Olá queridos e fiéis leitores! Chegamos em 2021! Graças a Deus! Acabou 2020, esse ano que foi tão caótico, maluco, esquisito e até meio apocalíptico eu diria. Ainda bem! Pelo menos, apesar de tudo, o ano passou rápido. Parece que foi ontem que eu estava pesquisando e escrevendo sobre a Elisa Lam (e me gabando um pouquinho de ter resolvido esse mistério). Para mim e para o “Detetive do Sofá”, até que 2020 trouxe coisas boas apesar de tudo. Eu fiquei noiva e o “Detetive do Sofá” ganhou um podcast! Se você ainda não teve a chance de escutar, procura a gente lá no Spotify, no Deezer, Pocket Cast, Beyond Pod, Apple Podcast, enfim, onde você quiser! Estamos em todos os lugares e até agora cinco episódios muito legais já foram lançados. Alguns são sobre casos que você já conhece muito bem: Os assassinatos do Tylenol, Hannah Upp e sua fuga dissociativa e O menino na caixa. Eu garanto que mesmo já tendo lido os posts aqui no blog vale a pena escutar os episódios porque tem novidades, principalmente em relação ao menino na caixa.
Tem episódios novos todas as quintas-feiras. E você sabe que o conteúdo que eu trago aqui para você é diferenciado. Eu não reproduzo conteúdo e te conto o caso superficialmente, você sabe como eu corro atrás, como eu converso com as pessoas que eu encontro relacionadas ao caso e como eu até demoro a lançar posts novos, porque eu pesquiso muito a fundo e mergulho de cabeça no caso que eu estou investigando. No podcast isso não é diferente. Inclusive eu recebi mensagens de alguns ouvintes perguntando se eu realmente tinha falado com a Barbara, mãe da Hannah Upp, porque eles ficaram até confusos já que eu falei isso tão displicentemente no podcast. Mas você que me acompanha aqui desde o início sabe que isso é um hábito meu. Eu achei até engraçado quando me perguntaram isso, e pensei: hummm esse aí é novo no detetive do sofá, não leu meus posts no blog!
O caso que eu trago hoje aqui foi o quarto episódio do podcast, um especial de natal. Um caso temático, já que ele aconteceu no dia 23 de dezembro de 1974 (dois dias antes do natal) e enquanto três meninas faziam suas compras de natal no shopping. Se você já escutou o episódio não tem problema. Você não vai se arrepender de ler o artigo aqui do blog porque ele é mais completo e traz várias informações que ficaram de fora do episódio. É o caso do trio desaparecido de Fort Worth, como ele é mais conhecido. Há 46 anos Mary Rachel Trlica, Lisa Renée Wilson e Julie Ann Mosely desapareceram. Eu cheguei até a pensar se seria correto fazer um especial de natal, já que o natal é a minha época favorita do ano e só me faz pensar em coisas muito boas, alegres e festivas! Ao contrário do Halloween, em que eu fiz um especial durante uma semana, e que tem tudo a ver com os assuntos desse blog.
Mas vamos combinar que 2020 foi muito atípico. Até o natal foi meio diferente e solitário. Ele não cumpriu uma de suas funções, de reunir famílias e festejar. A minha família, que é enorme, não conseguiu se reunir. Na verdade a gente não se reuniu durante esse ano todo. O que me deixa muito triste, porque eu simplesmente amo as reuniões da minha família e amo estar com meus tios, primos e agregados. Então eu pensei que não ia ser nada demais lançar um artigo com um caso de natal, ao contrário, isso combina com 2020. Então vamos lá. Se aconchegue no seu sofá escutando Jingle Bells (ou o CD do NSync de natal, igual a mim) e vem ler sobre o trio desaparecido de Fort Worth.
Rachel Trlica
Rachel, de dezessete anos, era a mais velha das três. Ela estava no último ano do ensino médio e já era casada, o que não era tão incomum em 1974 como seria hoje. O marido de Rachel se chamava Thomas Trlica, mas ela o chamava carinhosamente de Tommy. Ele era um rapaz de 21 anos, que já havia se divorciado uma vez e tinha um filho de dois anos de seu primeiro casamento, chamado Shawn. Antes de se casar com Rachel, ele foi namorado da irmã dela, Debra Arnold.
Debra era dois anos mais velha do que Rachel e ela sempre disse que não havia animosidade ou ciúme entre elas duas por causa de Tommy. E ao que tudo indica, isso parece ser verdade, já que pouco antes de desaparecer, Rachel chegou a convidar a irmã para morar com o casal quando Debra se separou do namorado. Ela inclusive ainda estava morando com eles no dia em que Rachel desapareceu.
Em 23 de dezembro de 1974 Rachel decidiu fazer compras de Natal no Seminary South Shopping Center. Ela convidou Debra para ir junto, mas ela estava cansada e queria dormir até tarde.
Renée Wilson
Rachel então saiu sozinha de carro para buscar sua amiga Renée, de quatorze anos, que morava perto da casa dela. Suas famílias eram grandes amigas e as duas meninas se conheciam desde sempre.
Naquela manhã, Renée estava com o namorado, Terry Moseley, de 15 anos, que morava do outro lado da rua. Ele a acordou para fazer uma surpresa e deu um anel de compromisso pra ela. Quando Rachel ligou e convidou Renée pra fazer compras, ela aceitou, mas apenas com a condição de que elas voltassem no máximo às 16 horas porque ela e Terry iam a uma festa de Natal naquela noite e ela queria ter certeza que teria bastante tempo para se arrumar. Seria sua primeira festa usando o novo anel de compromisso e ela estava louca para mostrar para todo mundo.
As irmãs mais novas de Terry, Janet, de onze anos, e Julie, de nove, estavam na casa de Renée naquela manhã. Elas tinham ido ver o anel que a cunhada ganhou. E isso era bastante comum naquele bairro, as crianças estavam constantemente entrando e saindo das casas umas das outras.
Julie Ann Mosely
Rachel e Renée convidaram Janet para ir ao shopping, mas ela já tinha planos com uma amiga. Julie então perguntou se ela poderia ir junto. As duas meninas mais velhas não gostaram da ideia de passar a tarde cuidando de uma criança de nove anos, então elas disseram que Julie só poderia ir se tivesse permissão da mãe. Elas tinham certeza que a mãe de Julie iria dizer que não, porque ela ainda era criança e tinha que andar com meninas da idade dela. Mas Julie ficou muito animada e ligou imediatamente para a mãe, Rayanne, no trabalho e pediu permissão para ir ao shopping. Rayanne disse que não, porque Julie não tinha nenhum dinheiro e, além disso, embora ela conhecesse Renée muito bem, ela não conhecia Rachel. Mas Julie perturbou a mãe e implorou para ir dizendo que ela não tinha com quem brincar naquele dia. Sua mãe foi vencida pelo cansaço e acabou cedendo. Foi uma decisão da qual ela se arrependeu pelo resto da vida.
As meninas se conformaram em levar Julie e também convidaram Terry, mas ele já havia prometido passar o dia com um amigo que ia fazer uma cirurgia de hérnia no dia seguinte.
O desaparecimento
Pouco antes do meio-dia, Rachel, Renée e Julie entraram no Oldsmobile marrom que pertencia à Rachel e seu marido. Era um carro robusto, longo e largo. A primeira parada delas foi na Loja Army Navy para buscar uma calça jeans que Renée tinha reservado. A calça nova não foi encontrada no carro, por isso nós podemos presumir que Renée trocou de roupa na loja e foi para o shopping já usando sua nova calça boca de sino de cintura alta. De lá elas seguiram pro Shopping Seminary South. Mais tarde, vários compradores relataram ter visto as meninas ali. Renée, em particular, se destacou por causa de sua camiseta. Era uma baby look amarela com as palavras “Sweet Honesty” impressas na frente em verde. Essa camiseta era bem conhecida na época, porque era um brinde que vinha junto com o perfume da Avon de mesmo nome.
Se Renée não tivesse tão animada e ansiosa pela festa de Natal com Terry, poderia ter demorado mais para as pessoas perceberem que algo estava errado. Mas ela tinha sido enfática sobre chegar em casa por volta das quatro horas e as pessoas estranharam quando as meninas não chegaram na hora marcada. A mãe de Julie também havia dito que ela deveria estar de volta até as quatro e ficou chateada por ela não ter obedecido. A família de Rachel ficou preocupada, pensando que o carro poderia ter dado problema.
O carro abandonado e a procura pelas meninas no shopping
Os pais de Renée dirigiram até o shopping, procurando por sinais do carro ao longo da estrada. Eles não encontraram o carro, então entraram no estacionamento do Shopping à procura do Oldsmobile marrom em meio a um mar de carros em um dos dias de compras mais movimentados do ano. Por volta das seis da tarde, eles o avistaram no estacionamento superior, próximo à entrada da loja Sears. As portas do carro estavam trancadas e um único presente de Natal embrulhado estava no chão do banco de trás. Este era um presente que Renée trouxe para o enteado de dois anos de Rachel, Shawn. Mas as meninas não estavam em lugar nenhum.
O irmão mais novo de Rachel, Rusty Arnold, tinha onze anos quando as meninas desapareceram. Agora em seus cinquenta e poucos anos, ele já recontou inúmeras vezes sobre como ele se lembra de ajudar sua mãe, Fran, a procurar os telefones das lojas do shopping nas páginas amarelas para perguntar aos gerentes e funcionários se tinham visto sua irmã mais velha e as outras duas meninas.
Fran não era a única pessoa que não conseguia se livrar da sensação de que tinha algo errado. O pai de Renée, Richard, e um vizinho ficaram de tocaia escondidos atrás de outro carro do estacionamento, vigiando o carro de Rachel. Os homens apontavam escopetas carregadas para o Oldsmobile abandonado. Eles não sabiam o que esperar, mas tinham certeza de que estariam prontos para qualquer coisa que acontecesse.
Os parentes ligaram para cada uma das amigas das meninas perguntando se elas tinham visto ou ouvido algo. Ninguém tinha. Eles também ligaram para os hospitais da região. A família de Julie então resolveu chamar a polícia.
O descaso da polícia
As famílias afirmam que a polícia não levou o desaparecimento a sério no início e presumiram que as meninas fugiram. Era uma ideia absurda, na opinião deles. Por que elas teriam convidado pessoas como Terry, Janet e Debra para se juntar a elas se planejassem fugir? Além disso, por que trazer uma criança de nove anos? Nenhuma delas levou roupas ou pertences pessoais, elas tinham muito pouco dinheiro e ainda deixaram o carro para trás. Não fazia nenhum sentido. Ninguém foge a pé tendo um carro a disposição.
E nenhuma criança de 9 anos ia querer fugir dois dias antes do Papai Noel chegar. Mesmo que Julie já não acreditasse em Papai Noel, ninguém quer fugir antes de ganhar presentes. A única razão que eu posso pensar para que elas tenham fugido e levado Julie junto é se ela confidenciou que algo estava muito errado em casa e Rachel e Renée queriam protegê-la, mas parece que sua vida em casa era boa antes do desaparecimento. O pai de Julie havia deixado a família há alguns anos, mas sua mãe era muito dedicada aos filhos, e os irmãos de Julie eram muito carinhosos com ela.
Por que a polícia tinha essa mania de presumir que toda criança ou adolescente que desaparecia estava fugindo? Até hoje eu acho que isso acontece bastante. As pessoas não fogem tanto assim. A polícia já devia ter aprendido. Hoje em dia, pelo menos em relação à crianças, a polícia já é mais ativa e toma mais cuidado. Isso graças à criação do Amber Alert nos anos 1990. Mas esse já é outro caso, que eu vou contar direitinho para vocês em outra oportunidade.
É claro que o departamento de polícia discorda respeitosamente da visão das famílias sobre como eles lidaram com o caso e afirma que eles investigaram os desaparecimentos com rigor desde o início. Aham, senta lá Claudia. Um artigo publicado no Fort Worth Star-Telegram um dia após o desaparecimento relatou especificamente que a polícia estava procurando as meninas, mas não tinha “motivos para suspeitar de crime”. Poucos dias depois, a polícia foi um pouco menos desdenhosa, dizendo ao jornal que “não tinha certeza se houve ou não crime.”
Quatro meses depois, um artigo no Cuero Daily Record relatou que a polícia inicialmente pensou que as meninas eram fugitivas. Esses relatos dos jornais da época, junto com vários outros que eu encontrei, parecem corroborar, pelo menos parcialmente, com a lembrança dos eventos que as famílias tem. Se as famílias estiverem corretas, e a polícia não levou o caso a sério no início, a gente pode especular que foi por causa de uma carta que chegou para Tommy Trlica em 24 de dezembro de 1974.
A carta
Tommy, de acordo com o seu próprio relato e o relato de Debra, encontrou uma carta em sua caixa de correio na manhã da véspera de natal. O nome “Rachel” estava escrito no canto superior esquerdo do envelope, sem sobrenome ou endereço do remetente. Dentro, havia um pedaço de papel com algumas frases de caligrafia grande e inclinada, que dizia: “Eu sei que eu vou me ferrar por causa disso, mas nós apenas tínhamos que fugir. Estamos indo para Houston. Nos veremos em cerca de uma semana. O carro está no estacionamento superior da Sears. Com amor, Rachel”.
A família de Rachel nunca acreditou que ela escreveu a carta. Eles dizem que não é a letra dela. Eles também apontam outras peculiaridades, como o fato de que o envelope foi endereçado a “Thomas A. Trlica”, embora Rachel sempre chamasse o marido de “Tommy”. E pelo que dizem por aí nos fóruns da internet e de acordo com o que o próprio Rusty Arnold fala, o envelope era pequeno demais para a carta, que teria que ser dobrada seis vezes para caber ali dentro. Pelo que eu vi nas fotos, eu não achei tão absurda a diferença de tamanho da carta e do envelope. Olha aqui embaixo e me diz o que você acha.
Seis dias após a chegada da carta, a polícia disse ao Fort Worth Star-Telegram que verificou que a caligrafia pertencia a Rachel, mas também admitiu que ela poderia ter sido forçada a escrever. Em 1978, o detetive de polícia de Fort Worth, George Hudson afirmou que eles enviaram diversas amostras da caligrafia de Rachel para o FBI analisar e os resultados foram inconclusivos. O verdadeiro autor da carta permanece um mistério.
Houve também um grande debate em relação ao carimbo do correio e à data que a carta teria sido postada. Mas em 2001 a polícia verificou que o carimbo do correio era válido e que a carta foi enviada no dia 23 de dezembro na pequena agência dos correios que havia no Shopping Seminary South.
As meninas desapareceram em uma época em que o teste de DNA não existia. Quando ele foi desenvolvido, já era tarde demais para testar o carro. A carta acabou sendo testada, mas o DNA encontrado no selo do envelope não correspondia às meninas, seus parentes ou a qualquer outra pessoa no banco de dados.
Avistamentos?
Logo após o desaparecimento, várias pessoas contataram a polícia de Fort Worth para relatar avistamentos das três meninas no Seminary South Shopping Center. A maioria não relatou ter visto nada fora do comum. Poucas outras pessoas, no entanto, afirmaram ter visto coisas estranhas acontecendo.
Um balconista de uma loja de discos contou que uma cliente comentou com ele que viu alguns homens empurrando 3 meninas para dentro de uma caminhonete amarela. No entanto, a polícia não conseguiu localizar a mulher para confirmar se isso realmente aconteceu e conseguir mais detalhes sobre o que ela viu. Outra testemunha se apresentou e afirmou ter visto as três garotas na parte de trás de um veículo da patrulha de segurança do shopping.
Eles também checaram com um agente de passagens na rodoviária que alegou que três garotas perguntaram sobre passagens para Houston e outros destinos na manhã após o desaparecimento. A polícia disse não ter certeza se as informações eram confiáveis.
John Swaim (ou Jacques Clouseau)
No início da primavera de 1975, as três famílias, frustradas com a falta de progresso na investigação, contrataram John Swaim, um extravagante investigador particular. John tinha uma grande personalidade e talento para a publicidade. Ele dava conferências de imprensa regulares para pressionar a polícia. Ele até conseguiu fazer com que eles compartilhassem uma cópia dos arquivos do caso com ele (o que é muito atípico. Ele está de parabéns por ter conseguido).
Ele foi atrás das pistas que conseguiu e afirmou ter recebido dicas de informantes anônimos sobre a localização dos corpos das meninas. A polícia realizou várias buscas com base nas informações de John, mas isso não levou a nada.
Eu imagino o John Swaim como alguém que se acha mais competente do que é de verdade. Ele imagina que é um investigador top, mas parece mais o detetive dos filmes da pantera cor de rosa, Jacques Clouseau (na versão recente dos filmes, com o Steve Martin).
Enquanto isso, as autoridades já estavam tão desesperadas por pistas que resolveram seguir dicas de médiuns que afirmavam ter adivinhado a localização dos corpos das meninas. A certa altura, eles cavaram perto de um poço de petróleo em busca dos restos mortais, após receberem uma ligação de um vidente do Havaí. Mas como você deve imaginar, isso também não deu em nada, senão eu nem estaria te falando desse caso.
O detetive particular John Swaim morreu por causa de uma overdose de drogas em 1979, e sua morte foi posteriormente considerada suicídio. Por algum motivo desconhecido, ele solicitou em seu testamento que todos os seus arquivos fossem destruídos após sua morte. Se John descobriu alguma evidência útil no caso, o que eu duvido, ele a levou consigo.
O que eu acho muito estranho é que já que ele ia cometer suicídio, por que não destruiu os arquivos ele mesmo antes de morrer? A família de John tem dúvidas a respeito da morte dele. Eu não acredito que tenha sido suicídio, talvez uma overdose acidental. Ou talvez ele até tenha sido assassinado, mas não acho que tenha sido por algo relacionado à esse caso não.
Novas testemunhas e nova investigação
Sete anos depois, em 1981, uma nova testemunha se apresentou, alegando que estava no estacionamento do Seminary South em 23 de dezembro de 1974 e testemunhou um homem empurrando três meninas para dentro de uma van. Ele disse às autoridades que confrontou o homem que disse que era um assunto de família e para ele ficar fora disso. Eles nunca foram capazes de corroborar esse relato. E vamos combinar que esse caso estava em todas as manchetes da época. Por que o cara não procurou a polícia para falar o que ele viu antes? Por que esperar 7 anos?
Os membros da família nunca desistiram de buscar respostas. Em 2001 o caso ganhou novos investigadores e foi reexaminado. Houve enormes avanços na tecnologia desde 1974 e as famílias estavam esperançosas de que finalmente pudessem saber o que aconteceu com suas filhas.
O Departamento de Polícia de Fort Worth realizou uma coletiva de imprensa para anunciar que falaram com pelo menos vinte novas testemunhas que relataram avistamentos das meninas no shopping e reduziu a lista de possíveis suspeitos para menos de cinco. O que me deixou surpresa, porque eu achava que eles não tinham suspeito nenhum, muito menos cinco.
Entre as novas pistas, a polícia estava investigando um avistamento relatado por um ex-policial chamado Bill Hutchins, que trabalhava para a Sears como segurança na noite em que as meninas desapareceram. Bill estava trabalhando no último turno e alegou que teve um encontro incomum com outro segurança em uma caminhonete por volta das 23h30. Aparentemente, ele e o outro segurança trocaram algumas palavras e tiveram uma discussão por um motivo não especificado. Bill afirma que se aproximou do veículo e viu três garotas lá dentro. Ele foi muito específico sobre a disposição dos assentos, afirmando que todos estavam no banco da frente. De acordo com ele, a menina mais nova estava sentada ao lado do motorista, a menina mais velha estava no final ao lado da porta, e no meio estava uma um pouco mais jovem. Então a ordem era: motorista, Julie, Renée e Rachel. Ele as descreveu sorrindo e parecendo estar lá por vontade própria. De acordo com Bill, ele se desculpou pela linguagem que usou durante a discussão e eles foram embora.
Bill Hutchins disse que relatou isso às autoridades quando aconteceu em 1974, mas ninguém o procurou até que o caso foi reexaminado em 2001. Quando esse fato veio à tona, o Departamento de Polícia de Fort Worth disse que eles haviam rastreado o segurança descrito por Bill, que negou estar com as meninas naquela noite. Os detetives acrescentaram que “consideraram essa uma pista sólida, mas estavam se concentrando não em um, mas em até cinco suspeitos diferentes”.
O relato de Bill para mim simplesmente não faz sentido. Primeiro porque o pai de Renée e seus amigos estavam vigiando o carro, então eles teriam visto os seguranças discutindo e isso chamaria a atenção deles. Por isso eu já acho difícil que as coisas tenham acontecido da maneira que Bill disse. Segundo, se as meninas foram sequestradas, por que elas estariam num carro no estacionamento do shopping às 23:30 quando já estava tudo deserto? O criminoso as levaria dali no horário de movimento, se escondendo no meio da multidão. E em terceiro lugar, a Renée não queria perder a festa de jeito nenhum. Então não tem como ela estar sorridente e feliz às 23:30 no estacionamento do Shopping.
Infelizmente, a investigação de 2001 foi tão inútil quanto a investigação anterior. E o caso ainda está aberto. Agora a gente entra no terreno das especulações e teorias.
Rusty Arnold
Nessas últimas semanas, enquanto eu trabalhava nesse caso, eu tive a chance de conversar com alguns familiares das três meninas. Quem é mais ativo até hoje é Rusty Arnold, irmão mais novo de Rachel e Debra. Ele continua pressionando a polícia para investigar o caso, dá diversas entrevistas, mantém uma página no Facebook chamada “Missing Fort Worth Trio”, ele já compôs uma música para Rachel e sua banda faz shows para angariar fundos para as investigações, entre outras coisas. Até camiseta e caneca ele vende as vezes.
O Rusty cresceu com o desaparecimento da irmã. Quando criança, ele acreditava que ela estava viva, esperando que alguém a encontrasse e trouxesse para casa. No final da década de 1990, Rusty, já adulto, contatou um investigador particular chamado Dan James depois de ver seu anúncio nas páginas amarelas. Dan curiosamente já estava familiarizado com o caso e o acompanhava desde 1975. Ele tinha algumas teorias e ofereceu seus serviços a Rusty gratuitamente. Publicamente, o detetive particular até se gabou de que ofereceria uma recompensa de 25 mil dólares de seu próprio bolso em troca de informações.
Dan James investigou o caso por anos. E aparentemente, esse era um caso perigoso. Ele disse até a alguns veículos de comunicação que recebeu ameaças de morte e avisos para largar o caso, mas ele persistiu mesmo assim. Ele foi atrás de todos os boatos, pistas e teorias da conspiração de que ouviu falar.
E eu sinceramente acho que esse cara era meio maluco e que no fundo o que ele queria era publicidade, e que ele deixou o Rusty meio biruta também. Na verdade, desde o meu primeiro contato com ele eu o achei meio estranho. Eu encontrei Rusty nesse grupo do Facebook onde ele é o moderador e lá ele falava que qualquer um podia entrar em contato com ele, mas tinha que ser por mensagem privada. Ele não quer que ninguém fale com ele em público no grupo. Isso eu já achei um pouco esquisito, mas ok. Então mandei uma mensagem para ele no Messenger.
Aí ele me respondeu, falando que eu devia entrar em contato com ele por e-mail, e me deu o e-mail dele. Eu mandei o e-mail. E para minha surpresa, ele respondeu esse e-mail me dando um número de telefone para eu ligar para ele. A essa altura eu já estava meio P da vida, porque ele não sabia nem quem eu era direito, e eu não tinha conseguido explicar para ele o meu interesse no caso. E o cara já estava me fazendo andar em círculos só para conseguir trocar uma ideia.
Mas o interesse era meu, então eu liguei para o número que ele me deu e ninguém atendeu. Tentei outras vezes e nada. Aí eu mandei outro e-mail, esse já demonstrando um pouco da minha falta de paciência, e o Rusty me responde dizendo que não atende telefonemas. Que eu devia deixar uma mensagem na caixa postal dele me identificando e deixando o meu número para ele entrar em contato. Se você não atende telefone, por que dá o número e manda a pessoa te ligar? Além de que, complicou um pouco porque eu não sei exatamente como passar o meu número de telefone pra pessoas em outros países. Eu deixei então meu id do Skype e pedi pra ele entrar em contato comigo por lá.
Ninguém nunca me fez dar tantas voltas antes pra conversar sobre algo que é do interesse dele também, divulgar e falar sobre o desaparecimento da irmã. Eu já comentei aqui blog algumas vezes sobre como as famílias de pessoas desaparecidas são sempre muito disponíveis e querem sempre fazer tudo o que podem para manter o caso em evidência, mesmo que seja no blog de uma jornalista brasileira.
O Rusty demorou ainda uns dois dias para retornar meu contato e falar comigo no Skype. Enquanto isso eu já tinha localizado a irmã dele, Debra, e o marido da Rachel, Tommy, e ambos já tinham conversado comigo.
Nós finalmente conversamos pelo Skype e a cada minuto que passava eu pensava sobre como aquilo tinha sido uma furada… Ele me contou as teorias dele (que na verdade são as teorias do investigador particular Dan James) e citou diversas informações aleatórias que não fazem tanto sentido. Foi uma conversa bem doida e uns 40 minutos perdidos que eu não vou recuperar, falando com um cara meio paranoico e esquisito.
O posto de gasolina
A informação mais interessante que eu consegui tirar de Rusty é que as três meninas podem ter sido vistas em um posto de gasolina na manhã seguinte ao desaparecimento, entrando na caminhonete do dono do posto. E esse dono do posto teria dito a um funcionário que ia levá-las para a rodoviária para ir para Houston, mas que primeiro iria se divertir um pouco. Que homem nojento! Rusty ainda afirmou que esse mesmo funcionário foi à casa do chefe alguns dias depois e viu manchas de sangue e novas escavações no quintal. Segundo Rusty, eles não conseguem localizar o dono do posto atualmente. Eu não encontrei essa informação em nenhum outro lugar, então não posso afirmar que é verdadeira ou que ela foi passada para a polícia de verdade.
O “amigo” da família
Rusty também disse que havia um outro suspeito, um amigo da família e melhor amigo do pai dele, mas ele não explicou porque ou quem é essa pessoa, e disse que o homem já faleceu. Mas que ele só passou a ser considerado um suspeito após a sua morte.
Eu sou muito curiosa, então passei dias navegando no websleuths e no reddit tentando descobrir alguma coisa ou algum indício de quem possa ser essa pessoa. Eu não consegui o nome desse homem, mas de acordo com vários relatos de moradores de Fort Worth, ele era um pedófilo conhecido na região, que sempre abusava de crianças e adolescentes quando tinha a chance. E o pai de Rusty e Rachel inclusive sabia dessa reputação que o amigo tinha, e mesmo assim sempre o recebeu em casa. Eu também descobri relatos de que quando esse homem morreu foi encontrada uma sacola cheia de dentes humanos na casa dele. Eu fiquei chocada e entrei no site do FBI e da polícia de Fort Worth para procurar algum caso que envolva um saco de dentes, mas não encontrei nada.
Rachel está viva
Agora, vamos pra parte mais doida da conversa: Dan James e Rusty acreditam que Rachel ainda está viva (somente ela, as outras duas não) e que ela visita a área de Fort Worth todos os anos na época do Natal. Oi? Além disso, eles acreditam que Julie morreu num parto há muitos anos e que Renée morreu há uns dez anos atrás. Ele só não fez a menor questão de mencionar onde elas estavam / estão sendo mantidas esse tempo todo e fazendo o que.
Ao longo dos anos, segundo Rusty, algumas testemunhas afirmaram ter visto Rachel e Renée em vários lugares diferentes, como um Walmart, uma loja de 1,99 e um posto de gasolina. Dan foi quem afirmou para Rusty que essas e várias outras testemunhas são confiáveis, e que foi uma delas que alegou ter visto Rachel em Fort Worth durante a época do Natal de 1998.
Culpa da irmã?
Rusty também me falou que acha que tem alguém próximo à família que está “encobrindo e fabricando evidências para manter Rachel afastada” e essa pessoa também teve algo a ver com o desaparecimento. Eu suponho que seja sua irmã Debra, já que no início dos anos 2000 ele deu várias entrevistas afirmando que tem certeza que ela sabe mais do que diz. Eu inclusive encontrei uma carta que foi publicada num jornal onde ele pede à Debra que faça um teste de polígrafo. E essa carta foi assinada por Rusty, Rayanne Mosley (a mãe de Julie), Richard e Judy Wilson (pais de Renée).
A assinatura da mãe de Rusty, Rachel e Debra, que se chama Fran, estava notavelmente ausente nessa carta, o que não foi surpreendente, considerando que ela disse recentemente ao Fort Worth Star-Telegram que culpa Dan James por destruir sua família e “envenenar a mente de Rusty”.
Debra Arnold
Debra, com quem eu conversei num chat do Websleuths, foi mais coerente em nossa conversa e em relação ao que ela contou. Ela disse que sabe que o irmão a culpa e que ele acha que a carta que Tommy recebeu foi escrita por ela. Mas afirma que não escreveu esta carta, não sabe quem escreveu e não sabe o que aconteceu com a irmã. “Eu não tenho nada a esconder. Me pediram que eu fizesse o teste do polígrafo. Eu o fiz duas vezes e passei nas duas.”
Debra também me contou que a infância delas foi infeliz e que ela e Rachel tinham medo do pai, que tinha um temperamento explosivo. Ele também era um homem doente, que estava morrendo de câncer no momento do desaparecimento e foi enterrado naquele verão. Foi inclusive por causa do medo que tinha do pai e da má relação que ela tinha com ele que Rachel quis se casar e sair de casa tão jovem, sem ainda ter terminado até a escola.
O dia do desaparecimento
Eu perguntei a Debra o que exatamente ela se lembra do dia do desaparecimento, e ela disse: “Rachel saiu de casa por volta das 10 da manhã e me convidou para me juntar a ela, mas eu não consegui tirar a bunda preguiçosa da cama. Depois de sair, ela foi até a casa dos nossos pais e convidou nossa mãe para ir ao shopping com ela, mas ela não pôde. Nosso pai estava lutando contra um câncer maligno e não estava se sentindo bem naquela manhã, então ela tinha que ficar cuidando dele. De lá, Rachel foi para a Gordon Avenue para buscar Renée. Julie estava lá quando Rachel chegou e implorou para ir com elas para poder comprar um presente de natal para seu avô.”
A chegada da carta
Também perguntei a Debra que horas Tommy recebeu a carta que Rachel supostamente escreveu, já que ela estava na casa. Ela respondeu que foi em algum momento da manhã, porque ela se lembra de estar sentada na poltrona da sala de estar pensando em como aquela noite tinha sido muito longa. “Eu não conseguia ver o corredor que dava para a porta da frente. Mas me lembro de ouvir Tommy abrir a porta e alguns segundos depois eu olhei para cima e ele estava lá com a carta na mão. Ele então se aproximou e sentou-se no braço da poltrona e me entregou. Simplesmente não fazia sentido. A primeira coisa que fiz foi ligar para meus pais e levei a carta para a casa deles. Depois disso, tudo é um borrão. Nós fomos bombardeados de perguntas pela polícia e pela mídia. A polícia ainda tem a carta e o envelope em sua posse. O teste de DNA naquela época não era uma opção. Mas você não tem ideia do quanto eu gostaria que fosse”.
O Tommy entregou a carta para Debra, que levou para os pais, que chamaram a polícia. Até aí nada demais, certo? Mas a polícia logo que chegou na casa dos pais de Debra pediu para ver o envelope. Se a carta chegou pelo correio, então eles precisavam do envelope também. Debra ligou para Tommy avisando que a polícia pediu o envelope, e ele respondeu que iria procurar e levar para eles na delegacia. Dois dias depois, segundo os relatos dos policiais, Tommy apareceu na delegacia levando aquele envelope que todos dizem ser pequeno e suspeito.
Tudo a respeito dessa carta é muito curioso para mim. Ainda mais agora que eu sei que ninguém além de Tommy tinha visto o envelope.
Houston?
Uma coisa que me deixa curiosa na carta, é porque Houston. Será que Rachel ou uma das outras meninas tinha alguma conexão com a cidade, algum parente ou amigo que morava por lá? Debra disse que há sim uma conexão na qual ela pode pensar, mas não sabe como isso poderia estar relacionado. O pai delas se submeteu à quimioterapia no hospital MD Anderson Cancer que era em Houston. E os pais ficaram hospedados em um hotel chamado Winnabago no estacionamento do hospital por cerca de 6 semanas. Debra, Rachel e Rusty chegaram a ir a Houston algumas vezes para visita-los.
Na minha opinião, essa não é uma conexão forte o suficiente. Na verdade isso não é nem conexão nenhuma. Eu descobri por conta própria que Debra estava esperando um visitante de Houston na semana do desaparecimento. Era um DJ que estava indo para Fort Worth e pretendia visitar Debra e ficar com ela na casa de Tommy e Rachel. Mas sobre isso Debra não falou. Ela fez a egípcia e fingiu que não leu minhas perguntas a respeito desse amigo dela nas três ou mais vezes que eu perguntei.
Os carros no lago
Em 2018 mergulhadores descobriram três carros embaixo d’água no Lago Benbroke, próximo ao Shopping onde as meninas desapareceram. A polícia concordou, após muita insistência de Rusty e membros das famílias de Renée e Julie, que fosse realizada uma operação para trazer os carros para a superfície. Segundo o que eu consegui apurar, as famílias receberam uma pista que os corpos das meninas poderiam estar em um desses carros.
A polícia conseguiu trazer dois dos carros para a superfície e, até agora, não há evidências dignas de nota. O terceiro carro não pode ser trazido, porque ele já está completamente degradado. Se encostar ele desmonta. Mesmo assim, Rusty permanece otimista e afirmou em um vídeo que gravou para o grupo do Facebook que tem um “palpite” sobre quem pode estar envolvido. Ele afirmou que a pessoa responsável pela morte das meninas morava a menos de dez quilômetros de onde as garotas desapareceram e que um veículo dessa pessoa também desapareceu naquela época.
Pelo que eu investiguei e conversei com moradores locais de Fort Worth da época dos desaparecimentos, os boatos na região eram de que um dos carros de Tommy Trlica havia sumido e ele não havia dado queixa na polícia nem nada parecido.
Tommy Trlica
Pra você entender melhor, o pai de Rachel, Rusty e Debra, chamado Cotton, tinha uma oficina mecânica. E na época em que Tommy e Rachel se casaram, Cotton estava falido e a ponto de perder sua oficina porque sonegava os impostos, além de cometer pequenos crimes e se envolver com indivíduos de caráter suspeito. Tommy então deu 20 mil dólares ao sogro para salvar a empresa e se tornou um dos sócios.
Você se pergunta: nossa, como um rapaz de 22 anos tinha esse dinheiro todo? Em que ele trabalhava? Ele não trabalhava! Os pais dele morreram em 1973 e ele herdou todos os bens e todo o dinheiro dos pais. Não era tanta coisa assim, mas foi o suficiente para ajudar a família de Rachel. Um dos bens que o pai de Tommy deixou para ele era um carro. Tommy já tinha o próprio carro, que ele ganhou dos pais ao terminar a escola. E ficou com dois carros após os pais morrerem. É esse carro, que pertenceu ao pai dele, que moradores locais afirmam ter sumido na mesma época dos desaparecimentos.
Tommy trabalhava na loja / oficina de Cotton, e inclusive estava tocando o negócio enquanto ele tratava o câncer. Em nossa conversa Tommy me contou que ficou lá o dia todo e depois foi para o encontro da sua liga de boliche semanal. Foi lá no boliche (que por sinal também é bem perto do lago) que ele foi contatado por telefone, às 20:30. Ele então ligou para Debra em sua casa e pediu que ela o buscasse no boliche para que eles pudessem ir ao shopping se juntar aos outros.
Quando nos falamos, Tommy parecia mais honesto e mais aberto do que os outros membros da família de Rachel. Ele disse que eles só tinham um carro e era o carro que estava com Rachel. Tommy me contou que a esposa o levou para o trabalho naquela manhã, e que não sabia que havia algo de errado até que a mãe de Rachel ligou para ele no boliche. Mais tarde ele soube que o carro foi encontrado por volta das 18 horas e que a polícia só apareceu por volta das 11 horas da noite para investigar.
Ele também me disse que por ele trabalhar na oficina do sogro ele tinha acesso a diversos carros, mas que ele próprio não possuía dois veículos. Quando ele herdou o carro dos pais ele já tinha o Oldsmobile, por isso não ficou com o outro carro para ele. Mas Tommy não se lembra se vendeu o carro dos pais ou se tirou peças para usar na oficina.
O álibi de Tommy
Outra coisa que me deixou intrigada nessa história toda é o álibi de Tommy. Ou melhor, a procedência dele. Ele afirma que passou o dia na oficina e que a mãe de Rachel pode confirmar isso. Mas Debra tem certeza que sua mãe não foi na oficina aquele dia. Ela ficou com Cotton, que não estava bem, e depois passou a tarde no telefone ligando para as lojas do shopping atrás da filha.
Eu questionei Tommy a respeito disso e ele contou que falou com Fran e seu marido pelo telefone da oficina várias vezes aquele dia, e que como naquela época só existia telefone fixo ele não poderia estar mentindo e falando de outro lugar. Isso tudo segundo o próprio Tommy, é claro, porque é lógico que ele pode ter ligado de qualquer outro telefone para a casa dos sogros se não tinha ninguém lá na oficina com ele para comprovar que ele passou o dia trabalhando.
O mais bizarro é que nos relatórios da polícia que eu encontrei Fran disse para os policiais que esteve com Tommy na loja e que tinha certeza que ele não tinha saído de lá e que não poderia ter nada a ver com os desaparecimentos. Como ela pode afirmar isso com tanta certeza? Por que ela mentiria para a polícia?
Tommy não sabe a resposta para essa pergunta. E Fran, segundo Debra, não se lembra mais disso. O que ela se lembra é que Tommy salvou a oficina da família da falência ao se casar com Rachel, entrar de sócio e pagar a dívida de vinte mil dólares que Cotton tinha contraído. Essa resposta me deixou muito desconfiada e sem saber direito o que pensar.
A falta de cuidado com o carro e a cena de crime
O oficial da polícia que conversou com o Tommy naquela noite mandou ele deixar o carro no local, caso as meninas voltassem. Ele foi mandado para casa para esperar ao lado do telefone. No dia seguinte a tarde, a polícia ligou para Tommy e disse que ele podia ir para o estacionamento e levar o carro de volta para casa.
Tommy me disse que ficou incomodado, porque eles não haviam sequer examinado o carro. Só presumiram que o carro ficou lá desde que elas chegaram no shopping e que ninguém havia entrado ou mexido nele e em seu conteúdo. Na verdade, investigando antigas notícias, eu percebi que o carro realmente ficou no estacionamento totalmente sem vigilância, com apenas um segurança do shopping rondando próximo ao carro. Nenhuma fita policial isolou a área e as câmeras dos jornalistas mostraram o carro, e se aproximaram das janelas, filmando aquele único presente de Natal embrulhado caído no chão do lado do passageiro. Não havia nenhum policial cuidando da cena do crime, e nenhuma preservação.
O pai de Renée e seu amigo foram as únicas pessoas que ficaram de vigilância na cena do crime na noite dos desaparecimentos. Armados até os dentes e escondidos, de tocaia. É muito bizarro pensar que essa foi a única proteção que o carro e a cena receberam.
Tommy disse que estava inicialmente confiante de que as meninas seriam encontradas nos primeiros dias do desaparecimento. Ele ofereceu uma recompensa de US $ 2.000 e esperou que Rachel voltasse para casa. Depois de cerca de um ano, ele deixou Fort Worth, se casou novamente e se tornou supervisor em uma empresa de água do Texas. Ele viveu uma vida tranquila, o que talvez seja a melhor coisa que uma pessoa poderia pedir nessas circunstâncias.
A minha teoria
Eu não acredito que Rachel está viva e visita a cidade no natal. E também não sei se eu acredito que Tommy tenha algo a ver com os desaparecimentos. Mas eu encontrei um possível suspeito, que me parece bastante provável. Seu nome é Mike Debardeleben e ele é um serial killer nascido e criado em Fort Worth. Seus pais moravam não muito longe do shopping e ele pode ter sido o responsável por alguns outros desaparecimentos na cidade.
É praticamente certo que Mike estava em Fort Worth na época do desaparecimento, porque ele sua mãe estava com câncer e ele veio para a cidade cuidar dela na primavera de 74. O mais provável na verdade é que ele tenha apressado a morte da mãe por negligência. A gente sabe que não dá certo deixar um serial killer cuidando da mãe, vide Norman Bates. Pelo menos quem viu Psicose sabe disso.
Mike Debardeleben era conhecido por sequestrar e torturar algumas de suas vítimas e manteve pelo menos uma mulher presa no sótão da casa de sua mãe em 1974, segundo sua esposa Carol Miller. Ele se casou com pelo menos 4 mulheres e espancou tanto duas delas, que elas acabaram concordando em ajudar Mike a cometer seus crimes.
Ele acabou sendo pego, mas não pelos assassinatos. Ele foi pego imprimindo dinheiro falso pelos federais. Quando o FBI abriu um depósito onde ficava sua impressora, descobriram que ele também era um assassino em série, e um sádico sexual. Ele gravou vários de seus crimes contra diversas mulheres e tirou fotos de si mesmo no ato.
E o mais “interessante” é que ele adorava cometer crimes em shoppings lotados. Ele se fazia passar por policial ou jornalista para coagir meninas a entrarem em seu carro. Ele as sequestrava e as levava para lugares remotos, abusava e assassinava. O que não faz muito sentido nessa teoria delas terem sido sequestradas e mortas por Mike é a carta. Por que ele mandaria aquela carta?
Eu descobri através de uma entrevista da Carol que, caso ele realmente seja o responsável pelos desaparecimentos / assassinatos das meninas, essa não seria a primeira vez que ele mandou uma carta para a família das vítimas. Eu não sei o conteúdo dessa carta que ele havia mandado para a família de sua vítima, não sei se tinha o mesmo teor da carta de Rachel, mas essa não seria a primeira vez que ele faria isso. Ele obrigou a vítima a escrever a carta.
Conclusão
Eu não sei se o Mike foi investigado pela polícia sobre esse desaparecimento específico, mas é fato que ele estava lá na cidade quando aconteceu. Só isso já vale uma investigação aprofundada.
A gente sabe o Modus Operandi do Mike, sabe que é muito parecido com o que nós imaginamos que aconteceu com as meninas, com a forma como elas desapareceram. Nós também sabemos que elas não sairiam do shopping com um desconhecido, ainda mais que Renée tinha uma festa para ir. Eu queria muito que Mike fosse investigado, caso ainda não tenha sido.
Uma das únicas coisas de que eu tenho certeza nesse caso é que tudo gira em torno de Rachel Trlica e de sua família. Todas as suspeitas e as histórias e boatos estranhos são relacionadas à família dela. Não existem tantos desencontros de informações e rumores sobre as famílias de Renée e Julie. Rachel é a chave desse caso e desse mistério.
Muitos dos membros das famílias de Rachel, Renée e Julie já morreram desde seus desaparecimentos em 1974. Cabe às gerações mais novas tentar desvendar o mistério e continuar a busca por justiça.
Referências:
Fort Worth Star Telegram
Missing Trio
Websleuths
Facebook
Reddit
NBC
Medium
Murders and Coffee
True Crime Society
Fort Worth Architecture