muitos atribuem a Libby German, de 14 anos, a ajuda preventiva para resolver seu próprio assassinato.

O Sargento Tony Slocum, da Polícia Estadual de Indiana, declarou: “Aquela jovem é uma heroína, sem dúvida. Para ter presença de espírito suficiente para ativar o sistema de vídeo em seu celular para registrar o que acreditamos ser um comportamento criminoso prestes a ocorrer, não há dúvida em nossa mente que ela é uma heroína.”

O vídeo não foi divulgado ao público naquela época. Além da imagem do homem, que foi tirada do vídeo, a polícia divulgou um pequeno áudio, que revela o homem dizendo às garotas “desçam a colina” (down the hill). Vou deixar você ouvir por si mesmo.

É amplamente aceito que esse clipe de áudio era o homem dizendo às meninas para descerem a colina no lado sudeste da ponte, onde ele provavelmente as seguiu e encurralou.

Acredita-se que Libby tenha gravado um segmento de vídeo bem longo, e muitos pensam que grande parte foi gravado com o telefone escondido (talvez no bolso de Libby ou algo parecido). É possível que esse segmento mais longo inclua vídeo ou áudio do próprio crime sendo cometido, motivo pelo qual os investigadores hesitam em divulgar detalhes sobre o que foi capturado ou gravado no telefone de Libby. Eles querem proteger não apenas a investigação, mas qualquer julgamento subsequente.

Esse sujeito desconhecido, que foi apelidado de “Bridge Guy” (o homem da ponte), foi declarado como suspeito do assassinato. Funcionários da Polícia Estadual de Indiana declararam: “Durante o curso da investigação, evidências preliminares levaram os investigadores a acreditar que a pessoa, na foto distribuída, é suspeita de ter participado dos assassinatos de Abigail Williams e Liberty German.”

Um retrato falado desse homem foi divulgado ao público meses depois, em junho de 2017. A polícia alegou que este esboço era o resultado de informações recebidas através da linha de denúncias, bem como informações adicionais obtidas por meio de investigações. Este foi o esboço amplamente divulgado após o crime.

As investigações

Como de costume, a investigação começou a examinar pessoas próximas às vítimas. Isso incluiu familiares e amigos, que normalmente são examinados no início de qualquer investigação. Nesse ínterim, outros investigadores começaram a examinar criminosos sexuais registrados na região; o que, por si só, não é uma indicação de que ocorreram crimes sexuais. Em vez disso, este é apenas o ponto de partida natural para qualquer investigação semelhante.

A polícia também procurou obter imagens de segurança de qualquer estabelecimento próximo, usando-as para identificar pessoas que estiveram perto da cena do crime no dia em questão. Também se acredita que os registros do telefone celular foram examinados, na tentativa de encontrar qualquer telefone celular que tenha sido ativado nas torres mais próximas ao local onde as meninas foram encontradas.

O Sargento Kim Riley, da Polícia Estadual de Indiana, declarou: “Estamos verificando telefones celulares, estamos verificando mídias sociais – Twitter, Facebook e outros – para ver se há algum tipo de conexão. Estamos examinando todas as opções possíveis. Todo mundo é um suspeito.”

Nas semanas seguintes, a polícia receberia literalmente milhares de dicas. A estimativa é de que até junho de 2017 – cerca de quatro meses depois – eles tenham recebido cerca de 18 mil dicas do público. Por causa desse fluxo de informações, as autoridades tiveram que recrutar a ajuda do FBI e da Segurança Interna, que ajudaram a configurar uma antena de comunicação especializada para lidar com o número esmagador de chamadas recebidas. Muitas dessas dicas foram encaminhadas para as centrais de atendimento do FBI, que ajudaram a lidar com o excesso de informações.

O FBI também providenciou analistas comportamentais que ajudaram a criar o perfil do suspeito. De acordo com o FBI, esse assassino era alguém que provavelmente mudou de comportamento em ou por volta de 13 de fevereiro de 2017. Alguns desses comportamentos podem ter incluído, mas não se limitaram a: um padrão de sono alterado, o possível abuso de drogas ou álcool, aumento da ansiedade ou irritabilidade, acompanhar o caso pela mídia e tendo conversas conspícuas sobre onde eles estavam quando o crime se desenrolou em 13 de fevereiro (talvez uma tentativa de consolidar um álibi com aqueles que conheciam).

A propriedade onde as mortes ocorreram

Ronald Logan – o residente de Delphi cuja propriedade os corpos das meninas foram encontrados – foi investigado pela polícia. Ron era um homem mais velho, que teve alguns desentendimentos com a lei no passado. Na época do assassinato, ele era dono dessa propriedade há mais de 50 anos e foi interrogado pela polícia várias vezes nas semanas seguintes. Foi descoberto que Ron havia levado uma carga de lixo para um lixão próximo no dia em que as meninas foram assassinadas. Para alguns investigadores, foi uma coincidência bizarra e, no mês seguinte, foi feita uma busca na propriedade. No entanto, a polícia considerou esta busca um “curso normal da investigação” e Ron foi posteriormente inocentado de qualquer envolvimento potencial.

Ronald deu uma entrevista à mídia, onde afirmou que a propriedade era difícil de atravessar, uma área densamente arborizada, muitas vezes cheia de caçadores e pescadores, que tinham dificuldade em caminhar com o equipamento, devido às inclinações e declives acentuados. Quando descreveu a distância entre sua propriedade e a ponte, onde as meninas provavelmente foram abordadas por seu assassino, ele afirmou: “Para eles irem de lá até aqui com aquele território acidentado que tiveram que caminhar, não dava para carregá-las em um milhão de anos, nem arrastá-las ou deixá-las cair. Elas tiveram que andar.”

Rumores locais

Uma suposta pista foi relatada por uma testemunha ocular no dia seguinte aos assassinatos. Claro que isso é só um boato que corre pela cidade, mas supostamente havia uma mulher perto da região do crime, que encontrou um jovem em uma caminhonete perto de uma das trilhas que leva à Monon High Bridge. Ela afirma que o veículo do jovem estava quebrado e ele se recusou a fazer contato visual com ela. Quando ela se aproximou, oferecendo ajuda, o jovem disse a ela que estava esperando seu pai buscá-lo. A testemunha foi embora, mas teria contado ao marido sobre o estranho encontro naquela noite. No dia seguinte – depois de saber sobre as duas meninas assassinadas não muito longe de onde ela estava – ela relatou o incidente à polícia.

Outro ponto de especulação em Delphi é uma fábrica de processamento de carne, que fica a cerca de 2,5 milhas de distância da Monon High Bridge. A fábrica emprega centenas – senão milhares – de jovens que podem ou não morar em Delphi, mas acabam se familiarizando com a região para trabalhar.

Aproximadamente uma semana após os assassinatos a polícia foi chamada ao local por conta de uma ameaça de bomba. Nessa batida policiais foram fotografados levando várias evidências: incluindo um par de botas, que muitos pensam ter alguma correlação com a investigação de assassinato em andamento. A polícia chamou a ameaça de bomba e a operação subsequente de “totalmente alheios à investigação de homicídio”, mas isso não impediu que os moradores da região – e os que acompanham o caso – especulem sem parar.

Os suspeitos

Daniel J. Nations

Em setembro de 2017 um homem foi preso em Woodland Park no Colorado porque estava ameaçando as pessoas com uma machadinha em uma trilha de caminhada, mais ou menos na mesma época em que um ciclista havia sido morto a tiros na mesma trilha.

Após sua prisão, soube-se que este homem, chamado Daniel J. Nations, de 31 anos, era um criminoso sexual registrado em Indiana que dirigia por aí com placas de carro vencidas. Ele passou a ser um morador de rua, tendo se mudado de Greenwood, Indiana em maio de 2017 – poucos meses após os assassinatos de Delphi.

Claro, essas circunstâncias pareciam estranhas para a polícia, que imediatamente começou a suspeitar que valeria a pena investigar a história desse homem. Eles começaram a explorar o homem como uma possível pessoa de interesse na investigação em andamento, e logo os oficiais do xerife do condado de El Paso – que haviam prendido o homem no Colorado – declararam que havia “muitas semelhanças” entre Daniel e o assassino ainda não identificado de Indiana.

Daniel foi forçado a se registrar como agressor sexual por causa de vários atos criminosos, incluindo um incidente de 2016 em que ele foi descoberto se masturbando em um banheiro feminino enquanto espiava mulheres. Ele teve vários desentendimentos com as forças da lei ao longo dos anos – incluindo crimes relacionados a drogas – e também tinha um histórico de violência doméstica.

Daniel também foi condenado por violência doméstica em Morgan County, Indiana. Sua esposa, Katelyn Nations, admitiu aos repórteres que seu marido tinha um problema de raiva, que realmente começou a se manifestar em janeiro de 2017 – um mês antes dos assassinatos de Delphi. Foi quando ele perdeu seu único membro remanescente da família, seu irmão, para um crime violento.

Quando questionada sobre se ele era ou não capaz de matar alguém, Katelyn respondeu: “Eu realmente não sei. Mas ele me assusta demais.” Katelyn também admitiu que Daniel se parecia muito com a imagem do retrato falado divulgado pela polícia em junho de 2017, mas hesitou ao responder se ela pensava ou não que ele era o responsável. Ela disse que Daniel morava a mais de uma hora de distância da cena do crime e não tinha veículo próprio para chegar lá. Ela também disse que ele não possuía as roupas do suposto assassino. Falando a repórteres do Gazette, ela afirmou: “Não sei dizer se foi ele ou não. Mas a única coisa de que eu tenho certeza é que ele não estava com aquela jaqueta, porque ele não tinha uma jaqueta como aquela.”

Após sua prisão por ameaçar pessoas com a machadinha no Colorado, Daniel Nations foi condenado a três anos de liberdade condicional. Em fevereiro de 2018 os investigadores afirmaram que Daniel não era mais considerado uma pessoa de interesse em sua investigação em andamento.

John Miller

John Miller era um homem de 59 anos que morava em Fort Wayne, Indiana – cerca de 160 quilômetros a sudoeste de Delphi. Descrito como um velho furioso e isolado por seus vizinhos, Miller era conhecido principalmente por seu comportamento rude.

Em julho de 2018 – mais de um ano após os assassinatos de Delphi – John foi preso por causa de um caso ocorrido 30 anos antes. O caso em si foi o assassinato de April Tinsley em 1988. April, uma menina de 8 anos, tinha desaparecido enquanto brincava com seus amigos. Dias depois, seu corpo foi descoberto – estrangulado e agredido sexualmente – e o assassino havia deixado várias pistas provocando a polícia.

O caso havia esfriado muitos anos antes, mas os avanços na tecnologia de DNA permitiram que os investigadores reduzissem o número de suspeitos. Isso acabou levando-os diretamente a John Miller, de 59 anos, que ainda vivia na região todos esses anos depois.

Após sua prisão, John confessou o crime aos investigadores e mais tarde se declarou culpado. Ele foi condenado a 80 anos de prisão, onde sem dúvida vai apodrecer até a morte.

Nos meses que se seguiram à sua prisão e confissão de culpa, John Miller se tornou um suspeito nos assassinatos de Delphi, já que ele morava a menos de duas horas da cena do crime e parece ter tido motivação para cometer crimes hediondos. Na verdade, em uma provocação à polícia em 1988, ele escreveu (com giz de cera) que mataria novamente.

A polícia tem sido intencionalmente vaga sobre esta ligação potencial, com o Sargento Kim Riley declarando, em resposta a uma pergunta sobre Miller: “Temos 1.000 nomes por aí e ainda estamos procurando por todos eles.”

Thomas Bruce

Em 19 de novembro de 2018 um homem entrou em uma loja da Catholic Supply. Lá, ele começou a agredir sexualmente duas mulheres, e quando uma terceira se recusou a cumprir suas exigências, ela foi baleada e morta. A descrição do culpado era incrivelmente semelhante à do homem registrado no telefone de Libby German. Ele foi descrito como sendo de meia-idade, medindo entre 1,70m e 1,80m de altura, e ele estava usando um chapéu, bem como uma jaqueta azul marinho. As semelhanças – até as roupas – eram impressionantes.

Em poucos dias, a polícia identificou um suspeito do tiroteio: um homem de 53 anos chamado Thomas Bruce. Ele era um veterano da Marinha dos Estados Unidos, um ávido defensor dos direitos do porte de armas e havia sido pastor entre 2003 e 2007. Desde então, ele parecia ter passado por tempos difíceis, tendo pedido falência em janeiro de 2017 – junto com sua esposa. Ele estava desempregado no momento da agressão sexual e do tiroteio e parecia vagamente com o suspeito dos assassinatos não resolvidos de Delphi.

Aproximadamente uma semana após o tiroteio na loja da Catholic Supply, Thomas foi processado por acusações de assassinato em primeiro grau, bem como acusações adicionais de sodomia, ação criminal armada, roubo e adulteração de evidências. Em 4 de dezembro de 2018, ele foi oficialmente acusado de 17 acusações criminais e, ainda mais tarde, implicado em outro crime em um condado vizinho.

Por causa dos processos judiciais em andamento, Thomas Bruce não foi condenado por nenhum desses crimes até o momento. Ele entrou com uma declaração de inocência das acusações levantadas contra ele. E a polícia ainda não falou publicamente sobre quaisquer possíveis conexões entre ele e os crimes de Delphi.

Charles Eldridge

Em 8 de janeiro de 2019, um homem de 46 anos chamado Charles Eldridge foi preso em Union City, Indiana – cerca de duas horas a sudeste de Delphi. Charles, que tem uma notável semelhança com o esboço original divulgado pelos investigadores nos assassinatos de Delphi, foi detido sem fiança. Ele teria supostamente combinado um encontro com uma adolescente, que – sem que ele soubesse – era policial. Após sua prisão, Charles aparentemente admitiu ter se envolvido em atos sexuais com crianças em várias ocasiões.

Uma vez sob custódia, a foto de Charles Eldridge se tornou viral e pessoas em todo o mundo começaram a compará-la com a imagem composta divulgada pela Polícia Estadual de Indiana em junho de 2017.

Depois de sua prisão em Union City, os oficiais compartilharam as informações de Charles com o FBI, informando-os de que uma ligação com o caso de Delphi poderia ser possível. No entanto, após esta divulgação, eles alertaram o público para se abster de fazer quaisquer suposições públicas mais inflamatórias: “além do fato dele se parecer com a pessoa do esboço, não há atualmente nenhuma evidência que o vincule a este caso e ele não é um suspeito no caso. Entendemos que as pessoas estão tentando ajudar a investigação, mas ao fazerem isso sem nenhuma evidência além da aparência, podem prejudicar ou atrapalhar a investigação”.

Paul Etter

Em julho de 2019, outra pessoa surgiu no grupo de suspeitos. Desta vez, porém, ele não poderia ser questionado porque já está morto. Paul Etter, de 55 anos, era um suspeito de agressão sexual, que cometeu suicídio em 7 de junho de 2018, após um impasse de cinco horas com a polícia no centro de Indiana. No momento da morte de Paul, ele era procurado pelo sequestro e agressão sexual de uma mulher de 26 anos.

Como você pode ver na foto, Paul Etter se assemelhava bastante ao retrato falado divulgado em junho de 2017. Sua idade também correspondia à idade que se imaginava que o assassino teria. Porém, não é mais aquela pessoa daquele retrato falado que a polícia está procurando…

Novidades nas investigações

Em 22 de abril de 2019 os investigadores anunciaram que estavam mudando de curso. Poucos dias antes, eles anunciaram que iriam levar o caso para uma “nova direção” e que deveriam revelar notícias significativas em uma entrevista coletiva. Os familiares de Abby e Libby – que desconheciam as informações que seriam compartilhadas – se reuniram com a polícia pouco antes da entrevista.

A coletiva foi organizada pelo Superintendente da Polícia do Estado de Indiana, Doug Carter, que estava publicamente envolvido com o caso há mais de dois anos. No Canal Center em Delphi, Indiana, Carter falou para uma assembleia de entes queridos, repórteres e até mesmo membros do público que tiveram permissão para comparecer.

Esta entrevista mudou ou atualizou a maioria das informações previamente divulgadas pelos investigadores. A Polícia do Estado de Indiana revisou completamente as informações dos suspeitos, começando com um esboço atualizado do retrato falado – que é muito diferente do retrato original lançado em junho de 2017.

Este esboço mostra um indivíduo com nariz estreito, lábios finos, sem pelos faciais, cabelos grossos e encaracolados e uma mandíbula mais forte e pronunciada. O indivíduo neste esboço também é visivelmente mais jovem do que o original.

A Polícia afirma que este retrato “representa o rosto da pessoa capturada no vídeo no celular da Liberty German enquanto ela caminhava na Moon High Bridge.” Infelizmente, este retrato falado recém-lançado também é muito vago – parecendo potencialmente com milhares de jovens da região.

O artista responsável pelo retrato falado, Taylor Bryant, afirmou que o esboço foi baseado em uma descrição dada a ele por uma testemunha ocular e foi feito apenas alguns dias depois que os corpos das meninas foram encontrados – em 17 de fevereiro de 2017 – mas só agora estava sendo lançado.

O primeiro retrato falado, de acordo com o sargento Kim Riley, “não é mais de uma pessoa de interesse nesta investigação”. Em vez disso, parece ter sido uma pessoa de interesse que a polícia estava procurando, mas desde então foi identificado e inocentado de qualquer irregularidade.

Com o lançamento deste novo esboço, a polícia atualizou a suposta idade do assassino. Eles não acreditavam mais que ele era sem dúvida um homem de meia-idade, mas sim que tinha entre 18 e 40 anos. Esta é uma janela bastante ampla e vaga, mas os investigadores acreditam que o assassino pode parecer muito mais jovem do que realmente é.

Pela primeira vez, a polícia declarou publicamente que o assassino provavelmente conhecia bem a região, o que significa que eles não acreditavam mais que fosse um estranho. Em vez disso, provavelmente era alguém que viveu ou trabalhou em Delphi, ou que visitava regularmente a cidade por algum outro motivo.

A polícia também revelou um fragmento de vídeo que mostra esse indivíduo desconhecido caminhando na Moon High Bridge. Ele tem um andar estranho, mas isso pode ser atribuído à própria ponte – que apresenta grandes lacunas entre as ripas de madeira que a formam e pode ser difícil de andar. No entanto, esta imagem mostrou o assassino em movimento pela primeira vez, o que foi uma revelação para muitos.

Além disso, a polícia divulgou um clipe de áudio um pouco mais longo do assassino falando, que está logo abaixo. Nesse áudio é possível escutar o trecho já divulgado anteriormente – do homem dizendo às garotas “desçam a colina” – que é precedido por ele dizendo a palavra “caras” (Guys… down the bridge). Ouça.

Além do novo retrato falado e dos arquivos de mídia atualizados, os investigadores também anunciaram que estavam buscando informações sobre um carro visto em uma estrada rural perto de Delphi no dia dos assassinatos. O carro aparentemente estava estacionado na County Road, perto da entrada para a trilha da ponte. O carro esteve lá em algum momento entre 12h e 17h de segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017, e estava estacionado em frente ao antigo prédio do Serviço de Proteção à Criança, que na época estava abandonado. A polícia não revelou quaisquer detalhes sobre o veículo – como marca, modelo ou cor – apenas que estava procurando falar com seu dono.

Para muitos, essa pista sobre o veículo remetia aos rumores locais sobre a mulher que encontrou um jovem em uma caminhonete perto da cena do crime. Muitos pensam que isso pode explicar a mudança de direção da investigação e nos dar uma pista do que está por vir.

Em uma declaração que foi divulgada no final dessa coletiva, direcionada ao assassino, o Superintendente Doug Carter disse: “Nós temos uma testemunha. Você cometeu erros. Nós estamos indo atrás de você e não há lugar para um covarde sem coração como você se esconder.”

As famílias de Abby e Libby

Ambas as famílias afirmam ainda confiar na polícia e continuam dando declarações de apoio aos investigadores. Becky Patty, a avó de Libby, está enfrentando uma outra batalha por conta própria – uma forma rara de câncer endometrial. Minha conversa com ela foi de partir o coração, apesar do otimismo e positividade que ela me passou e que podia ser percebido em sua voz. Becky afirmou que mesmo passando por cirurgia, quimioterapia e radioterapia, ela mantém seu ânimo porque sabe que mesmo se ela perder a batalha contra o câncer, ela estará com sua neta novamente.

Becky disse que “esta é uma situação ganha-ganha em meu coração. Não me atingiu e me abalou com tanta força quanto talvez tivesse atingido antes de tudo isso, porque pensei que, se não vencer, estarei com Libby novamente e esperarei por minha família. E se eu vencer esse câncer, eu vou caçar esse assassino.”

A irmã mais velha de Libby, Kelsi German, está estudando psicologia forense e também tem como motivação encontrar o assassino. Becky me disse que está muito orgulhosa da decisão da neta e que se ela fosse mais nova também faria a mesma coisa. Ela disse que “pegarmos esse cara é o nosso principal objetivo na vida agora. E tenho certeza que Kelsi será bem sucedida nisso. Ela já fala sobre o comportamento do assassino, a personalidade dele e algumas coisas muito peculiares e usa termos específicos da polícia.”

A família de Abby também continua morando na região e continua amiga e em contato constante com a família de Libby. Anna, a mãe de Abby, vai à delegacia toda semana para saber se há novidades sobre o caso. E tem certeza que um dia o assassino será pego e pagará pelo que fez. “A cidade ainda não se recuperou e não esqueceu o que aconteceu com as meninas. Nós recebemos muito apoio aqui de amigos, familiares, de toda a população em geral. E nossos policiais tem tanta vontade quanto nós que justiça seja feita. É uma comunidade muito unida com a qual podemos contar” disse Anna.

Conclusão

Enquanto isso, os investigadores insistem que o caso não esfriou e que novas pistas estão chegando diariamente. A investigação sobre os assassinatos de Abigail Williams e Liberty German está em andamento. O caso está sendo continuamente investigado pelo FBI, pela Polícia Estadual de Indiana e pelo xerife da cidade.

Há algumas questões gritantes neste caso para as quais nós gostaríamos muito de ter respostas: Por que a polícia esperou dois anos para divulgar o segundo retrato falado? Se o caso está a apenas uma pista de ser resolvido, como afirma a polícia, por que está demorando tanto? Quanta evidência forense existe? E se o assassino é local, como a polícia suspeita, por que ninguém na pequena cidade de Delphi reconheceu o homem do segundo retrato falado? O que “local” significa na verdade? Acredita-se que ele seja de Delphi ou de toda a região em geral? Ele morava lá anteriormente e se mudou da área?

A verdade é que muito pouco se sabe sobre o que aconteceu com Libby e Abby naquele dia. Não sabemos como elas foram mortas ou se foram abusadas ​​sexualmente, embora o foco em estupradores e molestadores de crianças pareça sugerir que sim. O que está claro, pelo menos pelo que li e vi, é que a polícia está arrasada com a perda dessas duas meninas e está trabalhando desesperadamente para fazer justiça. Com sorte, poderei atualizar essa história em breve, com a boa notícia de que o assassino está atrás das grades onde pertence.

 

 

Referências:
Unresolved
Abby and Libby – abbyandlibby.org
Medium
ABC
Reddit
Daily Mail
Truth Tellers