Halloween! A data comemorativa mais misteriosa do ano chegou! E também a que mais combina com esse blog. Durante toda essa semana nós tivemos uma série de casos especiais no Instagram, Twitter e Facebook, até com direito a vídeo. Também tivemos aranhas e insetos invadindo esse blog! E agora, às 00:00 do dia 31 de outubro eu trago um caso super intrigante e misterioso para você, caro leitor. Um caso que aconteceu num Halloween, é claro. Tá preparado? Então vamos começar.
O ano era 1981. Kurt Sova, de 17 anos, saiu de casa numa sexta-feira à noite (23 de outubro) para ir a uma festa de Halloween com seu amigo Samuel Carroll. Kurt morava com seus pais na cidadezinha de Newburgh Heights, em Ohio, e era o caçula de quatro filhos. Essa festa era numa casa a 3 km de onde ele morava e ele não conhecia grande parte dos convidados.
Na manhã de sábado, os pais de Kurt ficaram muito preocupados porque ele não voltou para casa. Sua mãe Dorothy então começou a ligar para os amigos do filho, enquanto seu pai Ken procurou por ele na vizinhança. No domingo, os pais foram a polícia registrar o desaparecimento de Kurt. Dorothy mandou fazer pôsteres e panfletos com a foto do filho e começou a distribui-los pelas ruas e em várias lojas da vizinhança.
Naquela tarde ela soube que Kurt tinha ido à festa de Halloween e decidiu ir na casa onde a festa ocorreu para falar com Debbie Sams, a anfitriã. Debbie disse para Dorothy que não viu Kurt e que não deu festa nenhuma na sexta feira. Mas apesar de suas alegações, um entregador de pizza afirmou que houve sim uma festa no local dia 23 e que ele havia entregado mais de uma dúzia de pizzas no local.
Os pais de Kurt pressionaram Debbie que admitiu que a festa havia acontecido e informou a eles quem esteve presente. O grupo de convidados era composto por pessoas da cidade de Detroit, e Kurt era uma das pessoas mais jovens na festa. Os convidados comentaram mais tarde que ele havia bebido Everclear, a bebida mais forte do mercado na época e que era ilegal em muitas partes dos Estados Unidos por ter causado a morte de um homem no Michigan. A notícia surpreendeu seus amigos e familiares, pois eles não sabiam nem que Kurt bebia ou que já havia bebido em outras ocasiões, muito menos que ele beberia Everclear.
Samuel, o amigo que foi com ele para a festa, disse que Kurt estava muito embriagado e que por volta de uma da manhã o levou para tomar ar fresco do lado de fora da casa, e que o deixou apoiado na cerca que contornava a propriedade. Quando ele voltou logo depois, trazendo a jaqueta de Kurt, ele havia desaparecido.
A dona de uma loja de discos da vizinhança, chamada Judy Oros, entrou em contato com a polícia no dia 26 de outubro, a segunda-feira seguinte ao desaparecimento. Ela contou que um homem estranho havia aparecido por lá e disse que os folhetos e pôsteres procurando por Kurt eram inúteis e comentou: “É melhor retirá-los daqui, porque ele será encontrado morto em dois dias, e ninguém vai saber como ele morreu.” Seria isso uma premonição ou uma confissão prévia de um assassinato?
Também no dia 26 um colega de escola de Kurt, que estava dirigindo a caminho de uma entrevista de emprego, afirmou que o viu entrando numa van com pessoas que ele não conhecia e não pareciam ser da região. Ele também relatou ter ouvido Kurt gritar: “Ei, Franco!” Infelizmente, ele não suspeitou de nada fora do comum, pois não sabia do status de Kurt como uma pessoa desaparecida no momento da ocorrência.
Debbie mais tarde contatou Dorothy informando que Kurt havia dormido em um colchonete no seu porão. Dorothy estava relutante em acreditar em Debbie, que já havia mentido para ela antes, mas resolveu ir com Ken inspecionar o porão. Eles não o encontraram lá, nem encontraram nenhum de seus pertences pessoais, mas encontraram um colchonete e uns lençóis que pareciam ter sido usados recentemente.
Seis dias depois da festa, na quarta-feira, 28 de outubro, três meninos exploravam uma ravina a 500 metros do local da festa. Eles encontraram o corpo de Kurt. Ele estava vestindo uma camiseta amarela brilhante que se destacava dos tons naturais do chão e da vegetação ao redor, e estava descalço. A polícia não encontrou nenhum sinal de agressão e nenhum trauma externo em seu corpo. Não haviam ferimentos, exceto alguns arranhões e hematomas nos pés, provavelmente causados pelo fato dele estar descalço. A polícia conseguiu encontrar o sapato esquerdo de Kurt preso em uma pilha de pedras nas proximidades, mas o sapato direito nunca foi encontrado.
A causa da morte de Kurt não pôde ser determinada, mas ele ainda tinha altos níveis de álcool em seu sistema quando faleceu (mas não o suficiente para causar um coma alcoólico, intoxicação ou algo do tipo). O legista determinou que sua morte foi uma “morte fisiológica instantânea” e concluiu que ele estava morto há apenas 24 horas – não os cinco dias completos em que estava desaparecido. O que é morte fisiológica instantânea, você me pergunta? Eu não sei, e os pais e irmãos de Kurt também nunca souberam ou entenderam o que é isso, e os legistas nunca ofereceram uma explicação.
Além disso, Ken afirmou que fez uma busca na ravina na segunda-feira e Kurt não estava lá. A família Sova acredita que o corpo de Kurt foi levado para a ravina entre segunda feira a noite e quarta feira de madrugada. Eles acreditam que ele morreu no local da festa e foi transportado para a ravina. Ken, o pai de Kurt, deu a seguinte declaração na época: “Eu sabia que algo estava errado com ele porque não era típico dele ficar tanto tempo longe de casa sem ligar ou sem entrar em contato com alguém”.
No mesmo dia da descoberta do corpo de Kurt, Judy Oras (a proprietária da loja de discos) recebeu um buquê de flores com um cartão que dizia: “As rosas são vermelhas, violetas são azuis. Kurt já está morto e você é a próxima a encontrar Jesus”. Ela se sentiu intimidada com esse gesto e denunciou à polícia, mas o remetente nunca foi identificado.
Três meses após a morte de Kurt, um menino de 13 anos chamado Eugene Kvet apareceu morto em outra ravina localizada a dois quilômetros e meio de onde Kurt foi encontrado. Os legistas disseram que sua morte foi acidental, causada por uma queda na ravina. As famílias de Kurt e Eugene viviam a um quarteirão de distância uma da outra e os dois meninos se conheciam. O sapato direito de Eugene também estava faltando.
Um ano depois, uma mulher chamada Angeline Reddicks disse a Ken que tinha visto dois homens arrastando o que parecia ser o corpo inconsciente de um adolescente na direção da ravina, mas presumiu que ele estava bêbado. Estranhamente, a mulher afirmou ter visto isso acontecer no meio da tarde e também notou que o menino estava sem o sapato no pé direito. Na época do crime ela afirma não ter ido a polícia porque seu marido mandou ela não se envolver, então ela só revelou o que tinha visto quando encontrou Ken por acaso na rua. Ken e Dorothy contaram o que a testemunha viu para os detetives, que disseram que iriam tomar o depoimento de Angeline. Mas ela nunca foi contatada por nenhum policial.
O chefe de polícia atual de Newburgh Heights, John Majoy, que também era um adolescente quando Kurt desapareceu há quase 40 anos, reabriu o caso em busca de respostas. Sem evidências de agressão, John não tem certeza se está diante de um homicídio ou morte acidental. Ele está investigando o caso como uma “morte suspeita”. “Achamos que alguém o matou? É possível. Mas é mais plausível que ele tenha morrido e seu corpo mais tarde tenha sido jogado lá? Sim, até porque essa área foi revistada. E quando foi revistada ele ainda estava vivo, segundo a autopsia”, disse John Majoy.
Não saber o que de fato aconteceu é uma luta para Kevin Sova, irmão de Kurt e o único membro sobrevivente da família Sova. “Quando alguém morre, devemos saber por quê. A parte mais difícil de todo este caso é não saber por que nosso irmão está morto e o que aconteceu naqueles dias em que ele ficou desaparecido”, disse Kevin. Ele também contou que quando sua mãe morreu em 2014 ele encontrou diversas caixas que continham notícias, anotações e recortes de jornais desde o ano de 1981, e os entregou para a polícia esperando que algo útil possa ser encontrado para ajudar a descobrir o que aconteceu.
A morte de Kurt foi o assunto de um evento que aconteceu em Chicago em fevereiro de 2020, e que uniu fãs de crimes reais, especialistas forenses e policiais para analisar o caso. O CrowdSolve foi um dos painéis que aconteceram na CrimeCon, a convenção anual de crimes reais apresentada pela rede de TV a cabo Oxygen. Em 2020 aconteceu a terceira edição da convenção, e nas duas primeiras edições foram analisados os casos de Nancy Moyer e Karen Bodine, respectivamente. O evento foi realizado com a permissão e participação de Kevin Sova e outros membros restantes da família de Kurt.
A CrimeCon explorou o assassinato não resolvido de Kurt Sova para responder a uma pergunta: Será que centenas de pessoas com experiências e origens variadas trabalhando ao lado da polícia e de especialistas renomados mundialmente podem ajudar a desenvolver novas ideias e pistas em um caso arquivado? “Eles foram detetives perfeitos que ajudaram a trazer paz à família Sova”, postou a CrimeCon em sua página do Instagram.
Então, como a CrimeCon investigou a morte de Kurt? O evento foi baseado em três fatores principais, listados da seguinte forma:
1) Imersão: Vitimologia, fraude, detecção, DNA e muito mais. Um curso intensivo dado por especialistas para explicar o crime.
2) Detetive: pesquisar o arquivo do caso: depoimentos de testemunhas, cronogramas, meios, motivos e oportunidades de pessoas de interesse.
3) Resolução: Cada participante preencheu um “Relatório do Caso” com suas análises, ideias e próximos passos a serem dados, que foram entregues diretamente para as autoridades policiais.
Todos os participantes da CrimeCon tiveram que assinar um termo de confidencialidade, afinal este é um caso que ainda está aberto e eles tiveram acesso à todas as evidências disponíveis. A polícia analisou todos os relatórios submetidos pelos participantes e disseram que o CrowdSolve foi de grande valia e determinou um novo norte para as investigações do caso.
As autoridades gostariam de identificar o homem chamado “Franco” com quem Kurt supostamente foi visto pelo colega de classe no dia 26. É possível que ele seja a mesma pessoa da loja de discos que previu que Kurt seria encontrado morto.
Eu fiquei muito feliz em saber que os detetives amadores, do sofá como eu e você, estão podendo contribuir com suas ideias para investigações e que estão sendo levados a sério. Espero que esse caso seja solucionado logo. E quem sabe a resposta está em um daqueles relatórios preenchidos na CrimeCon?! Pode deixar que eu te mantenho informado por aqui e pelas redes sociais do Detetive do Sofá.
Referências:
Reddit
Websleuths
Unsolved Mysteries
CrimeCon
Trace Evidence
Medium
Crime Junkie