Chegou a hora de voltarmos a explorar os arquivos da Polícia Judiciária portuguesa e mergulharmos novamente no caso da Madeleine McCann. Nessa última semana eu descobri que ela detestava ser chamada de “Maddie”, portanto a partir de agora eu só irei me referir à ela como Madeleine.
Os suspeitos e os políticos
Em setembro de 2007, após os alertas de Eddie e Keela e os resultados das análises de DNA, a Polícia Judiciária decidiu que tinha o suficiente para declarar Kate e Gerry McCann suspeitos do desaparecimento de Madeleine e que também tinham evidências para passar a tratar o caso como um homicídio seguido de ocultação de cadáver. Dois dias após serem declarados suspeitos, os McCann voltaram para a Inglaterra.
Como já foi informado na parte 1, Gerry McCann era extremamente bem relacionado. Três dias após o retorno dos McCann à cidade de Leicester, o primeiro ministro britânico da época, Gordon Brown, fez uma visita surpresa à uma delegacia a poucos quilômetros da residência dos McCann. Essa visita foi divulgada como tendo por objetivo discutir “policiamento comunitário”, um tópico pelo qual Gordon Brown nunca se interessou antes ou depois, mas aparentemente era suficientemente importante para justificar essa visita surpresa logo nos primeiros meses de seu mandato.
Cerca de uma semana após essa visita misteriosa à Leicester, Gordon Brown passou a ficar em contato direto com o primeiro ministro português, José Sócrates, exercendo pressão sobre ele para retirar Gonçalo Amaral (o principal investigador) do caso McCann, para removerem o status de suspeitos de Kate e Gerry e para que a polícia portuguesa encerrasse as investigações e passasse o caso para a Scotland Yard. José Sócrates estava desesperado para assinar o Tratado de Lisboa até o final daquele ano, e precisava do apoio de Gordon Brown para conseguir que os outros países da União Europeia aprovassem o conteúdo do tratado na reunião do conselho que ocorreria em 18 e 19 de outubro.
No dia 2 de outubro de 2007 Gonçalo Amaral foi retirado da investigação e transferido para outra cidade. O investigador colocado no lugar dele diminuiu a pressão em cima da família McCann e ao invés de dar continuidade às investigações que a equipe estava fazendo, ele resolveu revisar as evidências que já possuíam. Em dezembro de 2007 o Tratado de Lisboa foi assinado. E em julho de 2008 as investigações foram oficialmente encerradas e os McCann deixaram de ser considerados suspeitos.
A mala de Gerry
Em uma das fotos do quarto tiradas na noite do desaparecimento, é possível ver em um dos armários no quarto do casal uma mala de mão azul escura que pertencia à Gerry McCann, e que era usada para carregar equipamento esportivo. Gerry usou essa mala nos primeiros dias da viagem para carregar sua raquete de tênis.
Quando foi questionado posteriormente pela polícia, que precisava das malas do casal para que os cães as farejassem, Gerry disse que a mala azul havia sumido e que talvez tivesse sido roubada. Mas na semana seguinte, o porta voz do casal, Clarence Mitchell, afirmou que nenhuma mala ou bolsa pertencente aos McCann havia sumido e que Gerry nunca possuiu a mala de mão azul.
Em setembro de 2007, no último interrogatório feito pela polícia portuguesa com os McCann, no qual eles se recusaram a responder qualquer pergunta, uma das questões era como Gerry podia negar não possuir a mala quando ela foi fotografada em seu quarto. E a foto do dia 3 de maio foi mostrada a ele. Como ele não respondeu, a polícia fez um apelo na imprensa dizendo que encontrar a mala poderia ser essencial para as investigações, mas ela nunca foi localizada.
O comportamento dos McCann
Kate afirmou em uma de suas entrevistas que as últimas palavras que Madeleine disse a ela antes de dormir na noite do desaparecimento foram “Hoje foi o melhor dia da minha vida”. Isso é um pouco incomum para uma menina de três anos, porque crianças tão pequenas não costumam ter um conceito de “vida”. “Estou me divertindo” ou “Hoje foi muito legal” seriam declarações mais normais para essa idade.
Em seguida, Kate disse também que Madeleine estava “muito satisfeita com sua vida”, o que sinceramente é um comentário estranho para um adulto dizer sobre seu filho. Ambas as declarações me levaram a acreditar que Kate sabe que a filha está morta por causa da inclusão da palavra “vida”, como se houvesse parênteses demarcando o primeiro dia de sua vida e o último. Parece uma tentativa dela se convencer que deu a Madeleine uma boa vida, até o seu último dia.
Se Kate realmente acreditasse que Madeleine está viva, ela usaria toda a sua exposição para fazer pedidos diretos ao captor pelo retorno dela. A aparência de Kate e Gerry, no entanto, sempre mostrou pouca flutuação nos sentimentos. Eles nunca desmoronaram, choraram ou deixaram escapar algum tipo de emoção, como “Madeleine! Nós amamos você! Vamos te encontrar!” ou “Por favor, nos devolva a nossa filha!”.
Geralmente, no casal de pais de crianças desaparecidas, vemos muitas emoções rondando, um deles desmoronando e outro ficando com raiva ou tentando se manter forte para dar apoio ao outro. No caso dos McCann, suas respostas para todas as perguntas em entrevistas parecem ser cuidadosamente construídas e elaboradas. Há lampejos discretos de raiva, frustração e aborrecimento, mas estes não são pela frustração de perderem a filha, e sim direcionados de um dos McCann para o outro. Há um forte sentimento de controle ao invés de apoio entre o casal.
Kate afirmou que teve problemas para dormir durante os primeiros cinco dias depois que Madeleine desapareceu, mas passou a dormir bem desde então. Muito poucos pais de crianças desaparecidas conseguem dormir, muito menos dormir bem, sabendo que seu filho pode estar sentindo dor, chorando e com medo. A capacidade de dormir de Kate infere que ela não está preocupada com Madeleine porque ela na verdade sabe o que aconteceu.
O rápido retorno às atividades normais também é incomum para os pais de crianças desaparecidas; a maioria fica obcecada e não consegue pensar em mais nada, tendo problemas para seguir até as rotinas mais simples da vida. Kate e Gerry não só voltaram à rotina, como deixaram seus gêmeos em Portugal enquanto iam ver o papa. A maioria dos pais ficaria paranoica por estar longe dos outros filhos e por temer que algo lhes acontecesse também.
Além dessa análise psicológica comportamental, ainda existem outros fatos e atitudes questionáveis a respeito do casal. Eles disseram que fariam tudo o que estivesse ao seu alcance para ajudar a PJ, mas quando foram chamados para depor em setembro, eles não responderam a nenhuma das 48 perguntas relacionadas ao desaparecimento de Madeleine.
A equipe do Ocean Club Resort já havia aconselhado os McCann a não deixarem seus filhos sozinhos. O gerente do resort chegou a oferecer gratuitamente o serviço de babá para os McCann, que recusaram afirmando que não queriam que seus filhos ficassem com estranhos. Os mesmos “estranhos” que cuidavam deles o dia inteiro na creche para que os pais pudessem passar o dia bebendo e jogando tênis.
Pais negligentes
É bem óbvio que os McCann e seus amigos foram extremamente negligentes deixando crianças sozinhas. Mas os relatos da vizinha do apartamento de cima mostram, além da negligência, a frieza dos McCann em relação aos filhos, principalmente Madeleine.
Na noite do dia 01 de maio, dois dias antes do suposto sequestro, Madeleine chorou e gritou “Papai” desesperadamente por mais de uma hora. Pamela Fenn, a vizinha de cima, deu seu depoimento à polícia em 20 de agosto, onde contou o que ouviu naquela terça feira.
Pamela afirmou que estava sozinha em casa quando por volta das 22:30 ouviu uma criança começar a chorar. Além do choro, que durou aproximadamente uma hora e quinze minutos, e que foi ficando mais alto e expressivo a cada minuto, a criança gritava “Papai, Papai”. Ela não teve dúvidas de que o barulho vinha do andar de baixo e que a criança era uma menina. Por volta das 23:45 ela ouviu as portas do pátio se abrirem e presumiu que eram os pais que haviam voltado. E assim que entraram no apartamento, a criança imediatamente parou de chorar.
Outra testemunha, chamada Vera, que também estava hospedada no resort afirmou que nessa mesma noite os McCann estavam no bar Chaplin (para onde o casal e os amigos foram após jantarem no Tapas Bar), bem distante dos apartamentos alugados. Ela disse ter certeza disso porque também estava lá com a filha e a neta naquela noite para jantar.
Por volta das 23:30 funcionários do resort apareceram para solicitar aos McCann que voltassem ao apartamento para cuidar dos filhos, que estavam sozinhos e chorando muito. Vera saiu do bar praticamente junto com os McCann porque sua neta estava cansada, e ao longo do caminho ouviu Kate e Gerry reclamando de terem que voltar e do staff do hotel ter invadido a privacidade deles.
Na manhã seguinte, Vera ouviu alguns dos funcionários do resort falando sobre o que havia acontecido na noite anterior. “Eles estavam conversando entre si enquanto eu estava na área da recepção esperando minha filha e neta descerem para me encontrarem para o café da manhã” contou ela. A opinião dos funcionários sobre a atitude dos pais de deixar seus filhos sozinhos não era lisonjeira e, de acordo com eles, é por isso que o hotel iria oferecer aos McCann uma babá gratuitamente nas próximas noites.
Última vez que Maddie foi vista por alguém fora do grupo
Uma testemunha portuguesa deu confirmação detalhada e independente de que Madeleine estava viva na hora do almoço no domingo, 29 de abril. Era uma arrumadeira que havia ido cuidar daquele bloco de apartamentos. Maria Serafim Espada não hesitou em confirmar que viu a criança na companhia de seus irmãos, mãe e pai.
Maria afirma que viu Madeleine, acompanhada por seus irmãos e mãe, deixar seu apartamento (5A) e caminhar até as escadas que levavam ao andar de cima. Madeleine liderou o caminho com um prato de plástico na mão e com um pedaço de pão. Quanto às roupas que vestia, Maria lembra apenas de uma saia, mas não consegue se lembrar de sua descrição. Ela notou o tipo de sapatos que Madeleine usava, tênis de uma cor clara com luzes ao longo das solas, que acendiam cada vez que ela pisava no chão. Seus irmãos seguiram atrás dela, usando o mesmo tipo de sapato e cada um segurando um pedaço de pão. A mãe seguiu atrás deles e momentos depois o pai saiu e também foi para o andar de cima.
Não há dúvida de que Maria Serafim da Silva Espada estava descrevendo Madeleine e a família McCann. Mas se pararmos para pensar nos outros avistamentos de Madeleine naquela semana, há muito poucos. É claro que existem alegações feitas pelos próprios McCann, seus amigos dos Tapas 7 e uma babá da creche, que era bem próxima aos McCann – mas nenhuma delas é uma testemunha verdadeiramente independente. Dos poucos outros avistamentos de Madeleine naquela semana, todos são vagos e poderiam facilmente se referir a outra menina loira.
Inclusive vale acrescentar que a filha de David e Fiona Payne, chamada Lilly, era somente dois meses mais nova que Madeleine e elas eram extremamente parecidas. Portanto, é possível que alguns relatos de outros hóspedes ou funcionários do resort na verdade se refiram à Lilly ao invés de Madeleine. Mas nunca saberemos com certeza.
Celulares
Na terça-feira, dia primeiro de maio, o aparelho celular de Gerald McCann ficou em silêncio o dia inteiro. O celular Kate McCann ativou a antena da Praia da Luz pela primeira vez às 10:16. Kate McCann atendeu sua última ligação antes de sair para o Tapas Bar às 20:35, e depois deixou o celular no apartamento, como todo o grupo de amigos fazia todas as noites.
O celular de Kate McCann foi ativado seis vezes entre 22:16 e 22:27, quando ela voltou ao apartamento 5A depois do jantar e antes do grupo sair para outro bar localizado do outro lado do complexo, o bar Chaplin. O tráfego da antena prova que essas chamadas não foram feitas para nenhum dos “Tapas 7”.
Pamela Fenn relatou que Madeleine chorou por seu pai entre 22:30 e 23:45. As evidências mostram que Kate McCann estava no apartamento 5A minutos antes de Madeleine começar a chorar. Terça-feira é a única noite (exceto, é claro, na quinta-feira, 3 de maio de 2007) em que um dos McCann ou algum de seus amigos telefonou após o jantar.
Na quarta-feira, 2 de maio de 2007, Kate McCann telefonou para sua amiga Amanda Coxon às 7:36, cerca de duas horas mais cedo do que qualquer uma das ativações de dispositivos móveis em qualquer outra manhã. Kate telefonou mais duas vezes, sem sucesso. Amanda retornou as ligações às 7:50. Não há registro de quanto tempo essa chamada durou. Curiosamente, o marido de Amanda se chama Paul Whitaker, e é patologista químico em Leicester.
Todos os registros dos celulares de Kate e Gerry foram excluídos da memória antes deles entregarem os aparelhos à polícia. Esses dados sobre as ligações foram obtidos pela polícia através da justiça, junto à companhia telefônica.
A última foto
Existe uma teoria de que a chamada “última foto de Madeleine” foi tirada vários dias antes, não em 3 de maio, e seus pais mudaram a data na câmera como uma maneira de fornecer uma prova de que Madeleine estava viva na quinta feira. Segundo os McCann, a foto foi tirada na hora do almoço em 3 de maio. O problema é que na hora do almoço, na quinta-feira, o céu estava nublado e o tempo estava frio.
O diário de Kate McCann também traz informações curiosas. Ela escreveu: “Na terça feira a tarde Gerry e eu decidimos levar as crianças para a praia. Para ser sincera, acho que eles ficariam felizes em voltar aos clubes, mas queríamos fazer algo um pouco diferente com eles, apenas nós cinco. Pegamos emprestado um carrinho duplo para facilitar a caminhada para Sean e Amelie. O clima não estava ótimo: na praia, começou a chover. Um pouco de chuva não é algo que incomoda um escocês como Gerry, mas Sean e Amelie não gostaram da sensação da areia molhada e insistiram, como crianças de dois anos, em serem carregados. Antes de subir a estrada, paramos em uma loja na esquina da Rua da Praia e Avenida dos Pescadores, pois Gerry precisava de um par de óculos de sol”.
Você deve estar se perguntando qual a relevância de todos esses detalhes minuciosos para alguma coisa. Eles chegaram no sábado, dia claro e ensolarado, com poucas nuvens. O domingo também estava claro, ensolarado e o horizonte com um céu azul brilhante. Segunda-feira estava nublada. Terça-feira Kate admite que choveu e o clima estava ruim, mas Gerry precisava de óculos escuros exatamente nesse dia. A suposta última foto mostra Gerry usando um par de óculos de sol. Nós sabemos que a foto deve ter sido tirada antes do dia em que eles reivindicam por causa do tempo ruim que durou até sexta feira, dia 4, então Kate estava tentando ressaltar que Gerry não tinha óculos de sol até terça-feira. Portanto, a foto não poderia ter sido tirada no sábado ou domingo, porque Gerry não tinha óculos de sol então.
Quem tirou a “fotografia oficial” do pijama de Madeleine?
A imagem em questão foi divulgada para a mídia mundial no fim da tarde de 10 de maio de 2007, após uma conferência de imprensa naquele dia. Muitos presumiram que já que foi a Polícia Judiciária que divulgou a fotografia, a própria PJ devia tê-la tirado. Porém, o que consta nos registros forenses é um pijama enviado pela Marks & Spencer, e encaminhado ao Laboratório Forense em Lisboa, a pedido de Gonçalo Amaral, juntamente com uma carta datada de 7 de junho. Esse pijama que consta nos autos, portanto, não pode ser o pijama cuja fotografia foi divulgada em 10 de maio.
Durante uma entrevista coletiva 7 de junho, Kate McCann se esforçou para explicar que o pijama exibido na foto do início de maio era de sua outra filha, Amelie. O problema é que o pijama que ela estava mostrando era grande demais para a menina, iria engolir Amelie. Em uma das fotos é possível ver que o pijama é tamanho 3 anos, e Amelie tinha apenas dois anos e era bem pequena para uma criança dessa idade. Madeleine sim tinha 3 anos (faria quatro alguns dias após desaparecer). Kate ainda afirmou que o pijama havia sido comprado no ano anterior, o que é pior ainda, porque Amelie só tinha 1 ano e meio nessa época. Se os pijamas de Madeleine McCann não foram de fato sequestrados e estavam em tour pela Europa, Madeleine McCann também não foi.
A fotografia oficial da coletiva de 10 de maio ainda apresenta o pijama exposto contra um tecido azul. O apartamento 5A possuía um sofá azul com um tecido idêntico ao fundo da foto dos McCann. Nós sabemos pelo depoimento de Gerry que Kate McCann era quem geralmente utilizava a câmera e tirava fotos da família. Ela fez um comentário bastante revelador, e meio sem querer, a respeito da fotografia à jornalista Olga Craig: “Não consegui mais usar a câmera desde que tirei a última foto de Madeleine”. Pode não parecer, mas essa afirmação traz consigo uma conotação muito séria.
Kate declarou em um de seus depoimentos e em seu livro que passou a manhã de quinta-feira sozinha no apartamento lavando a blusa de pijama de Madeleine, que estava com uma mancha estranha na gola que ela não havia notado antes, e presumiu que fosse uma mancha de chá do café da manhã. “Voltei ao nosso apartamento antes de Gerry terminar sua aula de tênis, lavei e pendurei o pijama de Madeleine na varanda”.
Em nenhum dos apartamentos dos amigos e nem no apartamento que os McCann ocuparam posteriormente havia nenhum móvel, roupa de cama ou de banho azul, muito menos naquele tom de azul exato do sofá do apartamento 5A. Isso nos indica que a foto foi tirada antes do dia 4 de maio, quando eles mudaram de apartamento, naquele local onde ela supostamente desapareceu.
Sem contar que a partir da tarde do dia 03 de maio, quando supostamente a última foto de Madeline com o pai e a irmã foi tirada, Kate não conseguiu mais usar a câmera, como ela própria disse na entrevista. Madeleine foi dada como desaparecida perto das 22h daquela noite.
E eu ainda não falei a parte mais comprometedora a respeito do pijama. John McCann, irmão mais velho de Gerry, foi uma das primeiras pessoas a ir para a Praia da Luz dar apoio à família. Em uma entrevista alguns dias depois que chegou, ele comentou sobre como a família estava apreensiva esperando por notícias e que foi terrível tentar explicar aos gêmeos pequenos porque a irmã mais velha não estava mais lá.
“Isso foi terrível para eles”, disse John. “Kate vestiu Amelie com o pijama da irmã e a bebê disse: “pijamas da Maddie. Onde está a Maddie?” Mas ela é jovem demais para entender. E como poderíamos explicar? Tudo o que sabemos é que Madeleine precisa de sua família. Ela nos ama, nós a amamos. É hora dela voltar para casa”. Sim, John McCann afirmou que o pijama de Madeleine ainda estava no apartamento. Pode até ser que Kate tenha levado mais de um pijama na mala para Madeleine usar na viagem, mas por que ela se daria ao trabalho de lavar a blusa de um pijama no meio da viagem de férias se tivesse outro na mala para a filha usar?
A família Smith
Pouco antes das 22h da noite de 3 de maio de 2007, a família Smith da Irlanda estava em um restaurante jantando na beira da praia e viu um homem carregando uma criança nos braços. O homem desviou os olhos para sinalizar que não desejava nenhum tipo de contato. Quando ficaram sabendo do sequestro da menina na praia, a família procurou a polícia e relatou exatamente o que eles viram.
Quatro meses depois, período em que os McCann nunca tentaram explorar esse avistamento potencialmente crucial dos irlandeses, a família Smith estava assistindo TV. Eles viram os McCann retornando ao Reino Unido e observaram Gerry deixar o avião e atravessar a pista com Sean nos braços. O pai, Martin Smith, ficou chocado. Ele reconheceu o estilo de andar e a maneira como a criança estava sendo segurada contra o ombro de Gerry. Era exatamente como o homem que ele viu nas ruas da Praia da Luz, quatro meses antes. Ele ligou para a polícia imediatamente e deu essa informação, e disse ter cerca de 80% de certeza que aquele era o homem que ele viu. Mas ele nunca foi chamado para dar um depoimento formal e essa pista nunca foi investigada.
Os avistamentos da família Smith foram completamente ignorados pelos McCann e seus detetives particulares desde o primeiro dia. Mas não deveriam, afinal eles são testemunhas independentes cujas descrições do homem que eles viram nunca mudaram. Sem contar que o avistamento ocorreu apenas alguns minutos antes de Kate dar o alarme, e a apenas 250 metros do apartamento.
Vários membros da família testemunharam esse homem carregando uma criança. Além disso, a área geral e o horário dos avistamentos feitos pela família podem ser corroborados por um recibo de restaurante daquela noite.
A descrição geral do homem se parece um pouco com Gerry McCann e a descrição da criança corresponde a Madeleine. Esse avistamento nunca deveria ter sido ignorado, afinal foram várias pessoas que o testemunharam e que possuíam uma riqueza de detalhes incrível. Poderia ser Gerry McCann carregando uma Madeleine desacordada ou morta?
Quanto tempo Gerry demorou para voltar à mesa quando foi ver as crianças?
Svetlana Vitorino era assistente de cozinha no Tapas Bar na noite em que Madeleine McCann desapareceu. Em uma entrevista por e-mail ela me contou que na noite em questão “um dos homens do grupo, que acredito ser Gerry McCann, deixou a mesa de jantar por cerca de 30 minutos. Depois dele voltar, Kate McCann também deixou a mesa, e menos de 10 minutos depois todos do grupo se levantaram e saíram também, exceto uma senhora idosa (Dianne Webster), que disse aos garçons que uma das crianças tinha desaparecido.” Se a lembrança de Svetlana estiver correta, as implicações de Gerry deixar a mesa por 30 minutos poderiam ser imensas.
O garçom do Tapas Bar, Joaquim Batista, afirmou em depoimento à polícia no dia 4 de maio que “o primeiro homem do grupo a se levantar tinha cerca de 40/45 anos, cabelos grisalhos e era alto. Ele ficou fora por cerca de 15 minutos e tivemos que reaquecer sua comida quando ele retornou, porque ela havia esfriado”. Joaquim mencionou também outro homem que saiu da mesa: “O segundo a sair também tinha cerca de 40/45 anos, as características físicas parecidas com o primeiro, mas com cabelos menos volumosos, e esse ficou fora por cerca de 30 minutos. Logo após ele voltar , todos deixaram a mesa, exceto uma mulher idosa”.
A descrição física do primeiro homem bate com Russell O’Brien, e sabemos que ele foi um dos primeiros a se levantar e que de fato seu jantar precisou ser reaquecido. A descrição do segundo homem, é um tanto parecida com Gerry McCann.
Na entrevista de Jane Tanner com a polícia, em 8 de abril de 2008, ela mencionou que Gerry de fato demorou mais do que deveria quando foi ver as crianças: “Gerry foi checar e demorou mais do que o normal, porque eu me lembro de Kate dizendo ‘aposto que ele ligou a TV e está vendo o futebol’. Então ele demorou sim um pouco mais do que o normal”. Quando Jane saiu da mesa para checar os próprios filhos, ela passou por Gerry na rua, que estava conversando com um conhecido, Jeremy Wilkins. Quando perguntada quanto tempo Gerry esteve ausente antes dela checar as crianças e encontra-lo no caminho, Jane disse: “Bem, acho que deve ter sido pelo menos por quinze minutos. Não tenho certeza”.
O relato de Svetlana, juntamente com o de Joaquim e Jane, levanta a possibilidade de Gerry ter ficado fora por meia hora para esconder o corpo de Madeleine ou para montar a cena de sequestro no apartamento. Kate pode ter tentado plantar a semente na cabeça dos Tapas 7 que a demora de Gerry foi por causa do futebol.
David Payne – comportamentos a palavras inapropriados
Doze dias depois que Madeleine desapareceu, um casal procurou a polícia britânica para revelar um comportamento estranho e inapropriado de um dos membros do grupo. Os depoimentos chegaram à Polícia Judiciária somente em janeiro de 2008. David Payne, um dos amigos dos McCann que estava de férias em Portugal quando Madeleine desapareceu, era suspeito de comportamentos pedófilos.
Katherina e Savio Gaspar foram à polícia fazer uma declaração ondes revelaram duas conversas entre Dave e Gerry, durante as quais ambos revelaram comportamento suspeito e indicaram sexo com menores de idade. Katherina fez uma declaração de oito páginas. Ela relatou férias em Maiorca com vários ingleses, incluindo os McCann e os Paynes, onde dois incidentes a deixaram com sérias dúvidas sobre o comportamento dos amigos e a levaram a criar suspeitas que nunca foram confirmadas.
O primeiro incidente aconteceu em uma noite em que Gerry e David estavam conversando sobre Madeleine. Katherina não sabe o que eles estavam dizendo, mas lembra que Dave chupou os dedos dele, empurrando-os na boca e puxando-os novamente, enquanto a outra mão traçava um círculo ao redor do mamilo, com um movimento circular sobre as roupas. “Isso foi feito de maneira provocativa”, lembra Katherina, que diz que essa cena ficou presa em sua memória.
Dias depois, a cena se repetiu. E Katherina viu Dave fazendo os mesmos gestos novamente, enquanto falava sobre sua própria filha. Assustada, Katherina não falou nada para ninguém nesse dia, mas tomou especial cuidado, pedindo ao marido que nunca deixasse a filha sozinha com David e que não deixasse o médico chegar perto do banheiro quando a filha estivesse tomando banho.
Savio contou a mesma história. O companheiro de Katherina confirmou os gestos que foram feitos por Dave durante a conversa com Gerry, mas afirmou que ele não sabia que eles estavam falando sobre Madeleine. Ele achou o comportamento de muito mau gosto, mas não o viu sendo repetido. O incidente acabou esquecido em sua memória e foi apenas o desaparecimento de Madeleine, que também estava com eles nas férias de Maiorca, que o reviveu.
Durante o depoimento, Katherina foi ainda mais longe e disse que associou os gestos a alguém que gosta de assistir pornografia infantil. “Lembro-me de pensar se ele olhava as meninas de uma maneira diferente”, concluiu. O casal chegou a conversar sobre David, Gerry e os gestos e comportamentos estranhos quando voltaram, e decidiram que seria bom se afastar um pouco dos McCann. Sobre os Payne, eles não se conheciam antes dessa viagem e só os viram depois disso uma única vez, em um jantar de amigos em comum.
David Payne também disse coisas bem estranhas em suas entrevistas com a polícia. Em abril de 2008 ele foi perguntado se existia algo que ele considerasse pertinente ou relevante para estabelecer a verdade material acerca do desaparecimento de Madeleine, e ele respondeu: “Existem algumas coisas, mas eu não acho que este seja o momento ou local certo para abordá-las”. E depois, o policial pediu para que ele descrevesse Madeleine e sua resposta foi ainda mais estranha porque ele começa a se referir a Madeleine no presente e depois passa a se referir a ela no passado.
“Madeleine é uma criança muito impressionante e linda, e ela tem uma aparência única. Ela ficou muito bonita, com aquele cabelo loiro brilhante, ela era uma criança bem pequena para a idade e ela era muito borbulhante, uma criança muito boa para interagir. Ela era muito inteligente, você podia se divertir muito com Madeleine, e você sabe que ela era o orgulho e alegria de Kate e Gerry. Eles tiveram muitos problemas para conceber, com fertilização in vitro e tudo e Madeleine era o milagre deles. Ela era obviamente muito única com o fato de ter recebido aquele defeito, aquela mancha na íris. Ela certamente era uma criança feliz e que sabia interagir muito bem com as outras crianças. Como eu disse em um depoimento anterior, ela brincava muito feliz com a Lilly (filha dos Payne). Ela era, quer dizer, ela é uma criança muito bonita e divertida”.
Posteriormente em uma entrevista para um jornal britânico, ele disse: “Sabemos que Os McCann não fizeram isso. Uma pessoa de nosso grupo viu Madeleine ser sequestrada (Jane Tenner). Estávamos esperando que algo acontecesse, mas não achamos que seria o nosso pior pesadelo”. O que David esperava que acontecesse? E por que ele esperava que algo acontecesse?
Última pessoa a ver Madeleine viva
As horas que antecederam o alarme de Kate sobre o desaparecimento de Madeleine na quinta feira são tão confusas quanto o resto da viagem. Segundo os relatos, às 17h Madeleine e os gêmeos estavam no Tapas Bar jantando acompanhados dos pais. Por volta das 17:40, Kate, Gerry e seus filhos estavam de volta ao apartamento. Gerry então saiu para participar de um torneio social de tênis masculino às 18h. Às 18:30, o infame David Payne apareceu no apartamento, a pedido de Gerry, para ver se Kate precisava de ajuda para preparar seus filhos para irem ao parquinho com as outras crianças. Kate decidiu não ir, porque Madeleine estava se sentindo cansada.
David Payne então se tornou o último membro do Tapas 7 a ver Madeleine viva e bem. Gerry voltou das partidas de tênis às 19:00 e as crianças McCann foram colocadas na cama para dormirem.
Existem diferenças marcantes entre os relatos desse dia dados por Gerry, Kate e David. A visita durou 30 segundos de acordo com Kate, de 3 a 5 minutos na versão de David ou, da perspectiva de Gerry, 30 minutos. Kate se lembra de ter ido à porta usando uma toalha e que David não entrou no apartamento, enquanto David afirma que ele definitivamente entrou e não consegue se lembrar do que Kate estava vestindo. Também existem discrepâncias sobre a hora que David saiu da quadra para ver se Kate precisava de ajuda e a hora que ele voltou.
Existem algumas explicações mais cínicas para as discrepâncias sobre a visita de David a Kate. Um desses cenários é David ter chegado no apartamento e visto que Madeleine estava ferida ou morta. Depois disso, David pode ter retornado à quadra de tênis para buscar Gerry. Na entrevista policial de David, em 11 de abril de 2008, ele descreve ver as crianças: “você sabe que elas pareciam imaculadas, eram como anjos, os três pareciam tão felizes e bem cuidados e contentes. Eles pareciam crianças tão saudáveis”. A ansiedade de David em retratar especificamente as crianças como saudáveis pode ser vista como suspeita e talvez uma compensação pela cena que ele realmente viu. Como alternativa, na entrevista policial, ele pode ter interpretado as perguntas como implicando que Madeleine estava morta durante essa visita e queria dissipar essa noção.
Outra explicação possível para os vários relatos da visita de David é que a visita nunca ocorreu. A visita pode ter sido criada para fornecer alguma forma de álibi para Madeleine estar viva naquele horário. É pelo menos uma curiosidade que o último avistamento de Madeleine além dos pais tenha sido inconsistentemente lembrado pelos três e que tenha sido logo David Payne.
Conclusão
Não há mais pressão sobre os McCann atualmente, porque quem se atreve a apontar o dedo para eles tem o dedo cortado rapidamente. Eles claramente tem pessoas muito influentes dando-lhes suporte, como até mesmo o ex-primeiro ministro britânico. Até hoje a Scotland Yard se recusa a investigar o casal McCann e os Tapas 7, e não colabora com investigações internacionais que girem em torno dessas nove pessoas.
Como o próprio Gerry já disse algumas vezes, não há evidências que sugiram que Madeleine não esteja viva. É verdade, não existe. Mas há muitas evidências circunstanciais que, pelo menos, põe em dúvida a história do sequestro. Na verdade, não existe nenhuma evidência de um sequestro.
Quando questionado pela imprensa sobre ser considerado um suspeito no desaparecimento de Madeleine, Gerry disse: “encontre o corpo e prove que o fizemos”. É exatamente esse tipo de fala que gera tanta especulação em relação à ele e Kate. Esse tipo de comportamento já era comum logo que Madeleine desapareceu e continua até hoje.
Estatisticamente, é mais provável que Madeleine tenha sido morta por seus pais do que sequestrada. Como Gerry mesmo afirmou, tinha uma chance em um milhão disso acontecer (uma criança ser levada da cama por um sequestrador). A maioria das mortes prematuras de crianças ocorre nas mãos de um membro da família. Não sabemos o que aconteceu com Madeleine, mas as autoridades portuguesas estão convencidas de que ela morreu no Ocean Club e a reação dos cães e o DNA obtidos nas cenas são indicativos disso.
A polícia portuguesa acredita que os McCann administravam sedativos em seus filhos para fazê-los a dormir enquanto Kate e Gerry estavam ausentes, no Tapas Bar. Eles afirmam que Madeleine pode ter morrido diretamente em consequência de uma overdose de sedativos ou indiretamente, tendo acordado no meio da noite e sofrido algum acidente ou queda dentro de casa devido à sonolência. As razões para Kate e Gerry resolverem esconder o corpo de Madeleine também podem ser muitas, entre elas o temor de que uma autópsia fosse feita e expusesse o fato de terem dado a Madeleine um sedativo que levara à morte dela. O que poderia levar à um possível tempo de prisão, à perda das licenças médicas dos dois e até a perda da guarda de seus outros filhos.
Eu me pergunto porque pedofilia está sempre envolvida nesse caso. Foi uma das primeiras hipóteses levantadas pelo próprio Gerry ainda no dia do desaparecimento. Além disso temos relatos de atividades suspeitas dele e de David Payne, como consta nos depoimentos do casal Gaspar. Sem contar o número de pedófilos europeus notórios, cujos nomes eu prefiro não citar aqui, que eram amigos íntimos do casal McCann.
Enquanto eu preparava esses artigos, um novo suspeito surgiu no caso, um pedófilo alemão que está preso por outros crimes que cometeu. A Polícia Judiciária está cooperando com os investigadores alemães, e no momento eles procuram por vestígios de Madeleine em poços ao redor da Praia da Luz, onde o suspeito residia em 2007. Temos que esperar para ver onde isso vai levar, se esse suspeito será indiciado ou se, como eu suspeito, essas buscas nos poços da Praia da Luz podem ser uma forma da Polícia Judiciária também investigar os McCann (além de ajudarem na investigação desse suspeito), sem serem incomodados pela Scotland Yard.
Referências:
Reddit
Daily Mail
McCann PJ Files
A verdade da mentira – Gonçalo Amaral
Madeleine: Our daughter’s disappearance and the continuing search for her – Kate McCann
Find Madeleine Official Website
BBC
Gerry McCann’s Blog