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Passo Dyatlov – O maior mistério da União Soviética

O Incidente do Passo Dyatlov foi um acontecimento que resultou na morte de nove esquiadores ao norte dos montes Urais, na antiga União Soviética. O incidente aconteceu na costa leste da montanha Kholat Syakhl, cujo nome em mansi significa “Montanha dos Mortos”. Desde então, o passo de montanha onde o incidente ocorreu é chamado de Passo Dyatlov, baseado no nome do líder do grupo, Igor Dyatlov. Vem entender melhor esse mistério comigo.

Os esquiadores

Igor Dyatlov (Igor) – Líder do grupo de esquiadores; o incidente hoje leva o nome dele. Ele se distinguia pela sua meticulosidade, por sua ótima forma física, caráter equilibrado e atitude amigável para com as pessoas. Era estudante de engenharia de rádio, e inclusive projetou o rádio utilizado na expedição. Ele tinha 23 anos quando morreu.

Fonte: dyatlovpass.com

Yuri Nikolaevich Doroshenko (Nikola) – Outro estudante de engenharia de rádio. O mais alto do grupo e às vezes retratado com óculos, veio de uma família muito pobre. Ele geralmente usava uma jaqueta inadequada para protegê-lo das temperaturas congelantes de Sverdlovsk. Ele tinha 21 anos quando morreu.

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Zinaida Kolmogorova (Zina) – Esquiadora experiente que já havia enfrentado sua cota de dificuldades em expedições anteriores. Durante uma de suas viagens chegou a ser mordida por uma víbora. Zina tinha um caráter excepcionalmente sociável e tratava a todos com carinho e respeito. Ela morreu aos 22 anos de idade.

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Lyudmila Dubinina (Lyuda) – A mais jovem do grupo, era excelente fotógrafa e a maioria das fotos da expedição foram tiradas por ela.  Lyuda tinha considerável experiência em montanhismo. Durante uma expedição pelas montanhas orientais de Sayan, em 1957, foi acidentalmente baleada na perna por um caçador, e teve que voltar, o que foi uma provação longa e dolorosa. Ela tinha 20 anos quando morreu e foi enterrada no dia de seu aniversário de 21 anos.

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Aleksander Kolevatov (Alek) – Um estudante de física nuclear, que após se formar trabalhou no Instituto Secreto do Ministério da Construção de Máquinas da URSS. Ele tinha uma excelente posição no Instituto e estava envolvido em diversas pesquisas científicas. Aparentemente ele possuía acesso a informações confidenciais e vários segredos de Estado. Ele era um esquiador experiente e comemorou seu aniversário de 24 anos durante a expedição, dois dias antes de todos morrerem.

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Yuri Krivonischenko (Georgiy) – Georgiy era amigo de longa data de Igor e da maioria dos membros do grupo e participou de quase todas as expedições que Igor fazia. Ele estudou construção civil e hidráulica e trabalhou em uma instalação nuclear secreta por alguns meses, até ocorrer um vazamento radioativo. Quando seu corpo foi encontrado na montanha, possuía traços de radioatividade que alguns vinculam a este evento específico. Ele morreu aos 23 anos.

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Rustem Slobodin (Rustik) – Rustik era descrito por seus amigos e familiares como uma pessoa muito atlética, honesta e decente. Era um homem de poucas palavras. Um corredor de longa distância e excelente atleta. Já havia feito uma expedição alguns anos antes somente na companhia de seu pai, onde atravessaram uma montanha de 300 km de extensão. Ele tinha 23 anos quando morreu.

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Nikolay Thibeaux-Brignolle (Tibo) – Engenheiro civil que trabalhava no departamento de construção de sua cidade natal. Ele era filho de um comunista francês, reprimido nos anos de Stalin. Todos que conheciam Tibo falavam de sua energia, criatividade, simpatia e humor. Também tinha muita experiência em expedições pelas montanhas. Tinha 23 anos quando morreu.

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Semyon Zolotaryov (Sasha) – Formado no Instituto de Educação Física de Minsk, ele era o membro mais velho e também o mais misterioso do grupo. Sasha passou toda a II Guerra nas Forças Armadas, de outubro de 1941 a maio de 1946. Ele era solteiro, tinha tatuagens e dentes cobertos de ouro. A maioria das tatuagens de Sasha eram relacionadas ao seu passado militar. Ele morreu aos 38 anos. Existem tantos mistérios e lendas envolvendo a vida pessoal de Sasha que renderiam um artigo inteiro. Quem sabe no futuro?

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Yuri Yudin – o único sobrevivente da tragédia. No dia seguinte ao início da expedição, Yudin sentiu uma súbita dor nas costas causada por uma velha lesão que o acompanhava desde outras expedições – e se deu conta que, naquelas condições, jamais conseguiria completar a jornada. Decidiu abandonar o grupo, retornando a Sverdlovsk.

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O início da expedição

O incidente do Passo de Dyatlov foi o nome dado à misteriosa morte desses nove praticantes de esqui ao norte dos Montes Urais em 2 de fevereiro de 1959. O grupo consistia em oito homens e duas mulheres. A maioria eram alunos ou graduados do Instituto Politécnico de Ural. O objetivo da expedição de 14 dias era chegar a Otorten, uma montanha 10 km ao norte do local do incidente. Este percurso, naquela época, foi estimado como “Categoria III”, o mais difícil. Todos os membros tinham experiência em longos passeios de esqui, alpinismo e expedições em montanhas.

O grupo chegou de trem a Ivdel, uma cidade no centro da província de Sverdlovsk Oblast, em 25 de janeiro de 1959. Eles então pegaram um caminhão para Vizhay – o último assentamento habitado na região. Enquanto passavam a noite em Vizhai, os esquiadores compraram e comeram pães para manter seus níveis de energia elevados para começarem a expedição no dia seguinte.

O grupo no caminhão para iniciar a jornada
Fonte: dyatlovpass.com

Eles começaram sua marcha em direção a Otorten em 27 de janeiro. No dia seguinte, um dos membros – Yuri Yudin, que sofria de vários problemas de saúde (incluindo reumatismo e um defeito cardíaco congênito) teve que retornar devido a dores nos joelhos e nas articulações que o impediram de continuar a caminhada. O grupo restante, com nove pessoas, continuou a jornada.

Diários e câmeras encontrados ao redor de seu último acampamento tornaram possível rastrear a rota do grupo até o dia anterior ao incidente. Em 31 de janeiro, o grupo chegou à orla de uma região montanhosa e começou a se preparar para a escalada. Em um vale arborizado, eles armazenaram alimentos e equipamentos excedentes que seriam usados ​​na viagem de volta. No dia seguinte (1º de fevereiro), eles começaram a se movimentar pela passagem.

Os amigos brincando e rindo felizes dias antes da tragédia
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Parece que eles planejavam cruzar a passagem e acampar do lado oposto na noite seguinte, mas por causa do agravamento das condições climáticas – tempestades de neve e diminuição da visibilidade – eles perderam a direção e desviaram para o oeste, em direção ao topo de Kholat Syakhl. Quando perceberam o erro, o grupo decidiu parar e acampar ali, na encosta da montanha, em vez de descer 1,5 km colina abaixo até uma área de floresta que teria oferecido algum abrigo contra o mau tempo. Yudin deduziu que “Igor provavelmente não queria perder a altitude que haviam ganhado, ou decidiu praticar acampamentos na encosta da montanha.”

Buscas e descobertas

Antes de partir, Igor havia concordado em enviar um telegrama ao clube esportivo do Instituto Politécnico assim que o grupo retornasse a Vizhai. Esperava-se que isso acontecesse até 12 de fevereiro, mas Igor disse a Yudin que acreditava que a jornada demoraria mais do que o previsto. Quando o dia 12 passou e nenhuma mensagem foi recebida, não houve reação imediata, pois o atraso já era esperado. No dia 20 de fevereiro, os familiares dos viajantes exigiram uma operação de resgate e o chefe do instituto enviou os primeiros grupos de resgate, compostos por alunos voluntários e professores. Mais tarde, o exército e as forças da militsiya se envolveram, com aviões e helicópteros recebendo ordens de se juntar à operação de resgate.

A tenda como foi encontrada pelo grupo de resgate
Fonte: dyatlovpass.com

Em 26 de fevereiro, o grupo de resgate encontrou a tenda abandonada e gravemente danificada do grupo em Kholat Syakhl. O acampamento confundiu o grupo de busca. Mikhail Sharavin, o estudante que encontrou a tenda, disse que “a tenda estava meio derrubada e coberta de neve. Estava vazia, e todos os pertences e sapatos do grupo foram deixados para trás.” Nove conjuntos de pegadas, deixadas por pessoas que usavam apenas meias ou um único sapato ou até mesmo descalças, puderam ser seguidas, descendo em direção à orla de um bosque próximo. No entanto, após 500 metros essas trilhas estavam cobertas de neve.

As pegadas fora da tenda
Fonte: dyatlovpass.com

Na borda da floresta, sob um grande pinheiro siberiano, foram encontrados os restos visíveis de um pequeno incêndio. Lá estavam os dois primeiros corpos, os de Georgiy e Nikola, descalços e vestidos apenas com suas roupas íntimas. Os galhos da árvore estavam quebrados em até cinco metros de altura, sugerindo que um dos esquiadores havia subido para procurar algo, talvez o acampamento. Entre o pinheiro e o acampamento, os pesquisadores encontraram mais três cadáveres: Igor, Zina e Rustik, que pareciam ter morrido em posições sugerindo que estavam tentando voltar para a tenda.

Local onde os primeiros corpos foram encontrados
Fonte: dyatlovpass.com

Encontrar os outros quatro membros do grupo levou mais de dois meses. Eles foram finalmente descobertos em 4 de maio sob quatro metros de neve na beira de um riacho mais adentro da floresta do pinheiro. Três desses quatro estavam mais vestidos do que os outros, e havia sinais de que aqueles que morreram primeiro cederam suas roupas aos outros. Sasha estava usando o casaco e o chapéu de pele falsa de Lyuda, enquanto o pé de Lyuda estava enrolado em um pedaço da calça de lã de Georgiy. Ela também estava usando as calças rasgadas e queimadas dele, e seu pé esquerdo e a canela estavam enrolados em uma jaqueta rasgada.

Local onde os outros corpos foram encontrados
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Investigação

Um inquérito começou imediatamente após os primeiros cinco corpos serem encontrados. Um exame médico não encontrou ferimentos que pudessem ter causado as mortes, e finalmente concluiu-se que os cinco haviam morrido de hipotermia. Rustik tinha uma pequena rachadura no crânio, mas esta não poderia ser considerada uma ferida fatal.

Um exame dos quatro corpos encontrados em maio mudou o curso da investigação e a narrativa sobre o que havia ocorrido durante o incidente. Três dos esquiadores sofreram ferimentos fatais: o corpo de Tibo teve grandes danos no crânio, e Lyuda e Sasha tiveram grandes fraturas no tórax. De acordo com o Dr. Boris Vozrozhdenny, a força necessária para causar esse dano teria sido extremamente alta, comparável à força de um acidente de carro. Notavelmente, os corpos não tinham feridas externas associadas às fraturas ósseas, como se tivessem sido submetidos a um alto nível de pressão.

Todos os quatro corpos encontrados no riacho tinham danos nos tecidos moles da cabeça e do rosto. Por exemplo, Lyuda estava sem língua, olhos, parte dos lábios, bem como tecido facial e um fragmento do osso craniano, enquanto Sasha estava com os globos oculares ausentes, e Alek sem as sobrancelhas.

Na época, o veredito foi que todos os membros do grupo haviam morrido por causa de “forças desconhecidas”. O inquérito foi oficialmente encerrado em maio de 1959 devido à ausência de um culpado ou de uma explicação. A ausência de testemunhas e as investigações subsequentes acerca da morte dos esquiadores inspiraram intensas especulações.

Jornal noticiando o veredito te forças desconhecidas
Fonte: Pinterest

Lev Ivanov, chefe da investigação, disse durante entrevista em 1990 que, nos meses de fevereiro e março de 1959, diversas testemunhas, incluindo militares e meteorologistas, haviam relatado a visão de “esferas voadoras brilhantes” na área. Lev afirmou que já na época do incidente imaginara haver algum tipo de relação entre os casos. Ele também admitiu que a equipe de investigação não tinha uma explicação racional para o incidente e que recebeu ordens diretas do alto escalão para não investigar ou mencionar os relatos a respeito das esferas voadoras.

Em 12 de abril de 2018, os restos mortais de Sasha foram exumados por iniciativa de jornalistas do tabloide russo Komsomolskaya Pravda. Foram obtidos resultados contraditórios: um dos especialistas afirmou que o caráter dos ferimentos se assemelhava a uma pessoa atropelada por um carro, e a análise de DNA não revelou nenhuma semelhança com o DNA de parentes vivos de Sasha. Além disso, descobriu-se que o nome Semyon Zolotarev não estava na lista de enterrados no cemitério de Ivanovskoye. No entanto, a reconstrução do rosto do crânio exumado estava de acordo com as fotos do pós-guerra de Sasha, embora os jornalistas expressassem suspeitas de que outra pessoa estava usando essa identidade após a Segunda Guerra Mundial.

Principais teorias:
Aliens:
Esferas laranjas no céu
Fonte: UOL

Ocasionalmente, alguns dos teóricos da conspiração afirmam que OVNIs devem ter assustado o grupo. O investigador Lev Ivanov, no início dos anos 1990, em uma entrevista a um jornalista local, fez uma declaração afirmando que durante a investigação, ele e E.P. Maslenikov notaram que os pinheiros da floresta estavam queimados no topo. Ele também afirmou que A.P. Kirilenko, membro do Congresso soviético, junto com seu conselheiro A.F. Ashtokin, o forçaram a retirar qualquer referência aos objetos voadores desconhecidos ou outros fenômenos estranhos dos autos da investigação. Isso incluiu desenhos de esferas voadoras feitos pelos caçadores Mansi e outros depoimentos. Em 1990, Lev publicou um artigo chamado “O enigma das bolas de fogo”, onde admitiu que na primavera de 1959, sob a pressão de AP Kirilenko, retirou vários materiais importantes do caso que indicava a verdadeira causa do acidente: “bolas de fogo” ou um OVNI.

“Quando E. P. Maslennikov e eu examinamos a cena em maio, descobrimos que alguns pinheiros jovens na borda da floresta tinham marcas de queimadura, mas essas marcas não tinham uma forma concêntrica ou algum outro padrão. Não houve epicentro. Isso mais uma vez confirmou que os feixes aquecidos de uma forte, mas completamente desconhecida, pelo menos para nós, energia, estavam direcionando seu poder de fogo para objetos específicos (neste caso, pessoas), agindo seletivamente”.

Testes militares:
Esquema das bombas paraquedas sendo testadas na URSS
Fonte: BBC

Algumas pessoas acreditam que foi um acidente militar encoberto; há registros de bombas aéreas sendo testadas pelos militares russos na área na época em que os alpinistas estavam lá. As bombas detonavam um ou dois metros antes que chegassem ao chão e causavam danos semelhantes aos experimentados pelos alpinistas, danos internos pesados com muito pouco trauma externo. Alguns especulam que os corpos foram manipulados de forma não natural devido às marcas características do livor mortis descobertas durante uma autópsia, bem como queimaduras no cabelo e na pele. Fotografias da tenda supostamente mostram que ela foi erguida incorretamente, algo que os alpinistas experientes provavelmente não teriam feito.

Esta teoria baseia-se em parte na descoberta da radioatividade em algumas das roupas, bem como nos corpos, descritos por parentes como tendo pele alaranjada e cabelos grisalhos. No entanto, a dispersão radioativa teria afetado todos os alpinistas e seus equipamentos em vez de apenas alguns deles e a descoloração da pele e do cabelo pode ser explicada por um processo natural de mumificação após três meses de exposição ao frio extremo e aos ventos. Além disso, a supressão inicial dos arquivos relativos ao desaparecimento do grupo pelas autoridades soviéticas é algumas vezes mencionada como evidência de um encobrimento, mas a ocultação de informações sobre incidentes domésticos era um procedimento padrão na URSS e, portanto, longe de ser peculiar. E no final dos anos 1980, todos os arquivos de Dyatlov haviam sido liberados de alguma maneira.

Teoria do Ieti do Discovery Channel
A suposta foto do ieti
Fonte: dyatlovpass.com

O especial Russian Yeti: The Killer Lives, produzido pelo Discovery Channel em 2014, explorou a teoria de que o grupo de Igor Dyatlov foi morto por um ieti russo. O programa começa com a premissa de que os ferimentos dos esquiadores eram tais que apenas uma criatura com força sobre-humana poderia tê-los causado. Os que sustentam essa teoria, se baseiam no fato de terem sido encontradas pegadas enormes ao redor das barracas, apesar delas não serem relatadas nos documentos oficiais do caso. O fato da perícia indicar que as barracas terem sido rasgadas pela parte interna e dos exploradores terem sido encontrados sem roupa, sugerem uma fuga em pânico.

Além disso, outros pequenos fatores ajudam a sustentar a teoria. As barracas apresentavam pequenos rasgos na parte de baixo da face voltada para a floresta, que parecem ter sido feitas para espionar o lado de fora. A última anotação feita no diário de uma das viajantes, Zina, dizia “agora sabemos que o homem das neves é real”, o que é no mínimo estranho. O povo mansi que vive próximo ao local teria, também, alertado o grupo sobre os perigos da expedição. O nome dado pelos mansi ao local, “montanha da morte”, se dá pelo fato desse povoado acreditar na existência de enormes homens-espíritos na floresta que não gostam daqueles que destroem a natureza. E que esses espíritos gostam de se alimentar de tecidos moles do corpo, como a língua, o que explicaria a ausência dessa em um dos corpos.

Zina escrevendo em seu diário
Fonte: dyatlovpass.com

É curioso que o exército russo tenha, poucos meses antes da expedição dos estudantes, feito uma missão nos arredores do mesmo local, cujo o objetivo era descobrir se a existência de ietis era real. Além disso, entre as últimas fotografias tiradas pelo grupo, uma delas mostra ao pé de algumas árvores, a silhueta de um corpo escuro e bastante grande. Apesar de alguns alegarem que essa foto é falsa, nos negativos originais, encontrados no memorial Dyatlov, o misterioso corpo gigante também é encontrado. Embora existam essa série de correlações, se concluiu que não havia evidências de tais alegações.

Desnudamento paradoxal:
Fonte: UOL

O International Science Times postulou que as mortes dos alpinistas foram causadas por hipotermia, o que pode induzir um comportamento conhecido como “desnudamento paradoxal”, em que pessoas sofrendo com hipotermia retiram suas roupas em resposta a sentimentos entendidos por elas como calor ardente. É indiscutível que seis dos nove alpinistas morreram de hipotermia. No entanto, outros membros do grupo parecem ter pego roupas adicionais daqueles que já haviam morrido, o que sugere que eles ainda estavam com uma mente sã o suficiente para tentar adicionar mais camadas de roupas.

Infrassom:
Um desenho do vórtice de Von Karman
Fonte: dyatlovpass.com

Outra hipótese, popularizada pelo livro de 2013 de Donnie Eichar, Dead Mountain, é que o vento ao redor da Montanha Holatchahl criou um vórtice de von Kármán, que pode produzir infrassons capazes de induzir ataques de pânico em humanos. De acordo com a teoria de Donnie, o infrassom gerado pelo vento que passava sobre o topo da montanha foi responsável por causar desconforto físico e sofrimento mental nos jovens. Ele afirma que, por causa do pânico, o grupo foi levado a deixar a tenda por qualquer meio necessário e fugir pela encosta abaixo. No momento em que eles estavam mais abaixo da colina, eles teriam saído do caminho do infrassom e teriam recuperado a compostura, mas na escuridão seriam incapazes de retornar ao seu abrigo. Os ferimentos traumáticos sofridos por três das vítimas foram o resultado de seus tropeços na borda de uma ravina no escuro e a queda nas rochas no fundo.

Vento catabático:
Ventos Catabáticos agindo em uma montanha na Suíça
Fonte: NatGeo

Em 2019, uma expedição sueco-russa foi feita ao local, e após investigações, eles propuseram que um violento vento catabático (da palavra grega katabatikos que significa “descendo colinas”) é uma explicação provável para o incidente. Os ventos catabáticos são eventos raros e podem ser extremamente violentos. São ventos que transportam ar de alta densidade de uma elevação descendo a encosta devido à ação da gravidade. Eles foram implicados em um caso de 1978 na montanha Anaris, na Suécia, onde oito alpinistas foram mortos e um ficou gravemente ferido após o vento catabático. A topografia desses locais foi observada como muito semelhante, de acordo com a expedição.

Um vento catabático repentino teria tornado impossível permanecer na tenda, e o curso de ação mais racional seria os esquiadores cobrirem a tenda com neve e buscarem abrigo entre a linha das árvores. Havia também uma tocha deixada acesa no topo da tenda, possivelmente deixada ali intencionalmente para que eles pudessem encontrar o caminho de volta para a tenda assim que os ventos diminuíssem.

Avalanche:
Fonte: BBC

Em 11 de julho de 2020, Andrey Kuryakov, vice-chefe da Diretoria do Distrito Federal dos Urais do Gabinete do Procurador-Geral, anunciou uma avalanche como “a causa oficial da morte” do grupo em 1959. O tempo na noite da tragédia estava muito severo, com ventos de 20 a 30 metros por segundo, uma tempestade de neve e temperaturas chegando a −40 ° C. Esses fatores não foram levados em consideração pelos investigadores, que chegaram ao local do acidente três semanas depois, quando o tempo havia melhorado muito e os restos da neve já estavam derretendo. Foi concluído que o grupo provavelmente acordou em pânico e abriu caminho para fora da barraca ou porque uma avalanche havia coberto a entrada ou porque eles estavam com medo de uma avalanche iminente. Eles estavam vestidos sem as roupas apropriadas porque estavam dormido e correram para a segurança da floresta próxima, onde as árvores ajudariam a diminuir a neve que se aproximava. Na escuridão da noite, eles se separaram em dois ou três grupos; um grupo acendeu uma fogueira enquanto os outros tentaram voltar à tenda para recuperar as roupas, pois o perigo havia passado. Mas estava muito frio, e todos eles congelaram até a morte antes que pudessem localizar a barraca na escuridão.

Em algum momento, algumas das roupas podem ter sido recuperadas ou retiradas dos mortos, mas de qualquer forma, o grupo de quatro pessoas cujos corpos foram mais gravemente danificados foi pego pela avalanche e enterrado sob 4 metros de neve. A língua de Lyuda e os olhos de Alek e Sasha provavelmente teriam sido removidos por animais necrófagos.

Mas apesar do governo russo ter declarado a avalanche como causa oficial da morte para encerrar o caso e as especulações, essa teoria tem muitos furos e é bastante questionável. Evidências que contradizem uma avalanche incluem:

  1. A localização do incidente não tinha sinais óbvios de uma avalanche ocorrida, já que uma avalanche deixa certos padrões e fragmentos distribuídos em uma área ampla. Os corpos encontrados estavam cobertos com uma camada muito rasa de neve e, se houvesse uma avalanche de força suficiente para varrer o acampamento, esses corpos teriam sido varridos também; isso teria causado lesões mais sérias e diferentes no processo e teria danificado a linha das árvores.
  2. Mais de 100 expedições para a região foram realizadas desde o incidente e nenhuma delas relatou condições que pudessem criar uma avalanche. Um estudo da área usando física atualizada relacionada ao terreno revelou que a localização era totalmente improvável para que uma avalanche tivesse ocorrido.
  3. Uma análise da inclinação do terreno indica que, mesmo que pudesse ter havido uma avalanche, sua trajetória teria ultrapassado a tenda, afinal ela desmoronou lateralmente, mas não horizontalmente.
  4. Igor era um esquiador experiente e Alek estava estudando para seu mestrado em instrução de esqui e caminhadas na montanha. Nenhum desses dois homens teria acampado em um lugar que estivesse no caminho de uma potencial avalanche.
  5. Os padrões de pegadas saindo da tenda eram inconsistentes com alguém, quanto mais um grupo de 9 pessoas, correndo em pânico de um perigo real ou imaginário. Todas as pegadas que saíam da tenda e se dirigiam para a floresta, até onde se sabe, eram consistentes com pessoas que caminhavam em um ritmo normal.
Análise atualizada das autópsias

Eduard Tumanov, professor de medicina forense na Universidade Nacional de Pesquisa Médica da Rússia, foi entrevistado para a agência de notícias Ruptly em 2019, e fez algumas declarações pertinentes sobre as autópsias.

Rustik, que possuía uma fratura no crânio, foi encontrado em uma superfície plana. Eduard explicou que a neve não poderia ter causado tal fratura, já uma encosta, sim, pois há pedras, e a área é coberta por pouca neve. “Alguém o atingiu com um objeto e depois o levou embora [o objeto]. Nós só podemos assumir que o objeto era pesado e plano”, constatou.

Sobre Igor Dyatlov, as análises são surpreendentes. Nas conclusões feitas em 1959, temos: “Há abrasões de cor marrom-avermelhada na área da articulação do tornozelo esquerdo, na superfície anterior e posterior, e na área de ambos os tornozelos, impressos acima da superfície da pele, assim como na pele. 1 por 0,5 cm a 3 por 2,5 cm em tamanho, com sangramento no tecido mole. Uma incisão é visível na área das abrasões no terço inferior da canela direita, conhecido como sedimentação da pele”.

Escoriações de qualquer tipo só podem aparecer quando a pessoa ainda está viva. Eduard afirma: “Essas abrasões foram causadas pelas pernas estarem atadas a algo. Elas estavam algemadas ou amarradas à algum tipo de corda. Cordas costumam ficar geladas no frio e ficam duras”. O doutor também comentou as feridas na articulação metacarpofalangiana, que significam que Igor socou algo ou alguém. Além disso, uma ferida de 0.1 cm de profundidade na palma da mão indicava que ele segurava um objeto afiado.

Sobre Georgiy, em seu terceiro dedo faltava um fragmento de pele que foi encontrado em sua boca, sendo assim, assume-se que ele mordeu a pele segundos antes de morrer. Ele também apresentava queimaduras nas pernas, estas mais graves na região dos tornozelos, e menos severas nas coxas. “A distribuição das queimaduras indica que as pernas estavam na vertical quando foram queimadas por chamas. Podemos assumir que ele estava em pé, com as pernas abertas. Um pé no fogo, o outro mais distante. Por quanto tempo uma pessoa pode ficar em pé no fogo? Até o osso começar a queimar? Mesmo em casos de hipotermia, a pessoa também teria o reflexo de tirar seu pé do fogo. Então isso sugere que ele foi segurado a força”, concluiu Eduard.

“Pode-se assumir que eles foram atacados por alguém que não tinha armas ou objetos afiados, pelo menos, eles não foram utilizados. E todo o dano foi causado por um objeto sólido e não-afiado”, acrescentou.

Algumas das situações inexplicadas, futuramente se tornaram mais compreensíveis. Por exemplo, dois dos excursionistas, Alek e Georgiy, trabalharam em institutos nucleares, o que pode explicar porque foi encontrado traços de radiação em suas roupas. Quanto aos corpos que foram encontrados sem a língua e os olhos, é importante reconhecer que eles já estavam em alto estado de decomposição, visto que foram encontrados 2 meses após o início das investigações. A língua e os olhos desaparecidos podem ter sido ação de bactérias decompositoras e animais que habitam a região.

Contudo, outras questões permanecem sem respostas. Por que havia sinais de luta no corpo de Igor? Estaria o governo soviético encobrindo algum crime? É possível que um grupo de nove esquiadores experientes tenha tido hipotermia ao mesmo tempo? Essas e outras perguntas mantém o status de não solucionado ao incidente.

Conclusão

Apesar do governo russo ter concluído que o que causou as mortes foi uma avalanche, isso é pouco provável. A irmã de Igor Dyatlov, Tatiana, declarou recentemente à BBC que viu uma foto de seu irmão em seu caixão e que os cabelos acinzentados de Igor chamaram sua atenção. “Todos os pais acreditavam que essas mortes tinham algo a ver com os militares. Foi dito às famílias: ‘Vocês nunca saberão a verdade, então parem de fazer perguntas’. O que poderíamos fazer? Naquela época, se lhe dissessem para calar a boca, você cumpria”, disse ela.

Há muitos russos que acreditam que o Estado encobriu o que aconteceu neste caso. Até mesmo o ex-presidente Boris Yeltsin, também formado pelo Instituto Politécnico de Ural, acreditava que algo incomum havia acontecido. Um investigador particular que teve acesso aos documentos de Lev Ivanov após sua morte disse que o primeiro relatório sobre os corpos havia revelado a presença de radiação nas roupas de todas as vítimas. Ele também disse que os agentes da KGB, a agência de inteligência soviética, participaram dos exames e estavam preparados para evitar a contaminação radioativa.

Novos documentos, datados na semana anterior à chegada da equipe de resgate, criaram mais dúvidas, pois sugeriam que as autoridades já sabiam das mortes. Um deles, escrito por um dos investigadores do caso, com data do dia 15 de fevereiro de 1959, reconhece a morte do grupo e anuncia a viagem até o local para início das investigações. Entretanto, anúncios oficiais datavam que os primeiros corpos só foram encontrados no dia 26 de fevereiro.

Kizilov Gennadiy Ivanovich, um jornalista de Ecaterimburgo, acredita que o grupo havia testemunhado algum teste ou experimento secreto e foi morto pelos militares. Kizilov acredita que a operação de resgate foi uma farsa e que, antes da chegada dos voluntários, militares estiveram no local para montar o cenário que seria, futuramente, descoberto pela equipe de resgate. Acredita-se que, além dos corpos, a tenda também foi movida de lugar e, por isso, ela foi encontrada em uma área incomum para um grupo de esquiadores profissionais.

Ele também observou que vários animais mortos foram encontrados na área onde os corpos foram descobertos, e disse que a caça e o uso da água foram proibidos nessa área por quatro anos, o que foi confirmado pela comunidade mansi.

Muitos na Rússia consideram que, não importa o que os investigadores concluam, até que os corpos das vítimas sejam exumados – algo que não se planeja fazer – a verdade nunca será conhecida. E, no entanto, é provável que as teorias da conspiração em torno desse velho mistério nunca terminem completamente.

Monumento em homenagem aos 9 esquiadores
Fonte: UOL

 

 

Referências:
Dyatlovpass.com
Megacurioso
Aventuras na História
BBC
Asia Times
Forbes

 

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