O “menino na caixa” é o nome dado a uma vítima de assassinato não identificada, que tinha entre 4 e 6 anos de idade, cujo corpo foi encontrado em uma caixa de papelão na cidade da Filadélfia em 25 de fevereiro de 1957. Ele também é chamado de “A Criança Desconhecida da América”. Sua identidade nunca foi descoberta e o caso permanece em aberto até hoje.
Uma reconstrução de como o menino era Fonte: Wikipedia |
O corpo do garoto, embrulhado em um cobertor xadrez, foi encontrado numa floresta, dentro de uma caixa de papelão que era a embalagem de um berço vendido pela rede de lojas J. C. Penney. Os cabelos dele haviam sido cortados recentemente, provavelmente após a morte, já que ele ainda tinha mechas de cabelos grudadas no corpo. Havia sinais de desnutrição grave, além de cicatrizes no tornozelo, na virilha e no queixo do menino.
O corpo foi descoberto por um estudante universitário que passava pela área de carro e viu um coelho correndo e entrando no mato. Como ele sabia que havia armadilhas naquela área e sentindo pena do coelho, ele parou o carro para investigar e descobriu o corpo do menino.
A estradinha onde o estudante passava quando parou e descobriu o corpo Fonte: Vocal Media |
O estudante contatou a polícia, que tomou seu depoimento e abriu uma investigação em 26 de fevereiro de 1957. Os policiais foram ao local, tiraram fotos do corpo e da cena do crime e examinaram a área. Eles estavam otimistas de que o menino seria identificado em breve. No entanto, ninguém nunca apresentou nenhuma informação útil. Eles então levaram o corpo para o necrotério, tiraram as impressões digitais e examinaram o cadáver.
Além das cicatrizes, do cabelo cortado e da clara desnutrição da criança, a autópsia identificou que as mãos e pés do menino estavam enrugados, sugerindo que ele havia passado um tempo submerso na água antes de morrer. Ele também tinha uma substância escura estranha que saía da boca e cobria a garganta. Então, também foi concluído que ele vomitou depois que morreu.
As equipes forenses declararam que a morte foi causada devido a vários traumas contundentes na cabeça e que tudo indicava que aquela criança havia sido fortemente abusada e negligenciada. No entanto, ninguém sabe quem o abusou ou o matou, principalmente porque a própria vítima não pôde ser identificada. Mesmo quando compararam suas impressões digitais com registros do hospital, a polícia não conseguiu encontrar uma correspondência. Era como se essa criança aparecesse do nada, sem família, para ser encontrada.
A única pista que restou foi a caixa de berço, que foi atribuída a J.C. Penny do Upper Darby. Essa loja vendeu apenas uma dúzia daquele modelo de berço em particular. Alguns dos berços comprados puderam ser rastreados até os proprietários, mas não todos.
A caixa onde estava o corpo Fonte: The Sun |
Com todas as pistas possíveis dando em becos sem saída, não demorou muito tempo para a polícia perceber que precisava de ajuda. Então, uma busca maciça começou e a morte misteriosa do garoto na caixa se tornou uma grande sensação da mídia.
Os jornalistas que cobriam a história o chamavam de “Criança Desconhecida da América” e pediam a qualquer um que fornecesse informações para obter detalhes sobre a identidade do garoto. Mais de 400.000 folhetos com o rosto do menino foram distribuídos por toda a região da Filadélfia – mas ninguém apareceu com nenhuma informação.
Um dos jornais falando sobre o caso após o corpo ser encontrado Fonte: Historic Misteries |
270 recrutas da academia de polícia vasculharam a área novamente e conseguiram encontrar roupas de criança, completas com um chapéu. Eles usaram a roupa para fazer um esboço de como seria o menino, sentado e vestido. Isso também não deu em nada.
Em 21 de março de 2016, o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas lançou uma reconstrução facial da vítima e a adicionou ao banco de dados.
A reconstrução facial mais recente Fonte: The Sun |
Muitas dicas e teorias foram levantadas no caso. Embora a maioria delas tenha sido descartada, algumas teorias despertaram considerável interesse entre a polícia e a mídia e foram extensivamente investigadas.
A teoria do lar adotivo:
Se você perguntar a vários investigadores, a misteriosa morte do garoto na caixa pode ter a ver com um sistema de assistência social muito mal administrado. Eles podem estar certos. Durante a década de 1950, o sistema de adoção não era muito bom em controlar quais crianças moravam aonde.
A floresta onde o corpo foi encontrado ficava perto de um pequeno lar adotivo que abrigava crianças filhas de mães solteiras abandonadas pelos maridos e de moças solteiras que precisavam evitar um escândalo. Em 1993, Remington Bristow, um investigador criminal que passou a vida toda tentando desvendar esse caso, perguntou a um médium de New Jersey onde a criança foi morta. O médium levou Bristow diretamente ao lar adotivo.
A casa onde funcionava o lar adotivo Fonte: Medium |
Dentro da casa havia um berço – o modelo exato que foi vendido na caixa em que o garoto foi descoberto. Mantas de flanela semelhantes ao cobertor em que o corpo estava enrolado também foram encontradas na casa, e Bristow acredita que o garoto devia ser filho da enteada do homem que dirigia o lar e que eles dispuseram de seu corpo para que a enteada não fosse exposta como mãe solteira.
Apesar dessas evidências circunstanciais, a polícia não conseguiu encontrar nenhum vínculo definitivo entre o Garoto na Caixa e a família que dirigia o lar adotivo.
A mulher conhecida como “M”:
A morte misteriosa do menino na caixa pode ter sido explicada pela irmã da criança, se você acreditar na história de uma mulher anônima. A mulher ficou conhecida apenas como “M.” Ela contatou a polícia em 2002 afirmando que tinha pistas e implorando para permanecer anônima.
“M” alegou que sua mãe comprou o menino desconhecido de seus pais biológicos no verão de 1954 e que ele se chamava Johnathan. Naquela época isso era normal, as crianças eram ocasionalmente compradas e vendidas. Posteriormente, o menino foi submetido a abusos físicos e sexuais extremos por dois anos e meio. Ele foi morto em um acesso de raiva ao ser jogado no chão depois de vomitar na banheira após comer feijão, que corresponde à substância escura na boca do menino (informação esta que não havia sido divulgada pela imprensa, assim como os dedos enrugados pela água).
A mãe então decidiu cortar o cabelo do menino e ela e uma amiga colocaram o garoto na caixa e tentaram jogá-lo na área da floresta. Segundo “M”, um homem notou as duas mulheres tentando carregar a caixa pesada e se ofereceu para ajudar. Elas o ignoraram e ele foi embora. Essa afirmação foi corroborada por testemunhos confidenciais anteriores, dados em 1957 por um homem que alegou saber algo sobre a misteriosa morte do garoto na caixa.
Os policiais ficaram horrorizados com o que ouviram e investigaram imediatamente a alegação. Afinal, esse nível de abuso sugeriria intenção criminosa – e é possível que outros soubessem. Infelizmente, surgiram vários detalhes importantes que tornaram o caso improvável.
Os vizinhos de “M” que tinham acesso à casa enquanto ela crescia estavam convencidos de que não havia garotinho que residisse lá em momento algum. Alguém até chamou a alegação de “ridícula”. A mulher anônima também era conhecida por ter algum tipo de doença mental, com alguns sugerindo que ela inventou a história. É claro que doença mental é um termo muito genérico e estigmatizado até hoje. O fato de possuir algum tipo de distúrbio, que podia ser desde uma depressão até borderline ou esquizofrenia, não quer dizer que ela não esteja falando a verdade e deva ser desacreditada tão facilmente. Mas fato é que essa teoria nunca foi comprovada e não há provas além do testemunho de “M” que corroborem seu depoimento.
Criado como menina:
Os investigadores supuseram que alguém tinha cortado os cabelos castanhos claros da criança no dia da sua morte. Quando encontraram o corpo, tufos de seu próprio cabelo estavam grudados no corpo. De acordo com o médico legista, a pessoa que cortou o cabelo o fez de maneira apressada e casual.
A partir dessa evidência do corte de cabelo, as pessoas passaram a se perguntar por que alguém se importaria tanto em cortar os cabelos de uma criança morta. O que levou à criação de uma teoria popular de que ele foi criado como uma menina, e que é por isso que os investigadores tiveram dificuldade em identificar quem era a criança. Um dos maiores defensores dessa teoria é Frank Bender, um artista forense e co-fundador da Vidocq Society.
Segundo Frank, as fotos tiradas do menino na caixa mostram evidências de que alguém tirou as sobrancelhas da criança antes ou depois de sua morte. Isso, além dos cabelos compridos, indica que alguém havia alterado a aparência do garoto para fazê-lo parecer mais feminino.
O esboço desenhado por Frank Fonte: Ranker |
Frank desenhou um esboço de como ele imagina que o menino na caixa seria se tivesse cabelos compridos e franja, em um esforço para ajudar a identificar a criança caso isso realmente tivesse acontecido. Será que os vizinhos de “M” estavam certos em dizer que nenhum menino morava na casa naquela época, mas se esqueceram de alguma menininha, talvez alguma pequena amiga de “M” ou parente que esteve lá para visitar? Poderiam eles terem ignorado que a possível menininha era “Johnathan” disfarçado? Uma mãe abusiva poderia ter cometido o assassinato perfeito?
Conclusões
Os especialistas concordam que se esse caso tivesse ocorrido 10 ou 20 anos depois o crime provavelmente teria sido resolvido. Em 1957, os departamentos de polícia não se comunicavam ou compartilhavam informações fora de suas áreas locais. A cobertura da mídia também foi limitada à área da Pensilvânia. Se tivesse acontecido alguns anos depois, este caso teria sido notícia nacional e as informações estariam disponíveis para todas as autoridades policiais municipais e federais.
Até hoje, ninguém conhece todos os detalhes da misteriosa morte do menino na caixa, e o mais trágico é que ele recebeu mais amor e atenção na morte do que na vida. Seu corpo foi enterrado junto com outros indigentes, com uma simples lápide que dizia: “Pai Celestial, abençoe este garoto desconhecido”. Mais tarde, as autoridades transferiram sua sepultura para um cemitério adequado, onde recebe regularmente flores e brinquedos de moradores locais.
O túmulo do menino na caixa Fonte: The Sun |
Mesmo que esse caso ainda não tenha sido resolvido, mesmo após mais de sessenta anos e contando, todos os envolvidos nas investigações desde o início ainda se recusam a desistir de encerrar o caso. Afinal, essa criança ainda merece que seu nome seja conhecido e lembrado, portanto, esperemos que um dia seja.
Referências:
The Sun
Historic Misteries
Medium
Vocal Media
Unsolved Misteries
Reddit
Referências:
The Sun
Historic Misteries
Medium
Vocal Media
Unsolved Misteries