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O que aconteceu com Madeleine McCann? – Parte 1

O caso do desaparecimento da Madeleine McCann, em 2007, é o caso de pessoa desaparecida mais famoso da história, entrando até para o livro dos recordes. Todo mundo já ouviu falar sobre a menina britânica sequestrada em seu quarto no apartamento que seus pais alugaram para as férias em Portugal. Por isso que simplesmente te contar a história do desaparecimento de Maddie e as teorias que existem a respeito não é algo que me interessa. Esse artigo será focado na minha conjectura do que houve, que foi sendo elaborada ao longo dos anos com base em todas as informações que foram divulgadas tanto pela imprensa quanto pela Polícia Judiciária de Portugal, que em 2008 liberou os arquivos do caso e das investigações para o público.

Um dos posteres de pessoa desaparecida
Fonte: Find Madeleine Official Website

No início, pelo que se sabia até então, realmente parecia que aconteceu um sequestro e logo pediriam resgate e Madeleine seria devolvida. Mas os dias foram passando, ninguém entrou em contato, a polícia portuguesa continuou investigando e foi descobrindo muitas inconsistências e mentiras no caso. Os anos se passaram e Maddie nunca reapareceu. De vez em quando eu lembrava desse caso e resolvia procurar saber se havia novidades, e recentemente resolvi estudar os arquivos da Polícia Judiciária a fundo para ver o que de fato se sabe sobre o dia em que ela desapareceu e as semanas seguintes.

Tudo é muito nebuloso em relação à família, àquele dia específico e até mesmo à todos os outros dias de férias. O apartamento já estava contaminado, cheio de gente e revirado quando a polícia chegou, então as investigações foram comprometidas desde o primeiro momento. A polícia portuguesa foi um pouco incompetente, principalmente nas primeiras 48 horas, que nós sabemos que são cruciais em qualquer caso de assassinato ou desaparecimento. Eles desde o início investigaram a ideia de sequestro que foi sugerida pelos pais, sem focar nos principais suspeitos que seriam os próprios McCann.

Retrato da família McCann
Fonte: In Touch Weekly

Mas as investigações não foram para a frente muito mais por culpa dos pais e dos amigos (chamados Tapas 7 – os sete amigos que estavam com os McCann na viagem e jantavam no Tapas Bar quando Madeline desapareceu), que não colaboraram, atrapalharam e mentiram ao longo das investigações. Além disso, houve muita interferência e pressão política sofrida pelos investigadores portugueses, que envolveu até os primeiros ministros de Portugal e Reino Unido. Os McCann são pessoas extremamente influentes e bem relacionadas, ao ponto que assim que Madeleine desapareceu o porta voz do governo britânico pediu demissão para poder passar a trabalhar exclusivamente com eles. Em certo momento, a polícia portuguesa ficou completamente de mãos atadas e teve que encerrar as investigações, que passaram a ser lideradas pela Scotland Yard, que cuida do caso até hoje.

Gerry, Kate e os Tapas 7
Fonte: Mirror TV

Minha teoria é a de que algo aconteceu com Madeleine ao longo da semana, que resultou na morte da menina e isso foi encoberto pelos pais e amigos, que depois encenaram esse suposto sequestro. E agora eu vou te explicar exatamente o que me levou a pensar de tal forma, e as razões e evidências que tenho para corroborar minhas suspeitas.

Familiares sempre são suspeitos

Quem já leu todos os artigos do blog não deve estar achando isso tão estranho, porque sabe que quando alguém desaparece as primeiras pessoas investigadas são sempre as pessoas mais próximas, nesse caso os pais. Mas no caso de Madeleine McCann foi diferente. Assim que Kate McCann viu que sua filha não estava no quarto começou a gritar “Eles a levaram! Eles a levaram!”. E uma das primeiras afirmações feitas pelo pai, Gerry McCann aos amigos e familiares foi que Maddie havia sido sequestrada por um grupo de pedófilos.

Oi? Sua filha sumiu há alguns minutos e você já parte para essas suposições? Se você deixa uma criança de 3 anos e duas crianças de 2 anos dormindo sozinhas num apartamento em outro país, a primeira coisa que você devia fazer era chamar a polícia, alertar aos funcionários do hotel e sair procurando pela criança porque ela pode simplesmente ter acordado, aberto a porta e saído andando por aí para procurar os irresponsáveis que a deixaram só.

O prédio no Ocean Club Resort, onde Madeleine desapareceu
Fonte: BBC

Mas o casal McCann deu esse alarme de sequestro e pedófilos, e ao invés de ligar direto para a polícia, eles ligaram para amigos e familiares na Inglaterra para avisar que Maddie havia sido sequestrada. Eles inclusive ligaram para alguns jornalistas britânicos e as notícias logo na manhã seguinte no mundo todo eram que uma menina britânica de 3 anos havia sido sequestrada na Praia da Luz em Portugal. Depois disso, os pais alertaram aos funcionários do hotel, que chamaram a polícia, e junto com alguns hóspedes começaram uma busca pela menina.

Kate McCann – “Eles a levaram!”

É curioso que Kate imediatamente tenha presumido que alguém tenha sequestrado Madeleine. O comportamento “normal” nessa situação seria ela começar a gritar por ajuda e chamar pela filha para tentar encontrá-la. Pelo que conheço sobre desaparecimentos de crianças, os pais nunca simplesmente presumem que a criança foi sequestrada, até porque esse é um pensamento muito doloroso.

E se Kate realmente achasse que sua filha foi sequestrada, ela deixaria os outros dois bebês sozinhos no apartamento para voltar até o bar e avisar ao marido? Não era nem possível saber se o sequestrador ainda estava por perto ou se ele agiu sozinho. Então, eu gostaria de acreditar que ela não deixaria os gêmeos correndo o risco de serem levados também. Mas foi exatamente o que ela fez.

Amelie, Madeleine e Sean
Fonte: The Mirror

As palavras-chave na reação imediata de Kate (Eles a levaram!) são ELES e A – lembre-se, havia outra filha naquele apartamento, Maddie não era a única menina. A probabilidade então é que a primeira afirmação de Kate nesse caso fosse “Madeleine sumiu!”. Ela não presumiria imediatamente que “eles a levaram”, porque ninguém entenderia de qual das duas meninas ela estava falando. A não ser que Kate e os amigos soubessem quem são ELES e que todo o grupo soubesse que A LEVARAM se tratava especificamente de Maddie, e não de Amélie.

A janela e a persiana

Quando a polícia chegou ao local foi informada que a mãe havia entrado no quarto e visto que a janela estava aberta e a persiana estava quebrada por ter sido forçada pelo lado de fora, e que Madeleine McCann de 3 anos havia sido sequestrada. A polícia isolou o apartamento imediatamente e mandou a família McCann passar a noite em um quarto vago no hotel, antes de serem realocados definitivamente em outro apartamento no complexo.

Foto dos arquivos da Polícia Judiciária na noite de 3 de maio, mostrando as janelas fechadas
Fonte: PJ Files

A perícia esteve no local e examinou todo o apartamento ainda na madrugada do dia 3 para o dia 4 de maio e divulgou que, ao contrário do que foi relatado por Kate, as persianas não estavam quebradas, não havia nem sinal de que alguém tivesse mexido nelas e as janelas também não foram arrombadas. As únicas impressões digitais que constavam na janela eram as da própria Kate McCann. As janelas estavam trancadas por dentro e as persianas imperturbáveis.

Foto da PJ mostrando a janela pelo lado de dentro, na noite de 3 de maio
Fonte: PJ Files
Cuddle Cat – o gatinho de Maddie

No seu primeiro depoimento, no dia 4 de maio, Kate disse que o fator que lhe deu a certeza que Maddie havia sido sequestrada foi que seu gatinho de pelúcia preferido (com o qual ela dormia todas as noites), chamado de Cuddle Cat, estava em uma prateleira ou beiral no alto do quarto, um local onde Maddie não alcançaria.

O Cuddle Cat
Fonte: BBC

Essa realmente poderia ser uma pista de que houve um sequestro. Porém, podemos ver em fotos da cena do crime, tiradas ainda naquela noite pela perícia, dois objetos cor de rosa na cama de Madeleine. Um item maior em um tom de rosa mais forte, que é o cobertor com que Madeleine dormia, e um item menor em um tom de rosa mais claro, o Cuddle Cat. Não só o gatinho está ao lado do travesseiro, como não é possível ver nada no quarto (como uma prateleira ou beiral) que fosse alto e que Maddie não pudesse alcançar.

Foto da PJ mostrando a cama de Maddie na noite de 3 de maio
Fonte: PJ Files

Só podemos concluir que ou Kate estava mentindo ou mudou o gatinho de lugar. Infelizmente, como Kate foi a primeira pessoa a entrar no quarto e demorou bastante tempo até a polícia chegar e isolar a cena, a palavra dela não pode ser verificada objetivamente. Dada à posição do brinquedo no travesseiro, não se pode acreditar na palavra de Kate, a menos que alguém testemunhasse ter visto o brinquedo “lá em cima”, o que não aconteceu.

Jane Tanner e o “ovo com cabelo”

A única outra “evidência” de um possível sequestro foi o relato de Jane Tanner, dos Tapas 7, de ter visto um homem misterioso atravessando a rua carregando algo. Jane disse que havia ido checar seus filhos e no caminho para o apartamento, passou por Gerry McCann e um conhecido dele chamado Jeremy, conversando na calçada. Após passar por eles, ela avistou um homem atravessando a rua carregando algo nos braços. No dia seguinte do desaparecimento de Madeleine, Jane contou para a polícia sobre o homem que viu e disse que tinha certeza que ele a estava sequestrando.

Se seus amigos estão desesperados falando que a filha foi sequestrada, porque você espera até o dia seguinte para contar que pode ter visto o sequestrador? O relato de Jane mudou diversas vezes, e a cada depoimento ela descrevia o homem de uma maneira diferente. No primeiro depoimento era um homem carregando alguma coisa. O retrato falado feito por ela nesse dia inclusive é até hoje caçoado pela mídia e pelo público, e é chamado de ovo com cabelo, devido aos “detalhes” fornecidos por ela. Já no terceiro ou quarto depoimento, o homem não só era mais detalhado, como ele estava carregando uma menina com um pijama rosa exatamente igual ao que Maddie usava naquela noite.

Retrato falado de Jane Tanner do dia 4 de maio
Fonte: Gerry McCann’s Blog

O problema, além dessas descrições irem mudando para se adequarem melhor à história do sequestro, é que Gerry e Jeremy, por quem ela diz ter passado na calçada, afirmam não a terem visto. E dizem inclusive que estavam do lado oposto da calçada onde Jane diz ter passado. Ela é a única pessoa que afirma ter visto um homem estranho atravessando a rua, sendo que Gerry e Jeremy também o teriam visto se o relato fosse verdadeiro.

O retrato falado feito por Jane em outubro de 2007
Fonte: Daily Mail

Além de todas as inconsistências de sua história, segundo os garçons do Tapas Bar, Jane Tanner em momento algum deixou a mesa que ocupava com os amigos naquela noite. Os relatos dos garçons e do staff do restaurante são importantes porque eles conheciam bem o grupo, que ia todas as noites ao local e sempre ocupava a mesma mesa.

Reunião de amigos – elaborando a linha do tempo

Ao invés do grupo sair para procurar Madeleine, assim como os funcionários e alguns hóspedes do hotel se prontificaram a fazer, os Tapas 7 se reuniram com Gerry e Kate McCann no apartamento do casal Rachel e Matthew Oldfield para “organizar a linha do tempo do que aconteceu naquela noite”. Eles literalmente pegaram um quadro branco e foram anotando onde cada um estava, o que estavam fazendo e os horários em que cada pessoa supostamente se levantou da mesa para ver as crianças.

O quadro branco que eles usaram
Fonte: Gazeta Digital

A polícia encontrou esse quadro com as anotações e questionou a todos sobre isso, e Russel O’Brien (marido de Jane Tanner, que você já teve o prazer de conhecer) confirmou em depoimento que eles estavam reunidos naquela noite para “juntar as cabeças e traçar os horários e acontecimentos”. Não é algo necessariamente incriminador, mas é curioso que ao invés de saírem para procurar Madeleine, eles tenham se reunido para pensar friamente nos movimentos de cada um e no que falar para a polícia.

Portas destrancadas

Os McCann disseram originalmente que as portas do apartamento estavam trancadas, e que o sequestrador havia arrombado e entrado pela janela. Mais tarde, quando ficou claro que a janela e as persianas não haviam sido mexidas e as únicas digitais eram de Kate, os McCann mudaram sua versão e disseram que uma das portas “provavelmente estava destrancada”.

Porta principal ao lado da janela na noite de 3 de maio
Fonte: PJ Files

Eles falaram que a porta principal, próxima à janela do quarto das crianças, era a que devia ter ficado destrancada. Gonçalo Amaral, o principal investigador português do caso, disse aos McCann que eles próprios afirmaram em seus depoimentos que todas as vezes em que foram checar as crianças no apartamento eles entraram pela porta principal, e para se chegar nela passa-se em frente à janela do quarto das crianças. Então, nesse caso, quem fosse checar as crianças teria visto se houvesse algo errado ou diferente com a janela e as persianas, principalmente se elas fossem arrombadas.

Planta do apartamento 5A
Fonte: PJ Files

Os McCann então mudaram sua versão novamente e disseram que deve ter sido a porta do pátio que eles deixaram destrancada e por onde entraram para ver se as crianças estavam bem. Eles ainda acrescentaram que deixaram essa porta aberta “em caso de incêndio”, como se três crianças com menos de três anos de idade fossem saber o que fazer e por onde fugir caso o apartamento pegasse fogo.

Porta da varanda do apartamento 5A
Fonte: PJ Files

No fim das contas, tornou-se a versão oficial que ambas as portas foram deixadas destrancadas pelo casal, que afirmou se sentir muito seguro no local. E não viram problema em fazer isso porque conseguiam ver bem o apartamento da mesa que ocupavam no Tapas Bar, o que não é verdade, pois não era possível enxergar os apartamentos no bar, a única coisa possível de se ver era a parede branca arredondada da lateral do edifício.

Pôsteres, folhetos e buscas

No dia 4 de maio, ainda na parte da manhã, os McCann mandaram imprimir pôsteres com fotos de Madeleine, informando que ela havia desaparecido e pedindo que quem tivesse informações entrasse em contato, o que foi surpreendente, já que ela poderia ser encontrada facilmente nas próximas horas.

Um dos posteres de desaparecida
Fonte: Crimestoppers

Em vez de usar uma foto recente de Madeleine para a campanha e os pôsteres, os McCann usaram fotos antigas, de pelo menos um ano antes, o que causou estranheza aos investigadores, já que crianças mudam muito rápido. Portanto era essencial usar uma foto o mais atual possível de Madeleine. Além disso, eles usaram uma foto que mostrava claramente uma característica única dos olhos de Maddie, uma mancha em sua íris, chamado de coloboma.

Pôster evidenciando o coloboma
Fonte: The Sun

A divulgação dessa aparência ocular singular, foi uma grande preocupação para os investigadores, que alertaram que Madeleine poderia correr um grave perigo caso realmente tivesse sido sequestrada. Aquele fator excepcional e muito específico de identificação significava que ela nunca seria capaz de ser ocultada com sucesso ou de ser passada por outra pessoa, independentemente de sua idade ou aparência. O tal sequestrador seria tentado a descartá-la rápida e silenciosamente. Então, por que a aparência de sua pupila foi tão enfatizada? Ainda mais do que uma foto atual da criança?

Notícia sobre o coloboma
Fonte: Daily Mail

Gonçalo Amaral pessoalmente conversou com Gerry McCann e explicou todos os riscos de enfatizar essa característica, além de ter destacado que a revelação do coloboma de Madeleine poderia ser sua sentença de morte. Gerry, no entanto, optou por seguir em frente, em suas próprias palavras, com sua “boa jogada de marketing”.

Fundo Madeleine McCann

Nos dias seguintes ao desaparecimento, o casal McCann manteve uma rotina quase normal, jogando tênis, caminhando e participando de outras atividades do resort. A diferença foi que eles contrataram um porta voz, começaram a dar diversas entrevistas, fizeram uma turnê pela Europa para falar do desaparecimento e lançaram o Fundo Madeleine McCann. O objetivo do fundo era aceitar doações financeiras para ajudar no crescente custo associado ao caso, tanto para financiar a campanha e as buscas por Maddie, como para oferecer uma recompensa para quem tivesse informações concretas sobre o paradeiro dela.

Fundo Madeleine McCann
Fonte: The Telegraph

Milhões de libras foram doados por pessoas da Europa inteira, incluindo milionários e celebridades, como J.K Rowling, Richard Branson e Simon Cowell. Mas em outubro de 2007, os McCann foram criticados por usar parte do fundo para fazer os pagamentos de suas hipotecas. Eles defenderam sua decisão na época, com o porta-voz da família Clarence Mitchell, emitindo a seguinte declaração: “O fundo sempre teve a capacidade de ajudar a família financeiramente, se necessário”.

Notícia relatando pagamento da hipoteca
Fonte: BBC

A recompensa oferecida pelo fundo, no valor de 1,5 milhões de libras, foi uma das maiores recompensas já disponibilizadas, mas os McCann nunca a divulgaram pessoalmente na televisão ou publicaram a recompensa no site do Fundo. Este é um dos melhores incentivos para se obter informações e quase ninguém da equipe McCann mencionou essa enorme recompensa. E apesar de tanto dinheiro ser oferecido, não houve avistamentos ou informações críveis sobre o sequestro, e ninguém nunca se apresentou para tentar reivindicá-la.

Recompensa
Fonte: News of the world

O site do Fundo Madeleine McCann também possuía um blog, onde Gerry escrevia todos os dias. Mas ao invés de focar em Madeleine, ele apenas fornecia informações constantes e inúteis sobre a rotina diária da família e sobre como “as coisas estão voltando ao normal”. A característica alegre do blog e o egocentrismo do conteúdo eram um sinal de desconexão entre os McCann e Madeleine, e revelava como eles estavam seguindo em frente sem ela.

Print do antigo blog de Gerry McCann
Fonte: Gerry McCann’s Blog

A impressão que se tem ao ler os posts de Gerry é que ele estava estabelecendo Madeleine como uma marca. No site eles vendiam pôsteres, braceletes, camisetas, tags de malas e vários outros itens. Se a sua filha sumiu, é do seu interesse que as pessoas baixem, imprimam e distribuam os pôsteres dela, não fazer com que elas paguem por eles.

Eddie e Keela – os cães farejadores

Em agosto de 2007 dois cães farejadores foram levados do Reino Unido para Portugal. Os cocker spaniels Eddie e Keela viajaram com seu treinador Martin Grime, e entraram no apartamento 5A, um de cada vez, para ver se encontravam algo. Eddie era o cão especialista em farejar odores de decomposição de cadáveres e considerado o melhor em seu campo, sem falsos positivos, e Keela era a especialista em farejar sangue humano, também considerada uma das melhores em sua área.

Eddie e Keela, os cães farejadores
Fonte: Reddit

“Quando o cão indica um alerta em algum local ou objeto, isso significa que há fluidos eminentes da decomposição humana ou sangue humano naquele lugar específico” explicou Martin. Ele também esclareceu que os odores emitidos pela decomposição humana são muito persistentes, muito pungentes, a ponto de ser possível localizar túmulos 40 anos depois que o corpo foi removido do local, mesmo que o corpo tenha ficado lá apenas por um curto período de tempo.

Já em relação ao sangue humano, Martin esclareceu que mesmo que tenha acontecido algum crime e tenham limpado a cena, isso não significa que não há mais nada para ser encontrado. O sangue é uma substância que pode penetrar facilmente por brechas entre azulejos, tábuas de assoalho, cantinhos de rodapés, e esses são somente alguns exemplos. E mesmo que o sangue não esteja mais visível e todos os lugares tenham sido limpos com alvejantes e outros produtos de limpeza, ainda haverá odores através dessas brechas, que o cão treinado sentirá e responderá indicando o local.

É claro que isso também significa que os cães poderiam alertar sobre possíveis odores que já estavam no apartamento muito antes dos McCann terem estado lá. Porém, quando questionados se alguém já havia morrido ali antes, a dona do apartamento e os funcionários do resort (responsáveis por sua manutenção) esclareceram que isso nunca ocorreu.

Video mostrando todo o procedimento com os cães no apartamento e no estacionamento.
Fonte: YouTube

Eddie foi enviado primeiro e percorreu todo o apartamento. No vídeo é possível ver que Eddie fica agitado no momento em que é solto pelo treinador e entra no local. Martin explicou que Eddie não alerta em nenhuma outra situação, exceto quando ele sente o cheiro que está procurando: o cheiro de um cadáver humano. Ele farejou todo o apartamento, todos os cantos, e quando encontrou cheiro de decomposição ele latiu e ficou parado no lugar indicado.

As imagens mostram Eddie farejando a área da sala antes de entrar no quarto de Kate e Gerry, cheirando as camas e seguindo para o guarda-roupa. É aí que o cachorro se vira e late com urgência para o treinador. Eddie também latiu em um ponto atrás do sofá azul perto da janela na sala. Além destes dois locais importantes dentro do apartamento, ele alertou para a varanda do lado de fora do quarto dos pais e o canteiro de flores na parte de trás do apartamento 5A.

Quando levado para farejar os pertences dos McCann, que foram expostos junto com pertences aleatórios de outras pessoas, Eddie alertou para uma blusa branca de Kate McCann, calças xadrez também pertencentes a Kate, uma camiseta vermelha de criança e ao Cuddle Cat.

Itens e locais sinalizados pelos cachorros e marcados pela perícia
Fonte: PJ Files

Keela foi levada separadamente para farejar o apartamento 5A. Depois que Eddie foi retirado do apartamento, ela entrou e começou seu trabalho. Curiosamente, Keela também parou, latiu e alertou na mesma área atrás do sofá onde Eddie havia alertado. Keela também encontrou um quadrado de ladrilho embaixo do sofá, onde havia sangue impregnado nas bordas. Esse ladrilho evidenciava o uso de material de limpeza. Farejando os pertences dos McCann, Keela sinalizou a presença de sangue em algumas roupas de Kate, que foram examinadas para buscar evidências de DNA.

Seis dias depois, os dois cães foram levados pela polícia a um estacionamento subterrâneo, onde vários veículos estavam enfileirados. Tanto Eddie quanto Keela alertaram quando chegaram a um Renault Scenic prateado – o carro que Kate e Gerry haviam alugado dias após o desaparecimento de Madeleine. Ambos os cães sinalizaram a presença de sangue humano e odor de cadáver dentro do porta malas, na porta do motorista, na porta do carona, e nas chaves do carro, sugerindo que tanto o passageiro quanto o motorista haviam estado em contato com um cadáver, que provavelmente havia sido carregado no porta malas.

Atrás do sofá, onde Eddie e Keela sinalizaram, foi encontrado um padrão de respingos de sangue nas paredes, de onde foram coletadas amostras para tentar extrair e examinar DNA. E no Renault Scenic, Keela sinalizou dois pontos específicos no porta malas e um ponto da porta do motorista, onde foi possível descobrir alguns depósitos de DNA humano, que também foram coletados para análise.

Detalhes das perícias atrás do sofá e na mala do carro
Fonte: PJ Files

As amostras foram enviadas para um laboratório do governo britânico, como um modo de demonstrar boa fé na cooperação entre os dois países envolvidos nas investigações. Quando os portugueses receberam o relatório preliminar do laboratório forense ficaram sobressaltados, pois parecia haver uma forte probabilidade de que o DNA coletado nos dois lugares pertencesse a Maddie, tornando os pais suspeitos.

No entanto, quando o relatório forense final foi divulgado ao público (antes de ser entregue aos investigadores portugueses), a Polícia Judiciária ficou chocada ao descobrir que as conclusões foram diluídas com a manchete de que os resultados eram “inconclusivos” devido a pequenas amostras e possibilidades de DNA provenientes de várias pessoas. A equipe de relações públicas dos McCann entrou em cena exageradamente, fazendo várias afirmações sobre o quão pouco confiáveis os cães eram e que não havia um pingo de evidência que sugerisse que Madeleine esteja morta.

Notícia sobre os McCann desacreditando os cães
Fonte: The Sun

Acontece que a palavra “inconclusivo” é altamente enganadora. O que os analistas queriam dizer era que os resultados não alcançaram níveis excepcionalmente altos de significância estatística para serem usados ​​como evidência em um tribunal da União Européia. Aliás, esse mesmo resultado teria sido suficiente tanto para um tribunal dos Estados Unidos quanto para um tribunal do Reino Unido antes da adesão à UE.

Em outras palavras, as amostras de DNA combinavam fortemente com Madeleine, mas não eram fortes o suficiente para contar como evidências de um tribunal. O motivo para isso é que as amostras eram essencialmente de DNA mitocondrial (mDNA). O mDNA só é herdado pelos filhos a partir da mãe, porque durante a fecundação a mitocôndria do espermatozoide é destruída, restando apenas a mitocôndria do óvulo. Portanto, o DNA mitocondrial encontrado batia com os marcadores de DNA de Maddie, mas não era necessariamente dela, já que toda a sua linhagem materna também possuiria aqueles mesmos marcadores.

No entanto, é preciso considerar a seguinte questão: se as amostras não pertencem a Madeleine, a quem elas pertencem? As outras pessoas às quais elas poderiam pertencer são principalmente Kate, Sean e Amelie. Mas sabemos que nenhum deles 3 que teve um evento traumático atrás do sofá deixando respingos de sangue pela parede. E essas três pessoas então vivas, enquanto Madeleine está desaparecida. Também não se pode desconsiderar o alerta de Eddie, então nós sabemos que um cadáver em algum momento esteve atrás do sofá e dentro da mala daquele carro, cujo DNA bate 80% com o DNA de Madeleine.

Fim da Primeira Parte

Na semana que vem eu continuo expondo as outras evidências, que incluem uma análise comportamental de Kate e Gerry McCann, as influências políticas, uma mala que desapareceu misteriosamente e os registros dos celulares do casal, que foram apagados antes de serem entregues à polícia. Também vamos discutir a última vez em que Madeleine McCann foi vista e ouvida por alguém, além dos pais e dos Tapas 7, é claro. Até lá!

 

Referências:
Reddit
Daily Mail
McCann PJ Files
A verdade da mentira – Gonçalo Amaral
Madeleine: Our daughter’s disappearance and the continuing search for her – Kate McCann
Find Madeleine Official Website
BBC
Gerry McCann’s Blog
  

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