Updates: Asha Degree e os assassinatos do tylenol

Desde o primeiro post, sobre o Brian Shaffer, eu não faço um update falando a respeito do que eu descobri desde então conversando com as pessoas envolvidas diretamente nas histórias. Em parte isso se deu porque, tirando o caso da Asha Degree que aconteceu em 2000, os outros casos eram muito antigos e encontrar pessoas vivas para falar a respeito foi um pouco difícil. No caso do William Desmond Taylor por exemplo, que aconteceu na década de 20, eu até descobri algumas coisas novas baseado nos arquivos da polícia, em livros e nos diários do King Vidor (outro grande diretor de cinema, que quis bancar o detetive para descobrir o que aconteceu com o melhor amigo), mas já não há mais ninguém vivo para conversar sobre o assassinato.


Também por esse motivo, não é possível fazer um post falando sobre cada caso especificamente, como eu fiz com o Brian. Então eu vou fazer um apanhado geral expondo o que foi descoberto e com quem eu conversei a respeito dos casos que já foram publicados, começando por esse post sobre Asha Degree e o assassino do tylenol.

Asha Degree

Encontrei o irmão de Asha, O’Bryant Degree no Facebook e nós conversamos bastante a respeito das investigações e do desaparecimento da irmã dele. Ele disse que até hoje se arrepende de não ter virado para ver o que Asha estava fazendo quando escutou barulhos no quarto naquela noite e que se sentiu culpado na época por ser o irmão mais velho, dividir o mesmo quarto e não ter conseguido proteger a irmãzinha. Hoje em dia ele consegue lidar melhor com a situação e entende que não há nada que pudesse ter feito, até porque ele mesmo ainda era uma criança.


O caso do desaparecimento de Asha está aberto até hoje e recentemente o FBI designou novos investigadores para o caso, que estão revisando todas as evidências e entrevistando as pessoas novamente. Os investigadores ainda acreditam que ela está viva em algum lugar e que os itens divulgados recentemente são críticos para a solução do caso. Para quem não se lembra, há um ano atrás eles anunciaram que encontraram duas novas pistas relacionadas ao caso, uma camiseta do New Kids on the Block e um livro do Dr. Seuss, e pediram que qualquer pessoa que se lembre de ter tido um desses itens ou que conheça alguém que possuiu um desses itens, entre em contato. 


O’Bryant me disse também que ele e a família não sabem nada a respeito desses itens e não fazem ideia de como eles podem ser relacionados à Asha. A mãe de Asha, Iquilla Degree, também entrou em contato e afirmou que na época ela acreditava que a polícia estava fazendo tudo que podia para encontrar Asha e que era um bom trabalho, mas hoje em dia, olhando para trás ela percebe que haviam muitas outras pistas para seguir, muitas inconsistências em depoimentos e na história da cabana, e que as atitudes dos investigadores não foram exatamente corretas. Ela disse também que através dessa experiência ela percebeu que as vidas de pessoas e até de crianças negras ainda vale menos que as vidas de brancos.


Ela falou que nas primeiras semanas do desaparecimento eles conseguiram fazer com que o nome de Asha e a foto circulasse bastante na mídia e conseguiram mobilizar a população, mas aos poucos a notícia foi sumindo dos jornais. O desaparecimento de Asha lembra um pouco o desaparecimento de Madeline McCann por exemplo, ambas sumiram de casa (no caso de Madeline ela sumiu do hotel) quando estavam dormindo com irmãos no mesmo quarto, mas o caso de Maddie, a menina loirinha de olhos azuis, é lembrado até hoje, dezenas de celebridades se manifestaram pedindo ajuda para localizá-la e um dos homens mais ricos do mundo deixou seus recursos à disposição da família além de contratar detetives particulares. No caso de Asha ela foi simplesmente esquecida.


O xerife Crawford, que foi um dos responsáveis pelas investigações na época do desaparecimento, acredita que Asha já estava há dias planejando o que fazer. Seja com a ajuda ou por instrução de um adulto, seja sozinha, ela já estava preparando a mochila, juntando seus pertences e esperando o momento certo para sair de dentro da casa sem ser vista. Ele também acredita que Asha deve ter sido coagida ou sequestrada por alguém muito próximo, provavelmente algum morador do mesmo bairro da família.


Ele não crê que Asha tenha de fato estado na cabana onde alguns de seus pertences foram encontrados, porque era uma noite muito chuvosa e ela teria deixado pegadas enlameadas no local. O xerife também me contou que chegou à conclusão de que a mochila de Asha que foi encontrada em uma construção e os itens e papéis de bala encontrados na cabana devem ter sido plantados pelo sequestrador para despistar a polícia e levá-los a procurar em outra direção. 


Termino esse update com uma das coisas mais marcantes que O’Bryant Degree me disse em nossa conversa: “O que é mais triste é que na minha cabeça ela ainda é uma criança de 9 anos. Eu não sei se ela está viva ou morta, não sei como ela se parece hoje em dia, será que eu já passei por ela na rua e não a reconheci? Eu não sei mais quem ela é. E não sei se ela ainda sabe quem nós somos.”

O assassinato do Tylenol

No caso do tylenol, não foi conversando com pessoas e investigadores da época que eu consegui novas informações, e sim fazendo uma pesquisa mais a fundo em arquivos de jornais. Descobri que após o recall e a aprovação da lei que exige selos para proteger os frascos de comprimidos, aconteceu mais uma morte confirmada por cianeto de potássio em cápsulas de tylenol. Em 8 de fevereiro de 1986, Diane Elsroth morreu depois de ingerir duas cápsulas envenenadas de Tylenol extra forte de um frasco que havia sido comprado em uma loja de Nova York. A loja em questão recebeu todo o seu Tylenol do mesmo centro de distribuição que transportou o Tylenol envenenado responsável pelas sete mortes na área de Chicago em 1982.


Mais uma vez, os meios de comunicação locais e nacionais cobriram extensivamente a história de adulteração do Tylenol de 1986. O tom da investigação do assassinato foi o mesmo de 1982, e os resultados foram igualmente sombrios. A Johnson & Johnson enviou imediatamente representantes para tentar entender o que houve e ajudar na investigação. 


Em 11 de fevereiro, o porta-voz da FDA, William Grigg, disse que inspecionaram a fábrica onde as pílulas foram feitas e determinou que não havia indicações de que a contaminação pudesse ser o resultado da fabricação. O procurador de Nova York, Carl Vergari, disse que segundo as autoridades federais o cianeto adicionado às cápsulas de Tylenol podiam ter uma vida útil indefinida. Então, as autoridades concluíram que o cianeto encontrado na cápsula de Tylenol que matou Diane poderia ter sido colocado lá meses atrás, na mesma época em que os assassinatos começaram.


Os envenenamentos de Chicago provocaram incidentes de imitadores, incluindo um caso em San Jose, Califórnia, no qual um marido foi condenado por tentar matar sua esposa adulterando sua aspirina com cianeto.


Outra coisa interessante que descobri recentemente é o relato de uma pessoa que procurou o FBI porque acredita e tem algumas evidências que seu avô foi o assassino do tylenol de 1982. Aparentemente o avô tinha acesso fácil a cianeto em seu local de trabalho e um dia chegou em casa avisando à filha para não comprar tylenol em hipótese alguma e em lugar algum, e para não dar para as netas e não tomar nenhum comprimido de tylenol que já não estivesse comprado e guardado em casa até aquele momento. E isso foi logo antes das mortes começarem a acontecer. Além disso, a primeira morte aconteceu no bairro de Elk Grove, que era onde a família morava, e as outras mortes foram todas em bairros vizinhos. Como esta ainda é uma investigação em andamento, o FBI e a própria pessoa não podem dar mais detalhes sobre o que está sendo feito e o que mais ela e a família sabem a respeito do assunto e do avô, que já faleceu há alguns anos.


Será que o avô misterioso era o assassino? Ou será que o assassino é um dos suspeitos que eu já tratei no blog? O principal suspeito na época era James William Lewis, o homem que enviou a carta para a Johnson exigindo um milhão de dólares para evitar mais mortes. O que Lewis tem feito desde que saiu da cadeia por extorsão? Ele escreveu alguns livros sobre os vários tipos existentes de venenos e um suspense em que várias vítimas morriam por (adivinha!) envenenamento.


Em 2009 ele e sua esposa foram intimados a darem seu dna e impressões digitais para comparar com um dos frascos contaminados e o resultado foi negativo. Disso nós já sabíamos. Mas que ele é uma figura estranha que hoje em dia vive da publicidade em torno dos assassinatos do tylenol, não se pode negar. Em uma das entrevistas que ele deu para divulgar seu livro de suspense, ele declarou que pensa nas vítimas dos assassinatos todos os dias. Muito creepy.


Ah, e só por curiosidade, o dna do unabomber, ted Kaczynski, também foi testado e o resultado foi negativo.

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