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Dorian Bluford – atraído para a morte

Você conhece uma pessoa pela internet, começa um relacionamento, se apaixona, e se dispõe a mudar para outra cidade para morar com essa pessoa. Ele providencia sua passagem de avião, moradia, um carro e consegue até um emprego para você. Chega o grande dia e você está muito animado com a perspectiva de uma nova vida! É uma pena que sem mais nem menos, você seja assassinado. Essa é a infeliz história de Dorian Bluford.

Eu fiquei sabendo do caso em questão através do jornalista Travis Dorman. Ele é da cidade de Knoxville, no Tennessee e trabalha no Knox News (o jornal local). Ele cobriu esse caso na época que aconteceu, e foi um dos poucos jornalistas a continuar acompanhando a história. Nós nos conhecemos através do Reddit, onde ele resolveu divulgar a história do Dorian para tentar chamar atenção para esse caso. E ele conseguiu a minha atenção.

Dorian Bluford
Fonte: Facebook

Dorian Bluford era um homem negro, alto e jovem, de apenas 32 anos, nascido e crescido em Monroe, na Louisiana. Uma cidade pequena, com cerca de 50 mil habitantes. Ele tinha uma família grande e amorosa, que incluía vários meio irmãos por parte de mãe e de pai, vários primos, tios, sobrinhos, e todos se davam muito bem. Seu melhor amigo desde a infância inclusive era seu meio irmão DeMarcus White, e embora eles vivessem em casas diferentes, os dois eram inseparáveis.

DeMarcus conta que até a época da adolescência os dois estavam sempre juntos. E foi somente quando DeMarcus entrou para o exército que Dorian resolveu se mudar da pequena cidade de Monroe. Ele foi para Houston, morar com sua prima Kimberly Gardener. Dorian viveu lá por cerca de uma década ao lado de Kimberly, seu marido e seus quatro filhos.

Segundo Kimberly, logo que chegou à Houston Dorian começou a trabalhar em um Walmart, onde pouco tempo depois se tornou gerente. Ele ficou bastante tempo nessa loja até ser convidado para gerenciar uma franquia do Burger King. Nesse tempo em que ele viveu com a família de Kimberly, Dorian criou um vínculo muito forte com os quatro filhos dela, que confiavam muito nele e o viam como um confidente e tio jovem muito cool.

Os amigos e a família de Dorian o descreviam como um homem muito gentil, carinhoso, doce e generoso. DeMarcus disse que ele também era bastante reservado e quieto quando estava na presença de pessoas com quem ele não tinha tanta intimidade. 

Somente os amigos e familiares mais chegados sabiam que Dorian era gay. O que não me surpreende tanto, ele ter sido reservado sobre isso, porque historicamente no sul dos Estados Unidos o preconceito racial é gigante, apesar até de uma parcela muito grande da população ser negra. E Dorian enfrentaria preconceito em dobro sendo um homem negro gay. Preconceito racial por parte dos brancos sulistas (e pessoas racistas em geral, é claro), que chegou ao extremo no governo Trump, e preconceito por sua orientação sexual por parte não só dos brancos homofóbicos, mas também dentro da própria comunidade negra.

Mesmo sendo mais reservado, Dorian era muito carismático, descolado e sabia entreter as pessoas a sua volta. Kimberly contou que quando fazia reuniões em sua casa, ele era o responsável pelos drinks e deixava todo mundo doidão porque fazia bebidas muito fortes. Ele gostava muito de sair para comer ou fazer um churrasco em casa e beber com os amigos.

No ano de 2015 Dorian conheceu um homem através do Facebook. Os dois se tornaram muito íntimos e começaram um relacionamento à distância. Esse homem mantinha sua sexualidade escondida de outras pessoas. Ele não era só mais reservado, como Dorian, ele de fato escondia que era gay de todos à sua volta. Mas por algum motivo, isso não incomodava Dorian.

A polícia sabe a identidade desse homem e poucas pessoas do círculo mais próximo à Dorian também sabem o nome dele. Kimberly é uma dessas pessoas. Mas o nome é a única coisa que ela sabe, ela nunca o conheceu, nunca falou com ele, e sempre que ela perguntava algo à Dorian a respeito desse homem ou do relacionamento deles, ele era evasivo em suas respostas.

Kimberly foi aconselhada por um advogado a não revelar o nome desse homem e os investigadores do caso também nunca o revelaram. Eu realmente não encontrei o nome dessa pessoa em lugar nenhum, e não insisti com Kimberly. Então, nós vamos fazer a mesma coisa que o Travis Dorman fez em seus artigos para o Knox News e chama-lo de John.

Em 2016 Dorian foi para Knoxville e ficou morando com John por cerca de um mês. Durante os primeiros dias juntos, Dorian falava para Kimberly que estava tudo ótimo e ele estava muito feliz porque além de namorado, John era seu melhor amigo. Mas alguma coisa aconteceu nas semanas seguintes que causou a separação do casal, e Dorian voltou para a casa de Kimberly em Houston.

Aparentemente os dois continuaram em contato após esse término, mas Dorian não havia comentado com ninguém que eles ainda estavam se falando. Por isso, Kimberly foi pega completamente de surpresa quando, no final de abril de 2017, Dorian anunciou que se mudaria de vez para Knoxville. Ele tinha acabado de ser promovido em seu emprego em Houston e, de repente, disse que havia encontrado um emprego melhor em uma cidade a mais de 1.400 quilômetros de distância.

É lógico que Kimberly achou que essa história estava estranha e que Dorian estava escondendo alguma coisa dela, e ele acabou confirmando que foi John quem o encorajou a fazer essa mudança. Dorian contou para Kimberly que ele já tinha uma promessa de emprego em Knoxville. Emprego esse arranjado por John, que também tinha prometido um carro para Dorian e que comprou a passagem de avião para ele, de Houston para Knoxville. Dorian parecia muito animado com a perspectiva de um novo começo junto com o homem que ele chamava de “melhor amigo”.

A passagem de Dorian
Fonte: Facebook

Ao contrário de Dorian, Kimberly sabia pouco sobre John e tinha um mau pressentimento sobre essa mudança. Ela temia tanto que algo ruim pudesse acontecer com ele que em uma noite chegou a ter pesadelos em que Dorian pedia por ajuda e acordou gritando no meio da noite. Kimberly tentou convencer Dorian a ficar em Houston ou pelo menos a esperar mais um pouco pra pensar melhor sobre essa mudança, mas ele foi inflexível. Todos os dias ele dizia para Kimberly que ela devia se acostumar com a ideia, que sabia que ela estava chateada, mas que ele iria mesmo assim.

Segundo Kimberly, Dorian estava tão empolgado que ele arrumou as roupas e deixou tudo ajeitado de um lado da cama dele duas semanas antes de ir embora. O Dorian planejava encontrar John assim que ele chegasse em Knoxville, no dia 30 de maio de 2017, e como eles dois faziam aniversário no mesmo dia, 31 de maio, eles combinaram de viajar para Nova York no dia seguinte para passar o fim de semana comemorando juntos na Big Apple.

Kimberly sabia que já não adiantava mais se opor porque Dorian já estava decidido. Então, quando o dia 30 chegou, eles se despediram e a filha de Kimberly, Areanna, levou Dorian ao aeroporto, de onde ele partiu para sua nova vida em Knoxville.

Post do facebook sobre a mudança
Fonte: Facebook

“Sim, é hora de seguir em frente. É hora de mudança e de algo diferente.” Foi exatamente isso que Dorian escreveu em seu Facebook um dia antes de deixar Houston. E é muito curioso que ele tenha escolhido relatar todos os detalhes de sua jornada para Knoxville e sua mudança, já que ele não costumava publicar nada além de fotos de si mesmo nas suas redes sociais. 

Dorian deixou um rastro digital de alguns de seus últimos momentos vivo. Ele fez check-in no Aeroporto Intercontinental George Bush em Houston, de onde ele voou para o Aeroporto McGhee Tyson de Knoxville, onde chegou por volta das 16:20h. Segundo a polícia, um vídeo de uma câmera de segurança do aeroporto mostra Dorian jogando sua bagagem na mala de um carro que foi buscá-lo no aeroporto. E o carro em questão corresponde à descrição do BMW que John possuía.

Check in de Dorian no aeroporto de Knoxville Fonte: Facebook

A noite de Dorian continuou num restaurante chamado Joe’s Crab Shack em Sevierville, uma cidade a menos de uma hora de carro de Knoxville. A garçonete que o atendeu no local disse que ele jantou lá com outro homem, que os dois pareciam estar se dando bem e se divertindo, e pareciam um casal feliz. Às 19:14h, Dorian postou no Facebook que estava no restaurante e escreveu: “Estou prestes a ser ganancioso”.

E essa foi a última vez que Dorian postou em suas redes sociais. Cerca de duas horas e meia depois, uma mulher e seu marido estavam em casa na região norte da cidade de Knoxville, quando ouviram gritos vindos da direção de uma trilha de caminhada do outro lado da rua. Essa trilha é toda arborizada, tem cerca de 3 km de extensão e passa por dois parques da cidade.

Post de Dorian mostrando seu trajeto
Fonte: Facebook

O casal não conseguia ver pela janela quem era a pessoa que estava gritando, porque as árvores tampavam a visão. Mas os gritos eram altos e claros. A pessoa dizia: “Ele está me apunhalando, ele está me apunhalando.” A mulher ligou pra emergência às 21:48h e retransmitiu calmamente o que ela estava ouvindo, deu seu endereço para a atendente e disse que os gritos vinham da trilha, chamada First Creek Greenway.

O casal, depois de ligar para a emergência, pegou o carro e dirigiu em torno da trilha tentando encontrar a pessoa que estava gritando ou ver algum sinal do agressor nas redondezas. Eles relataram para a polícia em seus depoimentos que eles viram um BMW saindo de um estacionamento próximo. A cor e o modelo do carro que eles viram correspondem ao carro de John.

Check in no Facebook no restaurante
Fonte: Facebook

Os policiais e bombeiros que responderam ao chamado do casal começaram as buscas logo em frente à casa deles e a princípio não encontraram nada. Depois de mais ou menos meia hora um bombeiro finalmente descobriu o corpo de um homem negro caído em meio a algumas árvores, fora da trilha propriamente dita. Um dia antes de seu 33º aniversário, a vida de Dorian Bluford terminou em First Creek Greenway.

O pesadelo de Kimberly infelizmente virou realidade. Alguém esfaqueou Dorian e o deixou para morrer numa pequena trilha de caminhada em Knoxville. Menos de seis horas depois de chegar em sua nova cidade, Dorian foi assassinado.

Ele já estava morto quando foi encontrado pelo bombeiro. A autópsia revelou que Dorian foi esfaqueado 37 vezes – nas costas, no pescoço, no peito e nos dois braços, e isso claramente sugere que foi um crime passional e extremamente violento, e sugere também que o culpado era alguém que conhecia a vítima. Os exames toxicológicos revelaram posteriormente que não havia nenhum traço de drogas ou álcool no organismo de Dorian.

Mike Washam, que foi o investigador inicial do caso, afirmou que na cena do crime não havia muito com o que trabalhar. Não havia nenhuma testemunha além do casal que escutou os gritos, ninguém viu nada, a arma do crime não foi encontrada. Outras coisas que também nunca foram encontradas são as malas e o celular de Dorian. A carteira dele com os documentos e o dinheiro que ele tinha continuaram em seu bolso, intocados.

O investigador Mike Washam
Fonte: Knox News

A quantidade de sangue presente na cena do crime não deixou dúvidas de que o ataque aconteceu ali mesmo. Os policiais imaginam que Dorian, após ser apunhalado várias vezes nas costas, se virou e tentou em vão se defender. Mike acha que ele tentou escapar mas acabou caindo e os ataques continuaram.

Foi através da carteira de motorista que Dorian foi identificado. Eles checaram que ele era nascido no estado da Louisiana e que havia acabado de chegar no Tennessee porque o papel da retirada das bagagens ainda estava em seu bolso.

Em sua primeira declaração à imprensa, no dia seguinte que o corpo foi encontrado, o investigador Mike disse que tudo que eles sabiam naquele primeiro momento é que eles tinham encontrado o corpo de um homem de fora da cidade, que foi morto logo que chegou. Ele também disse que eles ainda não sabiam nada sobre aquele indivíduo e estavam tentando descobrir se alguém tinha visto alguma coisa.

O local onde o corpo foi encontrado
Fonte: Knox News

Mike e sua equipe conseguiram encontrar registros do último endereço de Dorian, em Houston e entraram em contato com Kimberly para perguntar qual era a relação dela com ele, e informar o ocorrido. Foi então que a polícia ficou sabendo a respeito de John e que Dorian havia se mudado para morar com ele. Mike estranhou que mesmo com vários apelos por parte da polícia na mídia pedindo ajuda para encontrarem alguma testemunha do crime e falando sobre o que aconteceu, John nunca procurou a polícia. Nem para dizer que conhecia aquele homem ou que o pegou no aeroporto dia 30.

Os investigadores entraram em contato com John e o chamaram para conversar na delegacia e prestar os devidos esclarecimentos. Mas ele contratou um advogado e não apareceu para dar depoimento. Depois do primeiro contato, John passou a se manifestar somente através de seu advogado.

Mike obteve então um mandado de busca para investigar o BMW de John. A polícia encontrou o cartão do seguro de saúde de Dorian no porta-malas do carro, e de acordo com uma cópia do mandado, foi recolhido um grande número de itens para realizar testes e verificar se havia DNA de Dorian em algum deles.

Mike também obteve os registros telefônicos que mostram que John deixou a cidade dois dias após o assassinato. Ele se hospedou em um motel em uma outra cidade com um hóspede. O motel não tem o registro do nome dessa pessoa e infelizmente já havia passado tempo suficiente para que as câmeras de segurança do motel deletassem as imagens do dia da hospedagem e gravassem outras imagens no lugar. Então essa pista não deu em nada.

Moradora local passeando na trilha com seu cachorro
Fonte: Knox News

A polícia afirmou que eles imaginam que John queria fugir com esse amante ou namorado, pelo menos naqueles primeiros momentos que sucederam o assassinato. Os investigadores não compartilharam informações adicionais, mas eles claramente acreditam que esse é um detalhe muito importante para o caso. A ideia de um triângulo amoroso parece ser a teoria preferida da polícia neste momento.

Os investigadores e membros da família suspeitam que John não foi a única pessoa envolvida na morte de Dorian. E eu entendo o porquê dessa suspeita. Eu conversei com Mike por intermédio de Travis e ele me explicou que o fato de Dorian ter gritado “’ele está me apunhalando” é algo que chamou sua atenção desse o início. Parece que ele está falando para outra pessoa (um amigo ou conhecido), que está ali com ele enquanto ele está morrendo, que outro homem (um terceiro indivíduo) o estava apunhalando. Se ele estivesse só com uma outra pessoa lá na trilha e essa pessoa o atacasse, por que ele iria gritar isso? Ele provavelmente gritaria “Socorro”, “Pare” ou “Você ficou maluco!”.

Mas a polícia não sabe quem pode ser essa terceira pessoa. Será que é o homem que foi para o motel com John alguns dias depois? Quem seria esse homem? Poderia ser alguém que Dorian também conhecesse? Dorian e John se conheceram, se conectaram e mantiveram um relacionamento através de redes sociais, mas ambos mantiveram partes de suas vidas em segredo. E o assassinato segue esse padrão, aconteceu em um lugar isolado, depois de escurecer, sem ninguém por perto.

Foto que circula pelo Reddit para mostrar que a polícia de Knoxville é preguiçosa
Fonte: Reddit

Mike também explicou que apresentar uma acusação de assassinato com base em evidências frágeis, como as que eles possuem nesse caso, é muito arriscado, porque se eles decidissem denunciar John, ele fosse à julgamento e fosse absolvido, ele não poderia ser julgado novamente pelo mesmo crime. E esse caso seria muito fácil para um advogado de defesa. As provas são só circunstanciais, e nem são muito boas. São coisas fáceis de refutar.

Então o que a princípio parecia um caso fácil, que seria aberto e encerrado num piscar de olhos, já se estendeu por mais de três anos sem uma única prisão ter sido feita. Em 14 de setembro de 2020, Mike Washam entregou o arquivo do caso a um investigador mais jovem, Andrew Markham. Os dois até revisaram o arquivo juntos antes de Andrew se tornar oficialmente o responsável pela investigação do assassinato de Dorian, mas chegaram a um beco sem saída.

Andrew afirmou em uma entrevista para o Knox News que espera que alguém apresente as informações necessárias para desvendar o caso. Ele ainda acrescentou que as pessoas geralmente têm dificuldade em guardar segredos, ainda mais um segredo desse porte, e talvez alguém esteja se sentindo culpado porque sabe de alguma coisa a respeito da morte de Dorian, que era um cara inocente e gente boa, que foi brutalmente assassinado.

Teorias

O que eu adoraria entender nesse caso é como Dorian foi parar naquela trilha, o porquê dele estar lá. Essa trilha não é um ponto turístico da cidade e fica longe do restaurante onde ele foi visto por último e longe da casa de John também. Além disso, eu não acredito que alguém resolva fazer uma caminhada às 21h depois de viajar com a mudança. Mudanças já são normalmente cansativas, para outro estado então. E também acho que devem ter havido outras paradas no caminho, eu não acho que John só pegou Dorian no aeroporto e o levou pra jantar, e que de lá eles foram para a trilha. É possível que após o jantar uma terceira pessoa tenha se juntado aos dois.

Eles ficaram juntos desde as 16h até 21h pelo menos. O que mais teria acontecido nesse tempo? Nós também precisamos nos lembrar que a bagagem de Dorian nunca foi encontrada. E a primeira coisa que eu faria ao chegar de mudança em outra cidade, antes mesmo de jantar, seria deixar minhas malas em casa. E a polícia demorou bastante até saber da existência de John e da relação dos dois, o que daria tempo suficiente dele se desfazer das malas, do celular e qualquer outro pertence de Dorian.

Eu me peguei pensando na possibilidade de Dorian não ter sido realmente convidado para morar com John. Dele ter interpretado de maneira errônea um convite para visitar, passar um final de semana ou férias. Mas isso não faria o menor sentido, já que segundo o próprio Dorian, John havia providenciado a passagem, um carro e já tinha até um emprego em vista para Dorian.

Dorian Bluford
Fonte: Facebook

Por que você atrai uma pessoa para outra cidade e faz ela mudar a vida dela completamente só para ela ser morta poucas horas depois? É muita crueldade. E eu não acredito que esse foi um ato de violência aleatório ou um crime de oportunidade. Foi um crime passional, extremamente agressivo, provavelmente premeditado. Um crime onde o assassino descarregou todo seu ódio em Dorian. E só uma pessoa que o conhece teria motivos para ter ódio dele. Uma pessoa que o conhece e que o atraiu para uma armadilha naquela cidade.

Eu tenho alguns problemas com os policiais e com a investigação desse caso no geral. O primeiro deles é que a polícia de Knoxville, nas semanas seguintes ao assassinato, parecia mais preocupada em garantir à população que a trilha onde Dorian foi morto era segura e que todos podiam continuar frequentando o local, do que em encontrar o assassino e conseguir justiça para Dorian.

Eu também não vou sair acusando os policiais de serem racistas e preconceituosos, porque eles podem ser só incompetentes mesmo. Mas o que o meu instinto diz é que só por ser um homem negro que foi morto já não gera tanta cobertura assim da imprensa e não há a mesma eficiência que há no caso de mulheres brancas sendo assassinadas por exemplo. E somado à isso, Dorian era gay. Existem chances sim dos policiais locais terem deixado o caso ainda mais de lado ao descobrirem isso, e descobrirem também que ele veio para a cidade para morar com outro homem.

Segundo Travis, o assassinato de Dorian sumiu dos noticiários locais pouco depois de acontecer. E quando era mencionado, era para falar sobre a segurança na trilha. O subchefe do Departamento de Polícia de Knoxville, Kenny Miller, chegou a aparecer na televisão para garantir ao público que eles não estavam em perigo e que as trilhas de Knoxville são seguras.

O Departamento de Polícia de Knoxville precisa parar de falar da segurança da trilha e começar a divulgar mais detalhes sobre o que realmente aconteceu com Dorian. Ele foi obviamente atraído pro Tennessee por este “homem desconhecido” com promessas de uma nova vida, e ele foi brutalmente assassinado ao chegar. É nisso que deve estar o foco da polícia.

Ler as postagens de Dorian na página dele do Facebook e sentir a empolgação dele com a mudança é de partir o coração.

E enquanto a polícia e os moradores locais se preocupam com coisas superficiais, Dorian morreu, justiça não foi feita e a vida de Kimberly começou a desmoronar depois que seu primo faleceu. Ela entrou numa depressão profunda, acabou tendo que fechar a creche que ela possuía e seu marido pediu o divórcio.

Os filhos dela também sofreram muito, principalmente Areanna, que levou Dorian ao aeroporto, e passou meses se sentindo culpada e dizendo que se ela não tivesse dado carona para Dorian, talvez ele ainda estivesse vivo hoje.

Você pode estar até pensando: Ah, Marcela, mas esse caso não é um mistério. A gente sabe que foi o John que matou o Dorian. Será? Ou melhor, será que foi só o John? Quem era esse homem que foi para o motel com ele dois dias depois? Onde estão os pertences do Dorian? Ele viajou com 3 malas abarrotadas. Eu fico muito surpresa que essas malas ou objetos e roupas pertencentes à Dorian que estavam nas malas, não tenham sido encontrados até hoje. E o celular dele? É bem mais fácil se livrar de um celular do que de 3 malas, isso eu admito.

Por que atrair alguém de outra cidade só para matar essa pessoa? Sabendo que você é a única conexão dessa pessoa com a cidade e que seria o principal suspeito? Será que o assassinato foi premeditado? Será que John na verdade era um red neck homofóbico que só queria assassinar um homem gay? Será que ele se arrependeu de ter convidado Dorian para morar com ele porque as pessoas acabariam descobrindo que o próprio John era gay? Será que tudo foi premeditado ou será que aconteceu alguma discussão, alguma briga que levou à isso?

Infelizmente nós não temos respostas para nenhuma dessas perguntas. E pelo andar da carruagem, talvez nunca tenhamos. Mas a história de Dorian e a injustiça cometida contra ele merecia ser contada. E eu sinceramente espero que um dia justiça seja feita, que policiais investiguem assassinatos de pessoas negras ao invés de cometê-los, e que gays, lésbicas, trans, e toda essa comunidade enorme também possa andar pela rua sem medo de sofrer agressões, verbais e físicas.

O que vocês acham que aconteceu com Dorian? Acham que ele foi atraído para uma armadilha premeditada? Acham que algo aconteceu naquele dia que levou ao assassinato? Será que tinha mais alguém envolvido nessa história? Me conta aqui nos comentários ou me procura nas nossas redes sociais, @detetivedosofa. Estou bem curiosa para saber sua opinião.

 

Referências:
Facebook
Reddit
Knox News
Wate

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