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Margaret Ellen Fox – Um emprego de babá nada perfeito

Olá meus queridos leitores. Hoje é dia de falarmos sobre o caso da Margaret Ellen Fox, uma adolescente de 14 anos que morava com a família em Nova Jersey. Esse caso aconteceu no ano de 1974 e a Margaret era uma menina muito ativa, que estudava piano, andava a cavalo e tinha acabado de terminar o nono ano na escola St. Paul’s Grammar School em Burlington duas semanas antes de desaparecer.

Margaret Ellen Fox
Fonte: Charley Project

A Margaret era bem branquinha e sardenta, tinha cabelos castanhos e olhos azuis. Quando ela desapareceu, ela não tinha dois dos dentes superiores. Ela usava óculos com uma armação dourada. 

Ela e sua prima, que se chamava Lynn Parks, resolveram aproveitar as férias de verão para conseguir um trabalho. As duas colocaram um anúncio nos jornais oferecendo serviços de babá. Um homem chamado “John Marshall” respondeu ao anúncio em 19 de junho de 1974. Ele ligou para o número de telefone que estava no anúncio, que era o número da casa de Lynn, e disse que ele e sua esposa tinham um filho de 5 anos e estavam precisando de uma babá para cuidar dele. Mas como John morava na cidade vizinha de Mount Holly e Lynn, que tinha só 11 anos, teria que pegar o ônibus para ir até lá, seus pais disseram que ela não poderia aceitar o emprego.

Anúncio de Lynn e Margaret no jornal
Fonte: Daily Mail

Como os pais dela não deixaram que ela aceitasse o trabalho, ela passou o número de telefone da casa de Margaret para John. Ele ligou para a Margaret e disse que pagaria 40 dólares para que ela cuidasse do seu filho 4 horas por dia, cinco dias por semana. E acrescentou que havia uma piscina no quintal e um balanço na varanda que Margaret poderia usar sempre que estivesse lá.

Para uma menina de 14 anos esse parecia o emprego dos sonhos. Quarenta dólares naquela época já era um dinheirinho bom, e Margaret ainda poderia usar a piscina. Seria o equivalente à 270 dólares hoje em dia, em torno de 1.460 reais. A adolescente de 14 anos trabalharia 20 horas por semana e ganharia mais do que o salário mínimo brasileiro atualmente.

É lógico que Margaret aceitou a oferta e combinou com John que ela começaria a trabalhar no dia 21 de junho. Ficou acertado que John buscaria Margaret em seu fusca vermelho no ponto de ônibus que ficava na esquina das ruas High e Mill em Mount Holly. E que John ou sua esposa a trariam para casa por volta das duas ou duas e meia da tarde.

Mas Margaret não começou a trabalhar em 21 de junho. John ligou no dia anterior e falou com o pai dela, David, avisando que tinha acontecido uma morte na família e eles precisariam viajar. Em vez disso, ela começaria alguns dias depois, em uma manhã de segunda-feira.

No dia 24 de junho Margaret acordou muito animada. Seu irmão mais novo, Joe Fox, a acompanhou até o ponto e viu Margaret entrar no ônibus que levava para Mount Holly. Ela estava vestindo uma blusa azul clara com uma estampa floral, calça jeans marrom de boca larga, estava com uma jaqueta quadriculada azul marinho e branca amarrada na cintura, um colar dourado com flores e uma pedrinha azul e uma pulseira dourada também com uma pedrinha azul. Ela levou uma mochila marrom com seu maiô e a caixinha do seu óculos.

Casa da Família Fox
Fonte: Daily Mail

Os pais de Margaret tinham pedido que ela ligasse assim que chegasse na casa de John para avisar que chegou bem, mas ela não ligou. Eles pensaram que ela deveria ter se esquecido de ligar, como é super normal com adolescentes, e chegaram a pensar em ligar para o número que John havia dado, para saber se ela chegou bem. Mas era só o primeiro dia de trabalho de Margaret e eles não queriam incomodar e também não tinham motivos para imaginar que havia algo errado. O problema é que a manhã passou, as 14 horas chegaram, depois 14:30, deu 15 horas, e aí eles começaram a entrar em pânico, porque a filha já deveria ter chegado em casa.

A mãe de Margaret, Mary Fox, ligou então para o número que John havia dado. Depois de chamar muitas vezes, uma mulher finalmente atendeu. Mary pediu para falar com John Marshall e a mulher disse que não tinha ninguém com esse nome ali. Pensando que poderia ter discado algum número errado, Mary ligou novamente. Dessa vez um homem atendeu. Ela perguntou se ele era John e o homem disse que não. Ela perguntou se John estava em casa, e o homem disse pra ela que aquele número para o qual ela estava ligando, era de um telefone público.

Os pais correram para perguntar a Joe se algo estranho tinha acontecido no trajeto até o ponto de ônibus e se Margaret pegou o ônibus correto. Ele confirmou que ele a viu embarcar no ônibus das 8:40 da manhã do Transport of New Jersey, e que o ônibus ia na direção de Mount Holly. Eles então ligaram para a polícia e informaram o desaparecimento de Margaret.

Em poucas horas, David Fox e um amigo dele que era policial, estavam rodando pelas ruas de Mount Holly de carro procurando por Margaret. Os vizinhos da família Fox também não perderam tempo e organizaram suas próprias buscas.

A rua onde ela foi vista pela última vez, após descer do ônibus
Fonte: Daily Mail

Leonard Burr, um dos detetives da polícia de Burlington naquela época, foi chamado para começar seu turno mais cedo e foi imediatamente designado para o caso de Margaret. Nesse primeiro dia, Leonard percorreu o centro de Mount Holly, perto do ponto de ônibus, mostrando a foto de Margaret para cerca de 200 pessoas. No dia seguinte ele pegou o ônibus de 8:40 da manhã, o mesmo que Margaret havia pego no dia anterior, e começou a entrevistar os passageiros para descobrir se alguém se lembrava de ter visto Margaret.

Duas mulheres se lembraram dela e disseram que ela desceu do ônibus no ponto que ficava na esquina das ruas High e Mill, exatamente o ponto em que ela havia sido instruída a descer. Uma das mulheres afirmou também que ela havia se sentado atrás de Margaret e que quando seu bebê puxou os cabelos castanho-escuros da menina, ela se virou para sorrir e conversar.

Essa mulher descreveu as roupas exatas que Margaret usava, e também afirmou que ela era uma menina pequena, com olhos azuis e muitas sardas. E que seus olhos eram bem brilhantes e ela parecia estar muito feliz.

Os registros da investigação conduzida por Leonard também incluem uma entrevista com a segunda testemunha que estava ônibus. Ela relatou ter descido no mesmo ponto que Margaret e que a viu se aproximando de um homem que devia ter vinte e poucos anos e que estava em um carro vermelho. Esse homem foi localizado pela polícia, e em seu depoimento ele afirmou que a menina se aproximou dele e perguntou se ele era John Marshall. Ele disse que não, ela pediu desculpas e saiu andando. Uma investigação mais minuciosa foi feita e ele foi eliminado como suspeito. Ele realmente era só um homem num carro vermelho (que nem era um fusca) de quem Margaret se aproximou.

Essa foi a última vez que alguém viu Margaret Ellen Fox, de acordo com os registros da polícia.

O número que John Marshall havia dado para Margaret foi rastreado pela polícia e realmente era de um telefone público que ficava dentro de um supermercado em Lumberton, uma cidade que ficava depois de Mount Holly, também em New Jersey. As autoridades concluíram que as circunstâncias que envolveram o desaparecimento de Margaret eram de natureza muito suspeita, e acreditavam que ela foi vítima de um sequestro.

Quando o desaparecimento de Margaret foi divulgado nos jornais e na televisão, vários pais de outras meninas ligaram para a polícia e informaram que um homem havia tentado atrair suas filhas com ofertas de emprego falsas. Isso indica que foi o sequestro de Margaret foi um crime premeditado. Um homem estava ligando para várias meninas que estavam oferecendo serviços de babá e tentando atrair uma delas.

E ainda indica que ele não tinha Margaret como o seu alvo específico. Para ele, servia qualquer menina mais ou menos daquela idade que mordesse a isca. O FBI também começou a investigar o caso após essas denúncias do predador tentando atrair meninas menores de idade.

Leonard Burr e John Fine em Mount Holly
Fonte: Daily Mail

O agente do FBI Burl Cloninger foi designado para o caso em 28 de junho de 1974 e a primeira providência que ele tomou foi gravar todas as ligações telefônicas feitas pela família Fox e recebida por eles. Mais tarde, nesse mesmo dia, um homem ligou exigindo um resgate de dez mil dólares para devolver Margaret sã e salva. Uma carta com o mesmo pedido chegou à casa da família no dia seguinte ao telefonema.

Os pais perturbados não perderam tempo e retiraram o dinheiro do banco. Eles ficaram aguardando que o sequestrador entrasse em contato novamente dizendo onde e quando o resgate seria pago. Mas o homem não ligou mais. No entanto, outra carta chegou dois dias depois dizendo à família que o negócio estava cancelado, sem grandes explicações.

Essa segunda e última carta foi assinada como se tivesse sido escrita pela organização terrorista SLA, que era famosa por roubar bancos e por ter sequestrado a herdeira Patty Hearst quatro meses antes. O que era bem estranho, porque a organização não estava ativa em Nova Jersey em junho de 1974.

O FBI nunca determinou se esse telefonema e a carta pedindo resgate eram pegadinhas cruéis ou se eram legítimos. A ligação veio um dia depois do caso ter sido noticiado pela primeira vez na imprensa. De qualquer forma, esses pedidos de regate, falsos ou verdadeiros, nunca deixaram as autoridades mais perto de encontrar Margaret.

Recortes de notícias da época falando do desaparecimento
Fonte: Burlington County Times

O FBI conseguiu tirar as impressões digitais da carta e compararam com os catálogos de impressões digitais que eles possuíam na época, sem sucesso. Eles ainda tem esperança que um dia eles consigam uma correspondência para essas digitais no CODIS. Então esse homem que ligou e enviou as cartas permanece não identificado até hoje e nenhum resgate foi pago.

Enquanto isso, a investigação da polícia de Burlington continuou, separadamente à investigação do FBI. Os policiais entrevistaram todos os donos de fuscas vermelhos que eles puderam encontrar em New Jersey, e também entrevistaram todos os homens chamados John Marshall. Alguns desses homens se tornaram pessoas de interesse dos investigadores.

A primeira pessoa de interesse deles foi um John Marshall, que trabalhava no supermercado onde ficava o telefone público. Isso por si só já faz dele um suspeito (que por sinal seria burro de dar o nome verdadeiro e o número de um telefone que fica no trabalho dele) ou alguém meio azarado.

O Burl é bem cético que esse John Marshall tenha algo a ver com o caso, exatamente porque ele não acredita que a pessoa que ligou para a família Fox forneceria seu nome verdadeiro. E quando a gente tenta se colocar na mentalidade do homem que arquitetou tudo isso, a gente logo de cara percebe que ele não diria seu verdadeiro nome e não diria a cidade em que ele mora de verdade. Ele sabia que automaticamente toda a polícia iria para Mount Holly procurar por ele e pela menina desaparecida. E é uma cidade muito pequena. O que ele faria é dizer para Margaret se encontrar com ele em Mount Holly e a levaria para outro lugar.

Leonard já não concorda 100% com Burl. Ele afirmou quando nós conversamos por e-mail que ele se sente em conflito quando se trata do tal John Marshall que trabalhava no supermercado, porque ele acha que seria muita coincidência e ele não acredita em coincidências. Deve ter um fundo de verdade aí, mesmo que essa verdade não seja lá tão relevante, tipo se o sequestrador tivesse lido o nome do funcionário do mercado no crachá por exemplo, e resolveu usar esse nome na ligação.

Mas na época esse John Marshall foi entrevistado pela polícia, passou no teste do polígrafo e tinha um álibi: ele estava trabalhando na manhã do desaparecimento de Margaret. Ele e todos os seus colegas de trabalho foram investigados e eliminados da lista de suspeitos.

Vocês sabem que eu não confio em polígrafos, então ele ter passado no teste não tem nenhuma relevância para mim. Mas o polígrafo era a única tecnologia disponível em 1974. Ainda não havia DNA, não tinha reconhecimento de voz, várias das ciências que estão disponíveis hoje nas investigações ainda não existiam. Então eles ainda confiavam no polígrafo. E o cara tinha um álibi. Isso sim, é uma prova incontestável.

A polícia seguiu todas as pistas que eles receberam, não importava quão loucas elas parecessem. Mas de acordo com um relatório do FBI, cerca de dois meses após o desaparecimento as pistas e pessoas de interesse já estavam praticamente esgotadas. Ao todo, a polícia investigou e inocentou 12 pessoas de interesse.

Um suspeito inclusive confessou em 1976 ter sequestrado Margaret, mas a confissão foi considerada uma farsa e ele não é mais suspeito de envolvimento no caso.

Ao longo dos anos, as autoridades também testaram vários restos mortais não identificados comparando com o DNA de Margaret. Mas nunca conseguiram uma correspondência.

Embora a polícia local, a Polícia Estadual de Nova Jersey e o FBI tenham trabalhado no caso de Margaret em 1974, o processo foi muito diferente dos esforços cooperativos e colaborativos que são tão comuns ultimamente. Hoje em dia, de acordo com John Fine, o atual capitão da polícia de Burlington, o departamento trabalha em sincronia com outras agências.

Já o Leonard afirma que esse definitivamente não era o caso na década de 1970, quando as agências eram mais territoriais porque queriam levar o crédito pelos resultados. Ele me disse em nossa conversa que naquela época, havia pouco ou nenhum compartilhamento de informações entre as agências e a única maneira de conseguir descobrir o que estava sendo investigado pelo outro time e se eles tinham novas pistas seria ter algum amigo que trabalhasse na outra agência para te informar o que estava acontecendo na investigação ou simplesmente ligar e implorar, o que geralmente não dava resultado.

Algumas pastas do caso, de diferentes agências
Fonte: Daily Mail

Então, infelizmente, aconteciam três investigações separadas no caso da Margaret, e ninguém sabia o que estava sendo investigado pela outra agência. Podia ser até que uma agência perdesse tempo e dinheiro investigando algum beco sem saída que a outra já tinha investigado e que não tinha dado em nada. É lógico que isso impediu que todos os investigadores tivessem informações críticas que precisavam. E o caso da Margaret pode ter sofrido as consequências.

A polícia de Burlington está tentando desfazer os danos que a investigação sofreu no passado. Em abril 2017 o detetive aposentado Michael Dalesio se reuniu com o capitão John Fine para oferecer seus serviços e sua experiência na força policial porque ele estava aposentado, mas não queria ficar parado. Ele pediu à John Fine para lhe dar algum caso para revisar, mesmo que já fosse um caso antigo ou que estivesse arquivado.

Alguns dias depois Michael recebeu duas caixas enormes e cheias de material e de relatórios sobre o caso de Margaret Ellen Fox. Quando Michael se ofereceu, John Fine finalmente conseguiu alguém para ficar organizando, analisando e trabalhando exclusivamente nesse caso. Esses registros não eram revisitados há mais de 15 anos, e o capitão não poderia requisitar que um de seus investigadores que trabalham com vários casos ao mesmo tempo que ainda fizesse isso também. 

Mike Dalesio trabalhando nos arquivos
Fonte: Daily Mail

E é algo que faz todo o sentido, porque você não pode dar caixas de documentos dos anos 1970 para um policial e tirar ele da rua, da investigação e do trabalho que ele deveria estar fazendo de verdade. E eu achei muito bom ver que mesmo sem ter o recurso para organizar e analisar esse caso, a polícia local ainda tentava dar uma importância para ele, ainda pensava nele com frequência. Porque o capitão poderia ter escolhido outro caso mais recente ou ter dado uma outra função para o Michael.

Esses arquivos são papelada pura. Não há DNA, as evidências físicas são quase escassas, e muita coisa infelizmente foi perdida ao longo dos anos, como o registro dentário de Margaret e as impressões digitais tiradas da carta. Lógico que elas já estão no banco de dados nacional, mas é bem estranho que os originais das impressões digitais tenham desaparecido.

O que eu acho bem positivo nessa revisão é o olhar de fora que o caso vai receber. E as vezes isso é muito necessário. O Michael é alguém de outra cidade, ele não conhece a família da Margaret, não conhece ninguém relacionado ao caso, então eu acho que ele vai ser um investigador mais objetivo e mais imparcial. E ele também pode ter uma visão diferente quando ele acabar de analisar o todo, pode  trazer teorias novas ou encontrar pistas que nunca foram investigadas propriamente .

O Michael já conseguiu a maior parte dos arquivos do FBI sobre o caso da Margaret, mas ele ainda quer conversar com os investigadores do caso, tanto da polícia estadual, quanto do FBI. E ele ainda espera conseguir uma evidência muito importante que o FBI ainda não liberou: os diários da Margaret. Ele também ainda não falou com os familiares e amigos dela.

Ao contrário do Michael, eu já falei com os familiares da Margaret. Na verdade com um deles, Joe Fox, o irmão mais novo que a levou até o ponto de ônibus. E ele me disse que a irmã nunca sai da cabeça dele, e que ele é grato aos investigadores por continuarem tentando encontrar respostas.

A casa da família Fox na época, com as fotos de Margaret na frente
Fonte: Burlington County Times

Enquanto ele crescia, os policiais da cidade frequentemente entravam em contato com sua família para dar atualizações sobre o caso e responder às perguntas que eles tivessem. Atualmente eles já não entram em contato com tanta frequência, mas Joe ainda quer saber o que aconteceu com sua irmã porque ele precisa disso para conseguir ter paz.

Eu nem imagino como a família de uma pessoa desaparecida deve se sentir. Os pais de Joe e Margaret já morreram há alguns anos. Mas tem outros irmãos, além do Joe, que ainda estão vivos. Por muito tempo a família toda acreditou que a Margaret ainda iria voltar, que ela iria reaparecer e estaria viva e bem. Mas isso foi mudando com o passar dos anos. E realmente, 46 anos é muito tempo.

Eu perguntei para Joe como foi a infância deles e as lembranças que ele tem de Margaret. E ele disse que se lembra dela bem moleca, a única menina no meio de um monte de irmãos homens, e ela gostava de brincar com ele, subir em árvores, de andar de trenó e patinar no gelo no inverno e eles passavam os verões em Seaside ou na piscina do quintal.

Joe também me disse que a família era muito próxima e que os irmãos eram melhores amigos, mas quando chegou na adolescência Margaret começou a se interessar mais pelas mesmas coisas das meninas da sua idade, como roupas, moda, maquiagem, acessórios. Mas ela não tinha irmãs nem muitas amigas com quem conversar e dividir tudo isso. O Joe me contou que muitas vezes a Margaret chegava em casa da escola chorando porque ela sofria bullying. Em uma ocasião os colegas chegaram a atirar bolas de neve nela na saída da escola e em parte do caminho que ela fazia para casa.

Joe também falou sobre os pais, que nunca desistiram de tentar encontrar Margaret. O David Fox tinha fotos e pôsteres da filha cobrindo as janelas do carro, então onde quer que ele fosse ele estava procurando por ela e divulgando o desaparecimento da Margaret. A mãe dela, Mary, fez a mesma coisa no gramado da casa deles: colocou placas com fotos da filha e o pôster de pessoa desaparecida.

Em uma declaração dada por David um mês após o desaparecimento de Margaret ele disso que a família estava de coração partido e ele não conseguia nem imaginar o que poderia ter acontecido com ela. Ele passou os meses seguintes ao desaparecimento dirigindo por Burlington e pelas cidades ao redor distribuindo panfletos e fotos dela e perguntando se as pessoas a tinham visto.

Pôster de desaparecida
Fonte: FBI

É bom a gente lembrar que isso aconteceu na década de 1970. Nessa época ainda não existia o Amber Alert, ainda não tinham as fotos de crianças desaparecidas nas caixas de leite, e muito menos os programas de true crime que existem aos montes hoje em dia. Para divulgar o desaparecimento de uma criança era isso mesmo que tinha que ser feito, sair pelas ruas perguntando, mostrando a foto, tentando conseguir respostas. Sem contar que as pessoas ainda se sentiam muito seguras nessa época, as crianças podiam brincar na rua e ir para as casas dos amigos sozinhas, não existia esse tipo de preocupação que os pais tem hoje em dia, ainda mais em uma cidade pequena.

No aniversário de 45 anos do desaparecimento de Margaret, em 24 de junho de 2019, o FBI divulgou ao público um trechinho da gravação da ligação que o suposto sequestrador fez para a família Fox. Aquela ligação onde ele pediu dez mil dólares de resgate. Esse trecho da gravação foi lançado no site do FBI em uma tentativa de que alguém reconhecesse a voz daquele homem ou o reconhecesse pelo seu jeito de falar e pela frase peculiar que ele usou ao pedir o resgate.

O homem na ligação fala: “Dez mil dólares pode ser muito pão, mas a vida da sua filha é a cobertura amanteigada”. E depois é possível escutar a mãe de Margaret perguntando quem está falando. E é só esse trechinho que o FBI liberou. Você pode escutar logo abaixo.

Eu andei pesquisando porque o homem usaria esse vocabulário específico e descobri que no Oxford English Dictionary a palavra bread (pão em inglês) pode ser usada como uma gíria para dinheiro. A primeira vez que esse outro significado de pão entrou no dicionário foi em 1935 e vinha com uma observação dizendo que essa era uma gíria criminosa. Como eu não conheço criminosos americanos, eu não sei e não tenho para quem perguntar se ela ainda é usada nesse sentido atualmente, mas eu acredito que em 1974 pão ainda era usado para significar dinheiro sim.

O FBI também explicou que eles só divulgaram essa gravação agora porque essa escolha de palavras foi tão específica e incomum que eles resolveram manter em sigilo e usar como um trunfo pra filtrar falsas confissões e pra investigar criminosos locais que usassem esse tipo de gíria. Se algum policial ouvisse falar sobre um indivíduo qualquer que chamasse dinheiro de pão, já teria um novo suspeito para investigar.

E essa gravação foi feita em 1974. Então não tinha internet, não tinham redes sociais, não existiam todos esses dispositivos de gravação que a gente tem hoje. E as gravações de antigamente não tinham uma qualidade tão boa. Então só para conseguir divulgar um trecho daquela ligação nos anos 70 e até nos anos 80 já seria muito difícil. A gravação passou por vários processos de conversão do tipo de áudio, e passou por um processo de limpeza também para melhorar a qualidade ao máximo.

Coletiva do FBI
Fonte: Courier Post

Para mim isso explica bem porque isso não foi divulgado antes. E ainda indica que a polícia e o FBI acreditam que a ligação recebida pela família era de fato do sequestrador de Margaret, porque se eles não acreditassem nisso não teria nem porque divulgar esse trecho da gravação 45 anos depois e pedir ajuda para identificar esse homem.

O que eu fico me perguntando é se o homem que ligou estava mesmo em um ambiente tão silencioso ou se a gravação foi tão “limpa” que a gente não consegue escutar os ruídos de fundo. E os ruídos poderiam dar uma indicação do ambiente em que o homem estava quando ligou. Será que tinha barulho de carros, será que tinha barulho de outras pessoas falando ao fundo? Não temos como saber. Mas ao mesmo tempo eu não sei exatamente em que isso ajudaria hoje em dia. É algo que eles deveriam ter analisado na época.

Outra coisa que me deixa com uma pulga atrás da orelha é por que a pessoa que sequestrou a Margaret esperaria quatro dias antes de ligar e enviar a carta pedindo o resgate. Por que esperar o desaparecimento dela e possível sequestro aparecer nos noticiários para entrar em contato com a família? Faria muito mais sentido entrar em contato com os pais o mais rápido possível até mesmo para desencorajar o envolvimento da polícia e evitar que o rosto dela fosse parar na mídia. Isso é o beabá dos sequestros: mandar um bilhete ou fazer a ligação pedindo o resgate e dizer que a família não pode chamar a polícia! Então eu acho sim que a ligação é muito importante para a investigação, senão o FBI não teria se dado ao trabalho de divulgá-la tantos anos depois. Mas também tem a chance do autor da ligação e da carta ser alguém tentando tirar vantagem da família e da situação.

E tem mais chances ainda de que essa pessoa seja alguém que soubesse do crime, alguém que talvez tenha visto alguma coisa, tenha ajudado o John Marshall a esconder alguma evidência, alguém que tenha alguma conexão com o crime sim, por menor que seja.

Outra coisa que chamou minha atenção enquanto eu pesquisava sobre esse caso é que existem vários edifícios, incluindo prédios públicos e uma escola, que se chamam John Marshall em Mount Holly. Esse John Marshall homenageado nos prédios aparentemente foi um juiz importante ou presidente de um tribunal no final dos anos 1700 e início dos anos 1800. Pode ser daí que veio a ideia do sequestrador dizer que seu nome era John Marshall.

Mas eu ainda acho que o John Marshall era por causa do rapaz que trabalhava no mercado. Ou que pelo menos o nosso John Marshall tinha algum tipo de conexão com aquele mercado. Porque depois que ele desse o número de telefone para Margaret e os pais dela, ele estaria correndo o risco deles ligarem para lá e descobrirem logo de cara que era um telefone público. Por isso eu acho que o John Marshall do mercado não era tão inocente assim. E que o sequestrador provavelmente trabalhava perto daquele telefone ou devia ficar perto do telefone bastante tempo sem levantar suspeitas.

Como em qualquer caso de desaparecimento onde a pessoa nunca mais é vista, praticamente qualquer cenário é uma possibilidade. O que eu acho mais provável é claro, é que Margaret tenha chegado ao ponto de ônibus e encontrado o John Marshall (que não devia estar num fusca vermelho, ele provavelmente estava em outro carro, de outra cor, e inventou uma desculpa para a menina). John então levou Margaret para algum lugar, em outra cidade próxima, e a assassinou. Claro que ele pode ter feito outras coisas com ela antes, mas eu prefiro não especular sobre tudo o que pode ter acontecido com uma menina que só tinha 14 anos.

Como Margaret estaria hoje em dia
Fonte: FBI

Também é possível, embora seja muito pouco provável, que alguma outra pessoa aleatória e não identificada tenha sequestrado Margaret enquanto ela esperava por John no ponto de ônibus. Mas isso não explicaria porque John não teria aparecido e ajudado nas investigações se ele não fosse o culpado. E porque ele teria dado o número de um telefone público como o seu próprio.

O desaparecimento da Margaret permanece sem solução até hoje e presume-se que ela tenha sido sequestrada e assassinada. O FBI está oferecendo uma recompensa de 25 mil dólares por informações que levem à prisão e / ou condenação da pessoa responsável pelo seu sequestro. Você tem alguma teoria de quem pode ser esse John Marshall? Você acha que o homem que ligou pedindo o resgate era de fato o sequestrador? O que aconteceu com Margaret? Me conta aqui nos comentários ou nas nossas redes sociais, @detetivedosofa

 

Referências:
Reddit
FBI
Charley Project
Burlington County Times
NBC
Courier Post
The Philadelphia Inquirer
Websleuths
Daily Mail

 

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